12 de outubro de 2011

01 ano

Esse é um post de comemoração e de despedida.

Hoje fazemos um ano aqui. Há um ano chegamos cheios de desejos que fomos aos poucos os colocando em prática. Fomos caminhando lentamente numas coisas, exageradamente rápido em outras, e assim fomos indo. Parece que agora, um ano depois, chegamos num equilíbrio entre o que foi lento e o que foi rápido, tá tudo no mesmo ponto agora.

Nesse ano tivemos a oportunidade de conhecer gente das mais diversas nacionalidades, desejos e personalidades. Pudemos passear dentro do possível. Estudamos muito e descobrimos mais coisas que não sabemos. Passamos a entender um pouco mais o montréalais, que é diferente do quebecois, que é diferente do canadense.

Decepções? Hmmmm... Talvez confirmações. Confirmamos o que vinhamos desconfiando. Apesar de ser um povo que decidiu romper sua base com a igreja católica, tem só 40 anos essa ruptura, e uma base cultural tão estruturada não se desfaz com tanta facilidade.

Alegrias? Muitas, principalmente por termos conseguido vencer esse primeiro impasse que é o estudo. Não se trata só da língua, mas da metodologia e do ponto de vista. 

Saudades do Brasil? Não, mas da família sim, claro. Saudades intensas? Não vamos exagerar, né?! :p

O Québec é nosso país definitivo? Não faço idéia! *rindo*

Bom, mas nem só de bilan vive esse post! Ele é também um post de despedida. Não escrevo aqui há tanto tempo que nem sei se alguém ainda terá vontade de ler algo. 

Trata-se de uma despedida porque a vida mudou tanto que o blog perdeu seu sentido. Quem sabe um outro, com novos personagens: esquilinhos saltando e roubando abóboras nas varandas decoradas pro halloween?  Quem sabe! :p

Beijos, obrigada pela compania nessa jornada, foi ótimo debater aqui, foi maravilhoso como me irritei e ri e cantei lendo e escrevendo nesse blog! Merci à tous!

Bisous,
Alice, Gato, Ornitorrinco e Selma



3 de agosto de 2011

Ciclovias e divisão social

Andar nas ciclovias da cidade tem nos mostrado melhor as divisões sociais que ela tem.

De uma forma geral, Montréal tem muitas ciclovias e, no Québec inteiro tem a Route Verte, que tem estrutura pros ciclistas cruzarem a província de vélo.

As ciclovias em Montréal são divididas em escalas:
  •  Tem a fodona, que é separada dos carros, tem sinalização específica, o asfalto costuma ser bom... 
  • Tem um outro tipo que não tem separação física da rua, mas sim uma pintura que marca a ciclovia. Essa geralmente é mão única e divide o espaço com os pontos de ônibus. O asfalto varia bastante.
  • Tem as ruas que são partagés entre os carros e as vélos. Geralmente tem uma placa de sinalização que avisa isso, além de uma pintura no asfalto, com o desenho de uma bicicleta. Aí é ter atenção, mas funciona muito bem.
  • Por último, tem as ruas que não tem espeço previsto pras vélos, mas elas andam lá mesmo assim...
Mas, o que tem me impressionado é a diferença da qualidade no asfalto, de acordo com o bairro em que se passe. Essa mudança de asfalto mostra bem a divisão social e o cuidado que a prefeitura tem com isso.

Um ótimo exemplo é sair de outremont, passar por Côte-des-Neiges (CDN) e depois chegar em Notre-Dame-de Grâce (NDG). CDN e NDG fazem parte do mesmo arrondissement, o que significa que possuem a mesma administração regional, supostamente, o mesmo cuidado público. PORÉM, quando você está na ciclovia em CDN (pelo menos a parte que eu andei, veja bem), é tudo esburacado, tem que andar com o bumbum pra cima pra não machucar. Aí, de repente, você atravessa uma rua e tudo começa a ficar bom, o asfalto fica lisiiiinho... Aí você está em NDG.

A diferença entre os dois bairros não está, obviamente, só nas ciclovias. CDN é um bairro super multicultural, de uma população mais pobre. É francófono. É o bairro onde fica a Université de Montréal, por isso tem também muitos estudantes. Já NDG é um bairro bemmm familiar, voltado pra Westmount, com uma maioria de anglófonos gritante. Em NDG tem muita escola particular, várias exclusivamente anglófonas. Por quê juntaram esses dois bairros num único arrondissement não me pergunte, mas o fato é que eles são unidos administrativamente e, no tentanto, recebem atenção bemmmm diferente do poder público.

Um outro exemplo interessante é o arrondissement de Hochelaga-Maisonneuve. Saindo do Plateau, entramos em Ville-Marie e pegamos a Route Verte em direção à Hochelaga-Maisonneuve. Tudo lindo e maravilhoso até que, de repente, você começa a ver a grama suja, com lixo jogado. A paisagem muda radicalmente, você começa a ver fábricas... Aí você sabe que chegou em Hochelaga. Claro que trata-se da borda do bairro, nem vou entrar nessa discussão, mas o que me impressionou foi a diferença de limpeza, suponho que isso mostre a diferença de frequencia em que o poder público envia o serviço de limpeza. É curioso porque a ciclovia é ótima, rodeada de graminhas bem aparadas e árvores que dão uma sombra providencial.

Pra finalizar, tem ainda a Île des Soeurs. Trata-se de um bairro de classe alta, isoladinho por ser uma ilha que não é caminho pra cando nenhum. Lá o asfalto é péssimo, mas além de ter bastante ciclovia, os carros andam extremamente cautelosos, o que permite ao ciclista, ou ao pedestre, a andar tranquilamente sobre as ruas silenciosas. O que é interessante é que esse bairro faz parte do arrondissement de Verdun, que não é tão rico, mas o asfalto e de melhor qualidade. Seria uma prioridade nas ruas mais movimentadas?

Enfim, tudo isso pra dizer que estou ainda tentando entender os códigos daqui. Não dá pra transferir nossos códigos e achar que é a mesma coisa, mas dá pra ficar exercitando a mente até encontrar pontos de ligação.

Bisous,
Alice


1 de agosto de 2011

Eu amo Montréal, de vélo!

É engraçado que não posso escrever um post sobre coisas negativas que logo vem pessoas tensas reclamar. Acho que tá todo mundo tão motivado com o lance da imigração, de achar um lugar melhor pra viver, etc, que falar mal de qualquer coisa vira logo uma tensão... ehehehe

Então esse post é o oposto do anterior, é sobre o que eu gosto nessa época do ano! *rindo*

Há anos eu desisti de andar de bicicleta porque tinha medo. Já fui assaltada enquanto andava de bicicleta! Um amigo do meu pai já foi atropelado e morto... Enfim, andar de bicicleta no Brasil é um  risco que resolvi não correr. MAS, EU NÃO MORO MAIS NO BRASILLLL!!! *rindo*

Basicamente, nossas férias estão baseadas na idéia de andar de vélo. Esse mês não compraremos passe de transporte público e, de preferencia, ficaremos sem ele até o meio de novembro, que é quando fecham as ciclovias.

Temos o cartão anual da Bixi, mas ela simplemente não estava nos atendendo. É uma ótima bicicleta e recomendo. Mas tem que ver a sua rotina. A Bixi é uma bicicleta de ótima qualidade, que custa  cerca de 2400 dólares. Cada pessoa paga pra andar uma vez, um dia ou o ano todo. A chave anual custa 70 dólares. Com essa chave você pega a Bixi em algum dos milhares de pontos da cidade, anda até 45 minutos e depois devolve. 45 minutos em Montréal dá pra cruzar boa parte da cidade (+ ou - do Plateau à NDG).

O que rola é que as pessoas pegam a Bixi e vão trabalhar ou estudar. Tudo perfeito. Acontece que, no meu caso, eu estudo fora do horário padrão e, quando saio da aula às 22hs não tem mais nenhuma bicicleta dando sopa. Ando, ando e ando... Uns 5 pontos depois eu acho alguma, mas aí já estou quase em casa e bem irritada.

Além disso, pra passeios mais longos ela não serve e, como a idéia é passear muito...

Recentemente compramos nossas bicicletas. Começamos uma busca interessante atrás da bicicleta ideal pra nós no momento. Ela não poderia ser cara, mas teria que ter algum conforto pra podermos ficar andando muito tempo, especialmente boas marchas e, pra mim, selim feminino. Aqui o preço pode variar entre 60 e 4000 dólares, dependento do lugar de venda e da qualidade da vélo (cuidado com vélos roubadas!).

Bom, encontramos um lugar que nos deixou extremamente satisfeitos, a SOS Vélo. Trata-se de uma ONG que restaura bicicletas usadas, pega peças boas de bicicletas detonadas e monta uma boa ou, pega só os corpos de alumínio e preenche com peças novas. A idéia da ONG é fornecer bicicletas boas a preços acessíveis, retirar das ruas as bicicletas abandonadas e dar um novo uso a elas e, principalmente, treinar pessoas sem profissão pro metier de manutenção e montagem de bicicletas. 

Compramos com eles a nossa veló. Nossa bicicleta tem um número de série registrado, pra em caso de roubo podermos denunciar. Além disso, como compramos uma vélo feita por eles, temos direto a uma manutençao anual por 30 dólares. Assim nós garantimos a manutenção da vélo e eles garantem clientes pras pessoas formadas ali. Enfim, fica a dica! :)

E assim começamos nossas férias-vélo. Primeiro pegamos a Bixi pra ir até a SOS Vélo, que daqui de casa fica a uns 8km. Já com as bichinhas novas e fofas, voltamos por um outro caminho, testando.

Depois disso fizemos alguns poucos passeios porque estamos deixando o corpo se recuperar, pra ir entrando em forma. 

Primeiro fomos ao Marché Jean Talon (uns 6km), depois fomos pra NDG (uns 9km) e, ontem fomos pra Ile des Soeurs (uns 17km). Cada vez aumentamos um pouco o desafio, a musculatura da perna vai se fortalecendo e o fôlego vai ficando maior. :)

O passeio pra Ile des Soeurs é incrivelmente lindo, vale MUITO à pena!!!!

Põe no maps: Plateau - Île Sainte Héléne - Île Notre-Dame - Île des Soeurs.

Pra chegar na Île Sainte Héléne tem que passar pela Pont Jacques-Cartier e isso foi bem complexo pra mim. Primeiro que é um ladeirão pra subir e depois porque eu morro de medo de altura, então fiquei lá em cima na maior tensão. Mas valeu MUITO à pena pelo passeio na ilha. 

Na Île Notre-Dame tem o Circuite Gilles Villeneuve, que é o circuito da formula 1 que fica aberto pros ciclistas e patinadores de plantão. É uma delícia andar nele porque a pista é bemmm lisinha. 

De lá pra Île des Soeurs, a gente passa sob a Pont Victoria e fica num caminho LINDO, que não passa carros e nem é asfaltado, que divide o Fleuve Saint Laurent com o Canal de la Rive Sud. Nesse caminho passamos também sob a Pont Champlain (cuidado pra ela não cair quando você estiver passando! *rindo), e depois subimos na Estacade (ponte feita pra quebrar/organizar o gelo antes dele passar pela Pont Champlain e que funciona como ponte de pedestres e ciclistas). É lindo ver Montréal da Estacade!

Depois da Estacade chegamos na Île des Soeurs. Na ilha é delicioso andar de bicicleta, silencioso, calmo. Tem um parque no final da ilha que não pode entrar de vélo, mas é bem legal de ir. Basicamente é uma área de proteção ambinetal, com floresta, laguinho... lindo. Depois de descansar, voltamos pelo Canal de Lachine.

Esse percurso até a Ile des Soeurs, mesmo sendo só 17km, fizemos em 2h20. Fomos parando, tirando fotos, bebendo água, olhando a paisagem... Ou seja, dá perfeitamente pra ir, curtir e depois voltar. Na volta, fomos pelo Canal de Lachine, o que reduziu o circuito pra 9km e 1 hora de passeio.

A gente sonhava com esse passeio desde o Brasil. Ficávamos no maps olhando as imagens lindas que ele tem, pensando se um dia conseguiríamos ir lá... É muito gostoso ir realizando esses pequenos desejos e sonhos, que não tem a ver com as coisas grandes da vida, mas com os pequenos prazeres que dão sabor em tudo. :)

Bisous,
Alice

30 de julho de 2011

Eu odeio Montréal, no verão

Eu odeio Montréal no verão. Odeio gente feliz porque tá quente. Odeio que está quente e o sol queima. Odeio o fato desse povo não ter nenhuma intimidade com o calor, então tudo fica um pouco pior: 
  • Eles não sabem fazer um bom café gelado. Geralmente são ruins, aliás, bebidas geladas geralmente são piores que as quentes;
  • As pessoas fedem MUITO. No inverno tem o povo que fede, mas no verão é o TERROR! É quase impossível andar na rua e não sentir aquele cheirinho...
  • O que nos leva ao ponto seguinte: eles não entendem a diferença de higiene do inverno e do verão, logo, trocam de roupa na mesma quantidade que trocavam no inverno, as lavam na mesma frequencia, tomam banho na mesma quantidade. O resultado só pode ser o fedor humano reinando nas ruas...
  • As moças, tão bonitinhas, arrumadinhas, com vestidos floridos... E com o pé de fora com unhas sinistramente não-feitas, meio pretinhas até. Andando como se ainda estivessem com mega botas rompendo 30cm de neve, parecendo uns soldadinhos. Não tem a menor condiçao de lidar com vestidos sem calça por baixo, ficando frequentemente com o bumbum de fora porque a bolsa puxou a saia e elas não viram, ou ainda mostrando até a alma porque sentam de perna aberta...
  • Os moços, tão malhados e produzidos, andando por aí com um fedor insuportável, com calças que precisam desesperadamente de uma máquina de lavar, e sentando em qualquer calçada imunda...
  • Alias, todos mundo tá sentando em qualquer canto, comemorando a vida ao ar-livre, torrando a paciencia de nós, velhos e chatos, que queremos um pouco do silêncio invernal.
  • E ainda tem os músicos de verão! Meu deus, quem deixou esse povo arrumar instrumentos? Sério, a neve vai saindo e os violões começam a "se afinar" nos apartamentos, quando o verão "finalmente" brota, todos vão pras ruas, munidos de seus violões, guitarras e instrumentos de percussão... todos se juntam na rua "pra fazer um som". Alguém explica pra eles que uma música precisa de alguma melodia???
  • Ah! E ainda tem as moças felizes que ficam gargalhando pelas ruas. São gritos altos e estridentes. No começo eu me assustava, achava que a moça tava sendo estuprada, sei lá. Agora descobri que é falta de noção mesmo, é não saber rir...
  • Ah, e os festivais? Sim, tem uns legais, mas pra quem cresceu com Chico Anísio na televisão, ter que ficar passando pelo Juste pour rire é quase uma tortura. Basicamente é a mesma coisa da Escolinha do professor sei lá quem... Sério, nunca entendi essas piadas. Aliás, nunca entendo piadas...
Por essas e outras razões, estou aguardando ansiosamente o outono chegar. As férias terminarão, o calor vai embora, as cores vivas sumirão e virá o lindo avermelhado outonal, as pessoas ficarão menos eufóricas e suas gargalhadas serão mais contidas... *sonhando*

26 de julho de 2011

As férias começaram!!!!!

TO DE FÉRIASSS!!!!!!!!!

Ainda não tenho um desfecho pro causo da professora bisonha. Ela me deu a nota da redação, mas me tirou meio ponto por ter sido sobre alguém que eu não conhecia. Detalhe: escrevi sobre a minha avó! Como ela não conhece pessas tão interessantes como a vovó, ninguém mais deve conhecer, né? Logo, a vovó não é minha avó! Enfim, vamos ver o resultado quando chegar a nota, aí decidirei que atitude tomar. Depois eu conto como foi... ehehehe

As férias começaram lindamente! O canicule maldito se foi e a temperatura está respirável. Antes tava difícil, mas agora tá ok. Isso, claro, com nosso amado ar-condicionado ligado, pra tirar a umidade e reduzir uns 2 graus. :)

Os planos de férias são: dormir até a hora que o corpo mandar, andar de bicicleta, tomar cervejinha gelada ou limonade maison, e arrumar o apê pro próximo ano letivo que está chegando.

Falando em ano letivo, vamos à uma pequena análise de como foi esse ano que passou:

Como todos sabem, eu tenho prêt et bourse, o que me exige cursar ao menos 4 disciplinas por trimestre. Em janeiro comecei e achei que 4 disciplinas não era assim taaannnttaaaa coisa, cheguei a me inscrever em 5 mas, me desaconselharam tanto que recuei.

De fato, 4 disciplinas é o limite da minha capacidade. Isso porque cada hora de aula equivalem a 3 horas em casa. O que resulta em 12 horas de aula + 36 em casa = 48 horas de estudo por semana. Isso SE eu fosse francófona, né! Mas como não sou, pode dobrar meu tempo de dedicação. Ainda mais nos primeiros meses!

O desafio de escrever numa outra língua pode ser enorme, principalmente se você gosta de escrever na sua língua original, como é meu caso. Eu sou cheia de vícios de linguagem, cheia de erros que cometo em português... Mas escrever em francês me desafia porque tenho que esquecer toda a base de composicão da frase e recomeçar.

A maior parte dos cursos de francês nos ensinam a conjugar o verbo, a falarmos com as pessoas... Mas construir um texto em francês é OUTRA coisa. Se você constrói a frase como faz em português, terá uma grande chance de não ser compreendida... Daí a razão pela qual escolhi fazer uma eletiva em francês escrito. ;)

O intensivão de leituras e trabalhos à entregar que as disciplinas nos exigem, faz com que a curva de aprendizado fique bastante acentuada. Lembro da primeira prova que fiz, foi desesperador ver minha própria incapacidade de comunicação (e eu ainda estava sem dicionário!!!)! Agora faço as provas bem zen, só me preocupo com o conteúdo, porque a maneira de apresentá-lo já está mais naturalizada.

Quando o trimestre de inverno terminou, eu só sonhava com a férias. Fiquei feliz pra caramba com meus 10 dias de férias que me permitiram dormir à vontade... eheheh

No trimestre da primavera (primavera/verão), muita gente sai do país, vai viajar, ver família, pegar carona na Europa... Outros ficam trabalhando e fazendo uma disciplina, no máximo duas. Eu, que preciso de bolsa pra viver, tinha que fazer 4. Achei que seria relativamente tranquilo, porque elas não começavam ao mesmo tempo, então daria pra ir administrando.

Bom, daria SE meus amados pais não resolvessem aparecer NO MEIO do trimestre: "não se preocupa conosco, querida, a gente não fala inglês ou francês, não conhecemos a cidade, mas ficaremos suuuuper bem andando por aí." LÓGICO que eu não os deixei soltos por aí, até porque tava com saudades! Bom, isso me dificultou bastante, mas rolou no final...

Agora que terminou e terei um mês inteiro de férias, to aqui repensando como foi esse período. Cara, eu to MUITO feliz. Nunca me desafiei tanto, nunca me vi crescendo dessa maneira. É fantástico conseguir se assistir evoluindo. Geralmente a vida vai num ritmo normal, e a gente vai crescendo sem sentir. Mas esse intensivão me deu a possibilidade de me superar, de ultrapassar meus limites, de desejar mais e mais.

O que posso dizer a quem pensa em vir e começar a vida estudando? Venha e faça! Reserva alguma energia antes de vir, fica de bem com a vida, vai estudando seu assunto. Depois mete as caras, vira amiga do pessoal da biblioteca porque eles são legais, mora lá. Pronto.

Esse é o tipo do conselho que o Gato depois vai me repreender (rindo). Ele diz que fico estimulando as pessoas e depois, se der errado, vira minha culpa. Mas aconselho mesmo assim: venha, faça, viva. 

Dar errado, ou não, é uma questão de ponto de vista.  Eu tava preparada pra me estrupiar nas primeiras disciplinas que fizesse, é bom se preparar pra isso. Até agora passei em todas, mas comecei tirando notas baixas e fui aumentando conforme meu francês e minha compreensão da maneira quebeca de pensar foram melhorando. Comecei recebendo um belo B- na cara, mas fiquei feliz porque fui capaz de tirar B- numa disciplina que é difícil pra caramba, e ainda foi a minha primeiríssima! Depois dela tirei B, depois B+, depois A-... Espero conseguir um A em alguma das disciplinas que ainda não recebi a nota! *rindo*  Mas quero esse A não pela nota em si, mas pra confirmar aquilo que eu sinto, que to cada vez mais melhorando. ;)

Enfim, mais um post gigante! Não sei como alguém lê até aqui!!! *rindo*

Bisous,
Alice

21 de julho de 2011

Antes das férias, desabafo cansado

Hoje estou exausta e perplexa, me deparei com uma situação que nunca vivi e não pretendia viver jamais na vida.

Lembra que ontem eu esta empolgada porque estava escrevendo um texto pra aula de francês escrito? Pois é, comecei às 12h30, parei pra escrever aqui uns 20 minutos, aí a biblioteca fechou as 17h. Fui pra casa, dormi uma hora e voltei a trabalhar no texto... Parei de escrever, contente com o resultado, às 23h30. Foram umas 8h30 de trabalho, escrevendo, reescrevendo, revendo, lambendo o texto. Teve um momento que vi que estava me superando, que estava ficando bom, com cara de francófono, fiquei orgulhosa de mim.

Muito bem, muito bom. Entreguei o texto e, ao final da aula, fui convocada, junto com um monte de aluno bisonho que não vai na aula e não faz os exercícios. Simplesmente, a professora nos acusava, a todos, de termos plagiado o texto! Eu, que passei 8h30 trabalhando, que melhorei, que me superei, porque havia escrito um texto excelente, só poderia ter plagiado!

Eu to TÃO chateada, magoada, me sentindo humilhada, sacaneada, desrespeitada! Sério, então eu me supero, faço um texto que, segundo ela, "deve ter sido escrito por uma professora de francês", e o que recebo como recompensa? Um lindo A e um "Bravo!" ? Não! Sou acusada de não ser capaz de fazê-lo e de ter pedido pra outrem escrever. SERIO???!!!!

Eu, que tenho medo até de colar em prova que o professor sai da sala e nego taca bolinha de papel com o resultado de um canto pro outro; eu, que estudo feito uma filha da puta pra tentar me superar; eu, que adoro escrever; eu, que ESCOLHI fazer essa disciplina, porque ela NÃO está sequer no meu currículo; EU sou acusada de PLAGIAT????!!!!!!!!

Depois de toda uma confusão, bate-boca entre alunos e a professora, latinas chorando e se lamentando, gente indo embora batendo a porta... Fui pro banheiro e chorei, liguei pro Gato e chorei. Quando estava saindo (e ele indo correndo me buscar pra me proteger desse mundo doido), me deparei com a professora sozinha. Respirei, enxuguei as lágrimas e fui falar com ela.

Eu disse: "A senhora sabe que sou dedicada, que tenho boas notas, que não sou como alguns alunos que estavam aqui hoje. Não entendo ser acusada de plágio, nunca passei por isso". Ela respondeu que não acha que eu plagiei, mas que alguém corrigiu meu texto, porque está excessivamente bem escrito, que não é do nível da turma. Então expliquei que fiz meu teste de nívelamento em janeiro, de lá pra cá fiz 7 matérias, com trabalhos de 40 páginas... que desenvolvi um método de correção e melhoria dos meus textos, blá, blá, blá. Ela disse: Ah bom, não sabia disso e não tinha como saber. E só aí ela se desarmou.

PORRA, por que não chamou aluno por aluno, pra saber cada caso? Por que não me tratou diferente se, segundo ela, sou uma boa aluna? NÃO, isso não é uma postura aceitável!

Enfim, amanhã tenho minha prova final. Ela disse que olhará nossos textos na prova final e então avaliará o que fará. Pode?! Tive 8h30 pra fazer aquela redação, não se pode esperar a mesma qualidade numa redação feita em 2 horas!

Enfim, mais um daqueles desabafos que não acrescentam nada à ninguém, mas que me fazem gastar o que me desgasta.

Aprendizado do dia? Nunca se supere! :/

Au revoir, bisous, à plus tard...

 

20 de julho de 2011

Alice não morreu, virou purpurina

E num longo suspiro, saído d'uma jornada profunda, eis que renasce Alice!

O transe foi longo e prazeroso: o inverno, os estudos, os amigos. Mais eis que chega o verão e com ele o calor, pessoas felizes, gente na rua... o horror, o horror! E Alice desperta de seu sono profundo, desperta num grito, num pesadelo onde só o ar-condicionado pode fornecer a solução. Estaria ela novamente em terras cariocas? AAHHHHHHHHHH

Acordando enquanto planeja suas férias, Alice repensa esse período de vida silenciosa em Montréal. Até aqui tudo funcionou como planejado: muito estudo, alguns amigos de várias nacionalidades, nada de churrasquito brasileiro, mais estudo, bons passeios. Se não fosse pelo calor, ela até poderia dizer que a vida estava perfeita. 

No quesito estudo, onde basicamente se concentra sua vida, ela avalia que as coisas se saíram melhor que o esperado. O francês é um desafio cada vez mais fácil de transpor (mesmo ela sabendo que ainda falta MUITO pra ser fluente como deseja). Os cursos são pesados, exigentes, com bons professores e alguns ruins, os colegas de turma são interessantes. A universidade é excelente e a biblioteca a atende perfeitamente.

Mas Alice se preocupa com os estudos. Pra se manter na linha, com boas notas e bolsa, ela tem que manter uma média de 4 disciplinas por trimestre (incluindo o trimestre de verão, que é condensado), o que significa não ter tempo pra quase nada. E assim passou o Festival Francofolie, o Festival de Jazz, o Juste pour Rire... E passarão outros festivais e coisas mega legais. Por que ela faz isso? Porque ela gosta! *rindo*

Alice pensa no Gato, se preocupa com ele, sonha com ele, o ama. Mas ele vai muito bem, obrigada. Ele está encaminhando a própria vida, arrumando suas coisas, aprendendo e aprendendo. Por vezes os dois se estranharam, mas era tensão com o calor chegando: ar-condicionado no máximo e problemas resolvidos. Curioso casal, não?

Os planos das merecidas férias não saem da mente, nem na hora de fazer as redações que as aulas de francês escrito exigem. A redação que ela deve escrever no momento é do tipo narrativa, daí o leitor pode compreender o tipo de post que está lendo... 

As férias! Um mês inteiro pra dormir até mais tarde, andar de bicicleta, ver paisagens lindas, arrumar o apê novo (sim, Alice se mudou), ler os livros atrasados, arrumar documentos, buscar estágio... Acho que Alice não terá tempo pra tudo que planeja, mas veremos nos capítulos seguintes dessa história.

Agora é hora d'Alice voltar ao seu sono profundo e terminar os trabalhos que ainda restam pra poder entrar de férias.

Au revoir.

2 de maio de 2011

Eleições - primeiras impressões

Eu passei todo o período eleitoral tentando entender como isso funcionava, quem eram as pessoas, como a eleição é, como as pessoas são de fato eleitas. É tudo completamente diferente da eleição brasileira, então demorou um pouco, ou muito, pra eu entender.

Hoje estou na frente da televisão desde às 21hs acompanhando o final da eleição, as análises políticas, a dinâmica eleitoral e o resultado.

Depois farei um outro post mais concentrada, com algumas fotos das propagandas que eu fui registrando nesse mês eleitoral.

É um enorme prazer estar acompanhando um momento histórico de chez nous, não só por ser uma eleição, mas por ser A eleição, que mudou radicalmente as disputas políticas no país, com record de votantes.

O Canadá vem de um governo conservador, mas tem uns 25 anos que eles não conseguiam fazer um governo majoritário. Hoje eles conseguiram, e com folga. Pra ser majoritário o Harper precisava de 155 cadeiras e ele conquistou 163. Basicamente, quem garantiu isso foram os imigrantes de Toronto, que tradicionalmente votavam pelos Liberais, mas agora migraram de vez pros Conservadores.

Outra mudanca, a mais importante, é que o Patido Liberal e o Bloco Quebecois simplesmente sumiram, desapareceram, foram exterminados. O Bloco só conseguiu 3 cadeiras e o Liberal 35. Isso tudo porque o quebecois decidiu que não quer mais o mesmo e escolheu uma mudança.

Essa mudança se chama NDD e estava me deixando muito confusa. Os jornais nas últimas duas semanas começaram a falar muito de como o NPD (Novo Partido Democrático) não teria condições de governar, que fazia mais promessas do que seria capaz de bancar.

Bom, o fato é que o NPD fez 103 cadeiras e virou o maior partido de oposição do Canadá. E o interessante é que esse partido é de esquerda, são sociais-democratas, socialistas, membros da Internacional Socialista.

Então agora assistiremos por aqui uma disputa política muito interessante: direita majoritária contra esquerda vitoriosa. Acho que será interessante assistir esses debates. Digo esquerda vitoriosa porque eles nunca tiveram tanto espaço, tanto voto, tantas cadeiras.

A maioria dos eleitos do NPD são jovens, uma parte até meio descomprometida, mas que foram eleitos por causa dessa "vague orange" (expressão que os jornalistas tem usado, porque a cor do NPD é laranja) que tomou o Québec e molhou o Canadá inteiro.

Enfim, vou dormir e amanhã escrevo mais sobre o tema. Os números ainda tem algumas imprecisões porque os votos ainda não terminaram de ser contados, mas o cenário não muda mais:

1- A direita reinará absoluta nos próximos anos;
2- A esquerda terá muita voz;
3- O Québec renegou sua faceta separatista e escolheu ser uma província canadense de esquerda.

Bisous,
Alice

28 de abril de 2011

Amores partidos

Esse é um daqueles posts que nada tem a ver com coisa alguma, é só um desabafo pessoal de uma mulher maluca. Ou seja, pulem a leitura! :p

Acordei hoje com um e-mail de uma amiga falando de seu casamento de 11 anos que terminou com uma ruptura bizarra. Eles vinham tendo problemas, vinham mudando a vida, vinham reclamando um do outro, fizeram terapia de casal... Aí ele saiu pra uma viagem de trabalho, dois meses depois retorna com a declaração: me apaixonei por uma mulher, ficamos juntos QUATRO dias e vou morar com ela. Ele passou o final de semana, pegou as coisas dele e foi embora, simples e objetivo assim.

Agora recebo o e-mail dela, em frangalhos. Ela é uma mulher daquele tipo mega forte, que não chora por nada. Liguei pra casa dela e quem atendeu foi uma mulher destruída, chorando sem parar, sem conseguir falar.

Estou aqui pensando em como a vida dá voltas, como as coisas mais sólidas na verdade são frágeis, como não dá pra ter certeza de nada.

Sempre fiquei impressionada com pessoas que planejam sua vida pra daqui a 20, 30 anos. Elas dizem: em 30 anos quero estar com tal situação, morando em tal lugar, com 5 netos...  Mas como fazer um planejamento assim?

O Gato e eu faremos 10 anos de casamento esse ano e esses 10 anos foram tudo, menos constantes e mega planejados. A gente é até neurótico de planejamento, mas sempre do passo seguinte, não dos 15 passos seguintes... O maior planejamento que já fizemos foi essa mudança pra cá, porque senão não teria como. Mas em 10 anos nos mudamos várias vezes, mudamos nossa vida, mudamos nossa maneira de pensar. Felizmente mudamos juntos e fomos acompanhando a transformação do outro. Mas 10 anos é muito tempo, eu não teria como planejar mais 10 anos!

Esses dias sentamos pra pensar no futuro imediato e conseguimos planejar com facilidade o ano de 2011 e 2012, conseguimos pensar, até, quando visitaremos a família no Brasil. Ficamos chocados, foi a primeira vez na vida que conseguimos fazer isso assim, com tanta facilidade. Paramos e falamos: isso é o efeito Québec na nossa vida! Porque no Brasil, pra planejar o futuro só sendo funcionário público, se for um profissional liberal fica complicadíssimo!

Enfim, mas voltando aos meus amigos, essa ruptura assim, na porrada, me deixou muito chocada. Fiquei imaginando o Gato chegando aqui e dizendo: conheci uma guaxinim super fofa e to indo com ela morar no Mont-Royal. Aí nem Québec resolve, nada resolve. Meu Mundo Imaginário simplesmente ficaria sem chão, sem gravidade, sem objetivos. 

Ai que horror! Gato, você tá proibido, visse? Se for pra me deixar tem que ser com carinho, primeiro avisa que o gato subiu no telhado. Nada de partir pra realidade nua e crua. :(

Ai ai. É isso, o mundo gira, amores se rompem e novos amores se formam. Alguns ficam destruídos no caminho, outros se recuperam.

26 de abril de 2011

Français écrit

Lendo esse post dos Quebecquando, me inspirei em falar um pouco sobre o francês escrito.

Eu levei umas pancadas pesadas nesse primeiro trimestre de estudo, então fiquei refletindo muito sobre as diferenças que fazem a diferença na hora de escrever. Sei que tá redundante, mas essa foi a idéia mesmo... ehehehe

As duas ferramentas de auxílio pra escrever que eu mais uso são o BonPatron e o Antidote. O BonPatron é um site que eu já conhecia e que sempre amei. Ele faz correção gramatical, explicando cada coisa que ele acha estranha, já aprendi e aprendo muito com ele. O Antidote é um programa que vc pode instalar em até 3 computadores e que custa 110$CAN (mas conheço quem já baixou na internet). O Antidote é meu melhor amigo, e é o melhor amigo de muita gente. Ele tem a opção na instalação pra dizer se vc é ou não francófono, então mesmo os quebequinhas o usam. Ele fica funcionando em todo sistema windows-office, então vc faz correção direto no Word ou no seu e-mail se usar internet explorer (eu não consigo, sou viciada demais no firefox, mas...) Além dele ser um corretor gramatical e ortográfico, ele tem dicionário de sinônimos e muito mais coisas. Realmente é fantástico! Esses dois juntos me garantem entregas de trabalhos quase perfeitinhos... :)

O que eu acho particularmente complicado pra escrever não é se a gramática e a ortografia estão corretas, pra isso os corretores existem. O que eu acho difícil é expressar o pensamento de forma coerente.

Eu sempre garanti minha nota em português por causa das redações e interpretações de texto, sempre tive extrema facilidade pra escrever. Mas quando o assunto é escrever em francês, dou uma certa travada.

O problema é que a estrutura da escrita pra exprimir o pensamento é diferente da de português. Então eu vou, faço um texto que demoro horas pra escrever e depois horas revisando. Aí levo pra meus colegas de grupo, que acham tudo ótimo, admiram minha capacidade de pesquisar e de levar conteúdo, mas sempre me pedem autorização pra mudar "umas coisinhas"... Quando vou ver o texto, as coisas mudam completamente de lugar! Tenho até dificuldade em explicar isso, é uma questão de sintaxe, mas pra poder mostrar a coisa acontecendo, teria que mostrar um texto inteiro e chato sobre um tema que ninguém se interessa. *rindo*

Eu adoro que façam isso e sempre estimulo, na verdade aprendo muito sobre como colocar o pensamento no papel. Aprendo com isso e lendo, lendo muito.  É assim que aprendemos a escrever em português, e é assim que aprenderemos em francês, não tem muito segredo. O problema é que demora, e até lá é um sofrimento só!

Uma outra coisa que acho super complicada é encontrar a palavra certa pra colocar no lugar exato. Por exemplo, fiz um trabalho que tinha um orçamento mega complexo e uma dos itens era a iluminação de um campo de refugiados. Não tive dúvidas e coloquei lá "illumination" (Ensemble des lumières servant à décorer les rues, les monuments) e não "éclairage" (Production de lumière. Exemple: Éclairage d’une voie publique). Os dois tem significados bemmm próximos e servem ao meu objetivo. Olhando um do lado do outro vejo claramente que éclairage é melhor, mas naquele momento não fiz isso. Porém, NENHUM dos meus colegas aceita que illumination seja uma palavra existente em francês, dizem que fiz um anglicismo. Se ninguém reconhece a palavra, então ela não serve, mas como saber? Só errando e sendo zoada mesmo! ehehehehe

Uma vez fui me encontrar com um grupo pra fazer o trabalho de manhã, depois de uma noite trabalhando. Cara, simplesmente não saía nada, eu nem entendia o que me falavam. Como sou desligada (e todos já descobriram) e como aceito ser zoada e estimulo as correções, as pessoas relaxaram, me sacanearam horrores e entenderam que era sono. Me deram café e comida e a coisa foi melhorando! *rindo*

O que eu posso dizer é que, fora o desespero de se sentir semi-analfabeto, a coisa vai melhorando com o tempo. Hoje tenho mais fluidez, vivo recebendo elogios por isso. Ainda cometo erros bizarros e, quanto mais cansada pior a coisa fica. Mas estou aceitando o desafio e tento sempre me auto-explicar que trata-se de uma fase e que vai melhorar.

Bisous, bonne chance à tous,
Alice

Congé doente

Em 2009 viemos pra cá exatamente nessa mesma época de agora, final de abril. Como sou muito alérgica, o pólen me deu uma derrubada. Basicamente fiquei o tempo todo tomando remédio pra alergia.

Esse ano, como a primavera tá demorando pra se firmar, até os passarinhos tão em dúvida, quanto mais as plantinhas. Mas esse final de semana fez sol e as flores brotaram e soltaram seu pozinho mágico de reprodução da espécie. 

Eu não me toquei do quanto isso poderia me afetar. Passei a tarde de domingo na praça, depois fui ver o pôr-do-sol no mirante do Mont-Royal. Tudo lindo e ótimo. MASSSS, me meti na maior roubada, abri o pulmão pra receber todo o pólen de Montréal. Resultado? Ontem à noite caí de febre e assim estou até agora. Já tomei um remédio trash que me garantiu ficar acordada o suficiente pra escrever aqui, mas a febre aos poucos tá voltando e a cabeça pesando...

O inverno bem que poderia voltar logo! :/

25 de abril de 2011

Francisação - esclarecendo

A Eleanor Rigby me perguntou umas coisas sobre a francisação num comentário e como a resposta ficou longa, fiz um post.

Como eu queria fazer o curso em tempo pleno, me inscrevi pelo site do Micc. Eu poderia também me inscrever diretamente nos lugares que oferecem os cursos, com é o caso da inscrição em tempo parcial (que deve ser o caso da Lídia).


Fiz a inscrição on-line e fui chamado para fazer uma avaliação no escritório do ministério. A "entrevistadora" falou um pouco comigo e pediu pra eu escrever um pequeno texto com alguns parágrafos, uma carta para um amigo contando sobre minha chegada. Depois ela disse que iria pensar se eu iria pro bloco 2 ou 3. Eu falei que gostaria de melhorar a minha expressão escrita, pois eu queria voltar pra universidade. Ela concordou e disse que em 3 semanas (óbvio) eu receberia uma carta me informando os detalhes. Eles me colocariam numa lista de espera, mas ela já me falou que eu seria aceito. Em duas semanas descobri que eu faria o bloco 2 na escola de línguas da Uqam.

Na primeira semana o professor perguntou quem escolheu estudar lá e algumas pessoas se pronunciaram. Depois eles nos deram uma carteira de estudante e algumas pessoas estavam muito felizes com isso, até escreveram no facebook que estudavam na Uqam. Ouvi vários comentários de como o curso de lá seria de melhor qualidade (o que eu definitivamente não posso atestar), mas pude ver que fazer o curso lá comovia algumas pessoas. Alguns alunos que fizeram o primeiro bloco em outros lugares não fizeram nenhum comentário sobre a melhoria de qualidade, o que me fez ficar em dúvida se não seria apenas o "status" de ser "aluno da Uqam" que comovia. Como eu disse no post anterior, acho que a qualidade do curso depende de uma série de questões.

Eu não fiz o bloco 1 da francisação e não pretendo fazer o bloco 3. Acho que não atende as minhas necessidades. Agora no verão, vou fazer uma disciplina como estudante livre. Acho que será mais estimulante para mim e também será uma outra maneira de estudar francês.

22 de abril de 2011

Ateus graças a deus

Cara, se tem uma coisa que me irrita no Québec é a farça de serem ateus. No natal já tínhamos vistos isso e agora tudo se repete na páscoa. Sério, isso me deixa bemm confusa.

Eu provoquei um professor que dizia que os quebecas são ateus, disse que esse é o discurso, mas que a cruz gigante continua no alto do Mont-Royal e que no natal as pessoas saem na rua cantando músicas de amor ao bom jesus. Ele riu e disse que o natal é comercial, não tem nada a ver com religião... Tá, mas o comércio faz o marketing que comove as pessoas, não?

Agora na páscoa to aqui vendo televisão e nego tá direto entrevistando padres pra explicarem o que é a páscoa, quais as suas tradições, mostrando receitas... Tá, não é só católico, tem o grego ortodóxo, o judeu ortodóxo e sei lá mais o que que comemora sua religião nessa época. Mas vir me dizer que não se trata de um povo religioso, bom, désolé, não é verdade.

Acho que o que faz A diferença é a forma como as coisas são encaradas, o respeito pela diferença do outro. Uma cena que muito me impressionou outro dia foi a seguinte:

Uma grande praça na frente da igreja, na esquina de uma avenida muito movimentada. Um grupo de ativistas contra o aborto foi pra esquina e começou a fazer sua campanha, com cartazes e fotos contrárias ao aborto. Dois, três dias da manifestação acontecendo, um grupo de meninas chegou do lado desses ativistas, abriram seus cartazes pró-aborto (leia-se, pró-escolha feminina se quer ou não ter o filho),  sentaram na praça e ficaram lá. Quando passei via a cena e me impressionei com a civilidade! Po, sério, imagina isso! É lindo, não?

Saindo um pouco do tema religioso e indo pra política, algo semelhante aconteceu essa semana: um grupo que reivindica que a Lei 101 seja abolida saiu na rua. Aí o grupo a favor apareceu e reagiu. Eles se estranharam com seus cartazes. A polícia veio separar antes que tivesse briga . Como terminou? Um gritando de um lado da rua e o outro do outro lado. Ficaram lá o dia todo, sem ninguém se agredir fisicamente ou se xingar, só falando sua opinião.

Na campanha eleitoral vemos isso direto. Um candidato fala mal do outro na cara. O "ofendido" ri e ignora.

Tá, me perdi completamente. Voltando à religiosidade quebeca. Eu acho muito complicado achar que o catolicismo não é mais fortíssimo aqui. Isso porque não se pode ignorar a religião como um grande condutor cultural, e perder a cultura católica demanda muito tempo. Po, a 40 anos as escolas eram gerenciadas pela igreja católica, então é uma ilusão achar que já deu tempo de ter uma mudança radical cultural. 

Basta ver a quantidade de Marias que tem nessa terra! Todas as mulheres se chamam Marie-QuelqueChose. É bizarro demais isso. No Brasil essas milhares de Marias usam o segundo nome, então a gente meio que perde a noção. Mas aqui não: Marie-Christine, Marie-Charlote, Marie-Anne, Marie-Eve! Ai ai...

Bisous,
Alice

21 de abril de 2011

Francisação - o desafio final

Esse é o último dessa série de quatro posts sobre a francisação. Como o curso tem 30 horas por semana, todos os alunos ficaram de saco cheio nessas últimas semanas e eu vou aproveitar pra fazer um post desabafo.

Alguns comentário pontuais:
  • O Micc prepara um material didático que será usado no curso, tanto de conteúdo da língua quanto de civilização, mas alguns professores preferem usar outras fontes, cópias de gramáticas e outros livros didáticos.
  • Alguns cursos são fruto do convênio do ministério com algumas organizações, como universidades. Esses cursos costumam ser preparados em conjunto e eles podem usar o material do Micc ou não. Alguns acrescentam atividades extra-classe para enriquecer a parte da integração com a sociedade.
  • Algumas pessoas acreditam que um curso é melhor que outro porque é dado em uma determinada instituição ou  por que usa determinado material didático.
O que eu acho é que uma boa francisação depende (1) do professor, (2) do material didático que ele domina e acredita, independente da origem, (3) do objetivo do professor e (4) um aluno que se dá bem com os três pontos anteriores.

O professor da minha turma tem muitos anos de experiência e prefere "construir" um material a partir de cópias de outros livros. Ele fez questão de falar (e muito) como ele tem experiência, como ele entende os imigrantes e sobre sua infância e adolescência... zzzzzzzzz...

Como o tempo foi curto, não aconteceu assim, pois além de termos só onze semanas, o professor ficava o tempo todo falando da própria vida e como ele tem muitos anos de experiência.

Teoricamente estudaríamos as quatro facetas da língua, compreensão e expressão oral e escrita.
  • Compreensão escrita: nunca lemos um texto sequer até o dia da prova final. Alguns alunos disseram que não conseguiram entender o artigo de jornal dado na prova.
  • Compreensão oral: ao final de TODAS as aulas o professor dava a letra de uma música para que acompanhássemos UMA vez, até porque usávamos um toca-fitas, isso mesmo, um toca-fitas... acho que tem alguns leitores que nunca viram um desses.
  • Expressão escrita: além da prova final, só fizemos um texto de 180 palavras.
  • Expressão oral: a turma era dividida em grupos com nacionalidades diferentes e ficavam conversando entre si com o professor assistindo um pouco à cada grupo.
Então o que ficamos fazendo esse tempo todo? Gramática, gramática, gramática... Além dessas quatro horas diárias, tínhamos mais duas horas diárias com outros professores sobre fonética ou introdução a história do Québec ou atividade oral ou perdíamos tempo assistindo vídeos no computador. Digo perdíamos pois as pessoas sentavam na frente da tela, assistiam os vídeos, escreviam qualquer coisa num papel e essas fichas nunca foram corrigias pelo professor, depois em sala ele lia as respostas ou entregava uma cópias com elas.

Mas a nota foi repartida assim:

Interação oral:                  20%
Produção escrita:               5% (meu objetivo era melhorar minha produção escrita)
Verificação de gramática:  15%
Compreensão de texto:    15%
Testes:                             10% (fizemos três testes de verificação de gramática, então seria 10% + 15%???)
Trabalhos:                        15%
Atividade de monitoria:    20% (1/3 do tempo corresponde a 1/5 da nota???)
  
Então dizer se o curso foi bom ou ruim depende de uma série de fatores combinados. Por exemplo o ateliê de história do Québec foi muito esclarecedor para os alunos que imigraram para o outro lado do mundo e não sabiam que o período francês veio antes do período inglês. Que achavam que a lei 101 foi instituída na fundação do Québec. Que ficaram assustadas quando souberam que "o Québec já pensou em se separar do Canada" (sic). Isso por que elas ainda não sabem que já foi proibido falar francês na rua ou o que é "revolução tranquila" pois ficou para o próximo bloco.

Alguns alunos descobriram o que era uma cabane à sucre e estão muito ansiosos pelo próximo bloco onde vão aprender a fazer um CV e como procurar emprego. Outros estão felizes pois disseram que eles vão ler bastante.

Vários alunos sabem conjugar os verbos no imperfeito e no passado composto, mas alguns ainda não sabem quando usá-los. Vários alunos sabem conjugar os verbos no condicional e no subjuntivo, mas "je voudrais qu'ils puissent" usar corretamente essas conjugações.

O que eu sei é que o melhor aluno da turma, isso é, o que sabe mais gramática, não vai fazer o próximo bloco pois ele queria melhorar sua expressão oral e não conseguiu. Ele falou que o curso é muito rápido pra ele e ele não consegue entender tudo que o professor fala. Um outro aluno que tem dificuldades pra emitir alguns sons, terminou o curso falando "ji vudrí" e também não vai fazer o bloco seguinte. Uma colega conseguiu um emprego fora da sua área profissional e descobriu que é capaz de entender os clientes e eles a entendem, então não vai fazer o próximo bloco (pena).

O que eu queria era melhorar minha produção escrita, mas não fizemos um ditado sequer, e escrevemos um só texto que levamos três aulas pra fazermos. Pra mim foi uma experiência interessante sim, mais sociologicamente que linguísticamente. A Alice acha que eu melhorei meu francês, mas eu também acho que eu gastei muita energia pra ter um resultado pequeno.

"À mon avis", acho que existem duas maneiras pra melhorar o francês e depende do seu objetivo. Se você quer aprender gramática, aprender a entrar no mercado de trabalho, melhorar a vocabulário, saber um pouco de história e como as coisas funcionam no Québec, acho que a francisação tem um papel fundamental. Mas se você, assim como eu, só quer melhorar a produção escrita ou a produção oral, quer entrar na universidade antes de começar a trabalhar, acho que é melhor entrar num curso na universidade, seja de língua ou da sua área.

Congé!!!

Ontem eu apresentei meu último trabalho do trimestre e o Gato teve sua última aula da francisação!! Simmm!!!! Teremos 2 longas semanas de férias!

Basicamente não dará pra descansar porque tudo ficou acumulado pra ser resolvido agora. E ainda temos que preparar nossa mudança pro novo apê! Mas só em não termos o compromisso acadêmico já nos dá uma leveza tremenda!

Estamos aqui há 6 meses, mas esses últimos 3 meses pareceram um ano! Os desafios da universidade foram mais fortes do que eu imaginava, mas foram melhores também. 

Ontem saímos com o pessoal do meu curso pra comemorar, fomos pra um barzinho bem bacana, mas MUITO barulhento. Foi engraçado porque uma das minhas colegas disse no facebook que iria pra lá e de repente tinha umas 20 pessoas que leram e resolveram aparecer! *rindo*

Tive uma conversa com uma outra colega que achei que valeria a pena relatar aqui no blog. 

Ela me disse que estava muito feliz porque nesse certificat ela tinha feito muitos amigos. Aí eu disse que também estava feliz com isso e que acho que foi a melhor coisa que eu poderia ter feito ao chegar aqui. Ela concordou. Então eu aproveitei a deixa e falei que leio vários blogs com brasileiros reclamando que os quebecas são fechados e que eles tem problemas pra se integrar na sociedade.

Minha amiga ficou revoltada. Ela disse que já ouviu falarem isso e não consegue aceitar esse argumento. Que o Québec é lotado de imigrantes, que Montréal é uma cidade extremamente cosmopolita, que os quebecas estão super acostumados a receber os novos imigrantes, etc e tal. Eu concordei com ela, que conosco foram sempre extremamente simpáticos e agradáveis. Aí ela falou: Po, eu sou quebecois de souche e não posso aceitar esse argumento, porque ele é falso!

Ela acha que as pessoas criam teorias e depois ficam espalhando essas bobagens por aí. Aí o cara chega e nem tenta, já trata como verdade. Concordo plenamente com ela.

Notícias do dia

Bom, antes de tudo, os trabalhos da primavera estão em andamento, to relendo o blog e re-lançando os posts, e quando acho que vale à pena, acrescento no final comentários do meu ponto de vista atual. :)

Notícia do dia: Os imigrantes que estudam aqui tem a mesma taxa de desemprego dos quebecois, já os que permanecem só com a sua escolaridade do país original ficam bemmm à margem do mercado de trabalho.

Bisous, 
Alice

14 de abril de 2011

Travaux de Printemps

Como vocês devem ter nortado, nosso ano de postagens e comentários não se encontra mais aqui.

Num espírito bemmm quebecois, resolvemos fechar as portas por um tempo pra realizar uma limpeza e organização geral.

Na realidade, eu pensei seriamente em fechar as portas definitivamente. Fiquei bemmm cansada com essa polêmica toda gerada por míseros 4 posts  (de quase 300). Mas conforme fui colocando os posts em modo-escondido-ON fui vendo tannntos posts que eu adoro, tanta coisa da nossa vida que passou nesses mais de um ano aqui... Resolvi fazer uma limpeza geral, tirar a neve acumulada, a laminha que foi se formando junto com o xixi de cachorro congelado e restinhos de cigarros e comida... 

Então depois que minhas provas finais passarem e de uma longa e difícil conversa com todos os participantes ativos do Mundo Imaginário (se algum comentarista-leitor quiser participar me escreve que conversaremos), decidiremos o que fica exposto e o que irá pro fundo do Poço-Fundo, que fica ali num canto escuro do Mundo Imaginário.... ali, tá vendo, bemmmmm naquele cantinho?

Bisous,
Alice-Selma-Rainha de Copas, Gato et Ornitorrinco

30 de março de 2011

Alugar-desalugar-sublocar-passar contrato...

Esse é um post mais do tipo "dicas" pra quem tá querendo saber como funciona o mundo do aluguel daqui.

Quando chegamos, alugamos um apê super caro, mas com uma excelente localização e espaço. Nossa escolha foi essa porque queríamos nos sentir bem nos primeiros meses, passar o inverno sem problemas, sentir a cidade, etc. Como tava dentro do orçamento que havíamos trabalhado, tudo ok.

Mas como o alugamos em novembro (época infeliz pra alugar qualquer imóvel que preste) nosso contrato vai até o final de outubro. Nosso objetivo então passou a ser alugar um outro apê na época boa, onde os bons imóveis estão disponíveis, leia-se junho/julho. E, claro, por um preço menos salgado pra termos uma vida menos apertadíssima.

Fomos no site da Regie du logement e vimos as possibilidades: 
  • Encerrar o contrato e pagar multa? Nunca, jamais e em tempo algum! Você só pode cancelar um Bail se o apartamento estiver sem situação precaríssima.
  • Sublocar? É uma opção que considero melhor pra quando você vai viajar e depois volta. O que rola é que você continua sendo o inquilino e se responsabiliza por tudo o que acontecer no apartamento. 
  • Passar o contrato (Cessation de bail)? OUI! A cessation de bail basicamente funciona da seguinte maneira: você comunica ao proprietário que fará isso e ele te diz quais as coisas que ele quer do próximo inquilino. Você anuncia o apartamento, recebe os candidatos. Os interessados preenchem um papel com seus dados e, se for o que o proprietário busca, você apresenta pra ele. Daí vocês (você, o candidato à inquilino e o proprietário) se encontram, você passa o seu Bail pra ele e pronto. O contrato do novo inquilino passa a valer a partir da data estipulada e vence na mesma data que o seu vencia. Depois ele renova (o que pode implicar em aumento) o contrato.
Foi exatamente isso que fizemos. Estávamos morrendo de medo de não achar ninguém, mas choveu gente vindo olhar! Difícil foi arrumar quem tivesse todos os comprovantes de salário, fiador... que a proprietária buscava. Mas uma semana depois de anunciar, hoje passaremos nosso contrato e teremos que sair daqui em junho.
Estamos indo pra um apê bem menor, um 3 1/2, ainda no Plateau, mas não mais em Mile End. Isso vai nos fazer diminuir uma fortuna do nosso orçamento mensal, mas continuaremos morando num lugar bacana. É aquilo que eu já tinha falado a sei lá quantos meses atrás, o que mais gasta seu dinheiro é o aluguel, logo, a melhor forma de faze-lo render é diminuindo o bicho até caber no seu orçamento do momento. ;)

Bisous,
Alice

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2011-04-26

Tem quase um mês que publiquei esse post e até hoje tem gente me ligando pra saber do apartamento! Impressionante como falta oferta de imóvel bacana. Os que aparecem por um preço honesto são alugados imadiatamente.

Pra quem tá buscando no kijiji ou craiglist da vida, nem se dê ao trabalho de procurar alguma coisa que já esteja anunciada há mais de uma semana. ;)

Bilan

Olá! Bonjour! Hi!

To fazendo 3 meses na universidade, mais 15 dias e minhas disciplinas terminam!

Pra mim o tempo passou de forma louquíssima. Quando vejo o número (3 meses) acho tãoooo pouco. Mas como foi tudo mega intenso, me parece mais de um ano!

No primeiro mês de aula eu tava aquecendo o francês, sem conhecer os códigos locais, tentando entender tudo e dar conta dos textos da faculdade. 

Depois veio o segundo mês. Ele foi MUITO difícil. Alguns conflitos internos, outros de interculturalismo, outros de ordem intelectual... foi o mês que as relações inter-pessoais começaram a ficar mais intensas, ter umas farpas, ter uns corações... Do ponto de vista dos estudos, foi MUITO difícil também. Tive que escrever trabalhos com mais de 10 páginas e foi um desafio! Tive que fazer provas... Uma prova em especial me arrasou porque eu esqueci de levar o dicionário e as palavras simplesmente sumiam da minha cabeça. No final fui ao professor e expliquei o que eu queria dizer e ele me falou a palavra! Mas po, minha concentraçao já tinha ido pro espaço, foi horrivel. Até chegar o resultado eu tava tão nervosa, acho que nunca fiquei assim antes. Pensei até em anular a disciplina pra não correr o risco de ter uma mancha no meu currículo. Mas tudo bem, a nota chegou e tirei 6... nesse caso 6 foi 10 pra mim! *rindo* Depois dessa prova eu fiz outras com dicionário e tudo correu mega bem.

O terceiro mês foi bemmmm legal.  Agora escrevo mais soltinha. Outro dia preparei uma base de pesquisa pro meu trabalho em grupo e quando vi já tinha escrito seis páginas! Fiquei toda felizinha comigo mesma... ehehehe. Agora já tenho um grupo de quase-amigos, com quem saio de vez enquando, falamos papos soltos, vamos dançar, vamos beber... Eles me ensinam gírias quebecas e eu ensino português e assim a gente vai indo.

Esse grupo está sendo bem legal. Uma das meninas vai sair do país em outubro, então decidiu que tem que me apresentar a Montréal alternativa até lá. 

Um dia desses fomos num barzinho super cool na Avenue Mont-Royal. (Num me lembro do nome agora, saco!) Bom, ele é escurinho, cheio de cantos. Num determinado momento duas moças apareceram, uma foi pro piano e a outra pegou o violino. Elas ficaram lá tocando músicas maneiríssimas... O que eu não curti muito foi que a decoração pode ser assustadora pra pessoas que, como eu, não gostam muito de cabeças de animais penduradas. Como tem disso por aqui! :/

Um outro lugar que ela nos levou foi a um bar chamado Cheval Blanc. Pra quem gosta, como eu, de música alternativa, tatoo, cabelos coloridos, é uma ótima opção.

Um bar bacana também é o Dieu du Ciel. É uma cervejaria ótima, as cervejas são maravilhosas!

Fomos também numa boite gótica, Bar Passeport, que é um clássico alternativo de montréal desde 1982. Confesso que fiquei meio decepcionada porque esperava uma coisa mais deprimida-introspectiva (como eram os ambientes góticoss dos anos 80). O que encontrei foi um monte de gente feliz dançando. Mas o visual é bem bacana, as músicas, apesar de eletrônicas, são pesadinhas e mais graves. O preço me impressionou: 5$ pra entrar e guardar o casaco, 14$ por uma jarra de cerveja que dá pra 5 copos grandes. No Brasil seria infinitamente mais caro!

Aliás, falando em preço, uma pint (+ou- 500ml) costuma ficar uns 5$ no bar. Se você comprar a mesma marca no super-mercado, pagará 8$ pela caixa de longnecks. Ou seja, não é nada econômico ficar saindo, por isso vamos que meio a conta-gotas. Mas em geral, ninguem bebe mais do que duas/três pints, então também não é esse drama todo. ;)

Aliás, isso é interessante. Festa na casa de alguém, no Brasil, costuma durar horas, vão milhares de pessoas, bebe-se muito. E ainda tem aquele sem-noção que resolve "passar o chapéu" quando a bebida acaba, de tal forma que a festa não termine nunca, pelo menos pra ele... Aqui o que chamam de festa (pelo menos aonde fomos) é o que chamaríamos de "reuniãozinha" no Brasil. Meia dúza de 4 ou 5 pessoas, sentadas numa mesa, bebendo  e beliscando algo, conversando. Meia noite todo mundo vira abóbora e pronto, c'est fini.

Sobre essa questão de horários, se você tá indo pra uma boite, é bom chegar lá pra meia noite, que é quando o Quartier Latin tá no auge. Mas se for uma festa ou uma saída no bar ou restaurante, bom, melhor chegar as 20hs. 

Com que roupa ir? Ah, aqui é bem complexo isso. A primavera chegou (acho) e agora as cores começaram a brotar. Mas antes todo mundo usava preto, as moças saíam com lantejoulas prata e as moderninhas tinham elementos vermelhos. 

Aliás, nesse espírito primaveril, outro dia tava com sensação de -20 graus na rua e a moça saiu com mini-saia, sem meia e com um casaquinho mega-leve-verão. Alguns podem pensar: "é que ela é ursinha!" Mais non, ela tava meio roxa e passando mal mesmo! *rindo*

Enfim, esse bilan tá meio focado na vida noturna porque é a novidade da nossa vida atual.

Outra novidade é que estamos nos mudando em junho, mas aí é outro post, porque explica cession de bail. 

Bisous, bonne journée,
Alice

8 de março de 2011

Prêt et Bourse - o processo inteiro

Olá, tinha prometido um post sobre o processo da Prêt et Bourse, então cá está!

Antes de qualquer coisa você se inscreve no curso à sua escolha. Passa pelo processo de admissão. Se inscreve nas disciplinas e quando tudo estiver confirmado você vai no setor de ajuda financeira da sua universidade. Lá te explicarão várias questões que permeiam esse processo, principalmente o que você precisa pra ser admitido na Prêt et Bourse. Os pontos funtamentais são:

1- Renda
  • Ter tido uma renda baixa no ano anterior. Não lembro o valor mas, pros padrões daqui é bem baixo, e pros padrões brasileiros é  classe média baixa. Ou seja, isso não foi uma questão no meu caso, afinal, meu salario num era essas maravilhas. 
  •  IMPORTANTE: Eles avaliam o seu salário E o do seu conjuge pra saber se juntos passam do valor mínimo.
  •  No nosso caso, o valor que declaramos foi exatamente o mesmo indicado na declacarão de renda que fizemos assim que entramos no país.

2- Estar estudando em tempo pleno, leia-se, cursando 12 créditos (4 disciplinas, normalmente).
  • No meu caso, eu queria pegar 5 disciplinas, mas me desencorajaram. Agradeço a todos que fizeram isso, porque 4 já tá mais que pesado de manter. Ou seja, só pegue 4 se realmente for se dedicar integralmente (pra cada hora de aula um aluno normal tem que se dedicar 3 horas estudando em casa. No caso de um aluno que não é francófono e que ainda está aprendendo como se raciocina por aqui...)

3- Não ser mais dependente dos pais. 
  • No meu caso perguntaram se eu era casada. Como sou falaram ok.
Bom, com esses quesitos básicos resolvidos, vamos ao processo, em 12 passos:
  1. Em novembro me inscrevi na universidade e no mesmo mês recebi o aceite;
  2. Uma vez com o documento da faculdade dizendo que eu estava inscrita, tive que fazer minha prova de francês pra saber se de fato eu tinha nível linguístico pra frequentar as aulas e fazer os trabalhos;
  3. Em dezembro, depois de fazer a prova de francês e receber o aceite, fui ao setor de ajuda financeira da universidade pra dar entrada no meu processo. Antes de poder começar, eu teria que me inscrever nas disciplinas;
  4. Me inscrevi em quatro disciplinas e voltei.
  5. Agora eu teria que pedir um número de estudante do Québec, que demora quanto tempo? Exato! Um ciclo!
  6. Número de estudante do Québec providenciado pela universidade, eles me ligaram e passaram. Agora era a hora de entrar com o pedido no AFE. Fui, junto com o Gato, na salinha dos caras que te ajudam a preencher o formulário e preenchemos cada uma das milhares de páginas que dissecam sua vida e do seu conjuge. Tudo pronto: enviar!
  7. Quando você envia seu pedido, recebe uma notificação de quais documentos você tem que entregar no setor de ajuda financeira da sua universidade pra que eles enviem os papéis pro AFE. Ok, documentos entregues imediatamente (fomos pra lá com tudo que poderíamos precisar, assim não tinha erro);
  8. Depois de um ciclo... Primeiro e-mail do AFE dizendo que eles verificaram meus dados e eu teria direito ao Prêt et Bourse e que era pra aguardar as cenas dos próximos capítulos...
  9. Depois mais um e-mail dizendo que reajustaram os valores de acordo com 2011 e que pediram pra universidade os documentos que confirmavam minha inscrição. Agora eu deveria aguardar novamente...
  10. Aguardei, aguardei... aguardei..... Fui no setor de ajuda financeira da universidade pra saber se estava tudo bem. "Ué, porque você não veio antes? Aqui está o envelope com os papéis que você tem que entregar no banco pra abrirem uma conta pra receber o valor estipulado!" (...) Por que não fui antes? Porque eu não sabia que era pra ir! Dã! Bom, nessa eu perdi um ciclo!
  11. Envelope em mãos. Lá tem uma lista de alguns bancos credenciados, todos quebecas, lógico! Como minha conta é num banco não-quebeca, mas canadense, tive que ir num dos bancos da lista e abrir nova conta; Conta aberta e.. 
  12. ah, faltou uma assinatura (...) e depois outra assinatura (...) um ciclo depois e hoje descobri que o dinheiro fnalmente foi depositado!
 Sobre valores:
  • Eles te emprestam (Prêt) o valor do pagamento da universidade. No meu caso ficou mais ou menos 1000$ para esse trimestre: 206 cada disciplina + outras taxas. Ou seja, será uns 3000$ de empréstimo por ano que eu permanecer estudando. (ou um pouco mais se tiver o aumento que está sendo planejado e contestado pelos estudantes)
  • Eles dão uma bolsa de estudo pelos meses que você ficará estudando naquele ano letivo. Isso significa que mesmo que seu curso vá demorar mais de um ano, você terá que "reiniciar" o pedido todos os anos letivos que se iniciam (setembro). A diferença é que será uma coisa mais automatica: você atualiza os formulários e a universidade envia sua inscrição e só, espero.
  • O valor mensal de bolsa de estudo é, no máximo 760$, variando de caso à caso, dependendo da sua renda no ano anterior.
  • Além desse valor, eles fornecem uma bolsa de cerca de 200$ para compra de livros. Você VAI precisar deles!
  • Na universidade existem vários sistemas de bolsas de estudos, mas que não são tão simples pra conseguir, eu ainda não tive nenhuma.  Essas bolsas não invalidam a bolsa do governo do Québec porque essa é entendida realmente como o que ela é: uma ajuda às necessidades básicas do aluno.
  • O pagamento do empréstimo começará 6 meses depois que a pessoa parar de estudar em tempo integral. Não sei os detalhes, mas me disseram que você tem 10 anos pra parcelar a dívida. Os juros começam a ser cobrados assim que você pára de estudar, ou seja, se começar a pagar 6 meses depois, já terá 6 meses de juros acumulados sobre a dívida total.
Pra quem pensa em vir pra cá e começar a estudar como eu, tem que perceber que esse processo inteiro demora bastante e que não é mágico. A Prêt et Bourse é uma forma do governo do Québec de apoiar as pessoas que querem se dedicar aos estudos. É a maneira do Estado investir em pessoas que depois terão formação pra assumir as diversas vagas especializadas que estão vazias por falta de pessoas com formação mínima pra preenchê-las. Isso não é uma doação aos necessitados, mas sim uma política de Estado em prol da educação.

O Québec oferece educação básica gratuita, mas as universidades são privadas. O Prêt et Bourse é uma maneira do Estado garantir que todos terão acesso à educação, mas que não terá que fazer os altos investimentos que são necessários para manter uma universidade com alta qualidade de ensino e de instalações.

Uma vez um anônimo histérico entrou aqui pra dizer que sou aproveitadora do dinheiro do Estado, porque eu seria rica e estaria sendo espertinha "chupando" dinheiro que não era pra mim, que eu teria mentido na minha declaração de renda e sei lá mais o que. Um outro anônimo veio dizer que eu falei mal de quem pega cesta básica e agora estaria fazendo a mesma coisa...

Antes que essas pessoas gastem seu tempo vindo aqui me falar essas mesmas bobagens, vou logo repetindo o que eu sempre disse:
  1. Não sou contra quem pega cesta básica. Sou contra quem não precisa das cestas usarem desse sistema pra "economizarem uns tostões" e ganharem "uma boquinha".
  2. Prêt et Bourse não tem absolutamente nada a ver com cesta básica. Trata-se de uma política de governo de estímulo à educação superior (graduação, mestrado...)
  3. Eu não sei porque resolveram que sou rica, mas to afim que seus sonhos se realizem e eu possa parar de ralar tanto pra manter as contas em dia. Afinal, se tudo fica organizadinho, não tenho que ir atrás de "bocadas", o que tenho é que gastar conforme meu salário/bolsa/aluguel ou seja lá o que for que me dê renda.
  4. Nem preciso comentar o quão infantil pode ser alguém achar que eu menti no meu formulário. Depois do governo do Canadá e do Québec remexerem tanto tempo na nossa vida, alguém acha mesmo que eles não sabem o quanto ganhamos, quais nossos bens e dívidas? Sério?
Pra quem está preocupado em como viver com esse valor de bolsa: máximo 760$:
  • Conversei com um colega de turma que vive exclusivamente com esse valor. Ele disse que divide um apê com outros três colegas. O aluguel deles é 900$ (com chauffage inclus) em Notre Dame de Grâce e que é um apê bemm bacana. Como dividem, fica 300$ pra cada. Como ele tem 200$ de bolsa pros livros e afins, não tem custo mensal com isso. Logo, os 460$ restantes ele usa pras outras coisas, como conta do celular, comer e lazer.
(Particularmente eu tinha muito preconceito com a idéia de dividir um apê com outras pessoas, principalmente desconhecidas. Mas depois que passamos a semana na casa do lago com 10 quebecas homens e que não conhecíamos ainda, meu conceito mudou completamente. Como eles estão acostumados à divir a casa com outros estudantes e como "suas mamães" ensinaram direitinho as regrinhas básicas das "boas maneiras", eles são simplesmente foférrimos e limpinhos. Eu facilmente dividiria um apê com todos eles!)
  • As bolsas de estudos disponíveis são geralmente pra quem já cursou, no mínimo um trimestre ou, de preferência, pra quem já cursou um ano e tem ótimas notas. Elas não são mensais, mas um "pacote" único que geralmente fica em torno de 700-1000$. A pessoa pode se candidatar, e receber, quantas quiser, basta preencher todas as coisas que as empresas doadoras pedem. No meu caso não tem sido nada fácil achar uma que me enquadre. 
  • Eu não recomendo que alguém chegue aqui com o dinheiro contado na esperança de começar a receber logo o Prêt et Bourse. Meu processo demorou 4 meses, tive que pagar a universidade raspando minha poupança confiando que um dia seria reposto. Ainda não sei exatamente o quão automatica é a renovação, logo é bom sempre manter uma reserva pro caso de demoras como essa.
Bisous, bonne chance,
Alice