3 de agosto de 2011

Ciclovias e divisão social

Andar nas ciclovias da cidade tem nos mostrado melhor as divisões sociais que ela tem.

De uma forma geral, Montréal tem muitas ciclovias e, no Québec inteiro tem a Route Verte, que tem estrutura pros ciclistas cruzarem a província de vélo.

As ciclovias em Montréal são divididas em escalas:
  •  Tem a fodona, que é separada dos carros, tem sinalização específica, o asfalto costuma ser bom... 
  • Tem um outro tipo que não tem separação física da rua, mas sim uma pintura que marca a ciclovia. Essa geralmente é mão única e divide o espaço com os pontos de ônibus. O asfalto varia bastante.
  • Tem as ruas que são partagés entre os carros e as vélos. Geralmente tem uma placa de sinalização que avisa isso, além de uma pintura no asfalto, com o desenho de uma bicicleta. Aí é ter atenção, mas funciona muito bem.
  • Por último, tem as ruas que não tem espeço previsto pras vélos, mas elas andam lá mesmo assim...
Mas, o que tem me impressionado é a diferença da qualidade no asfalto, de acordo com o bairro em que se passe. Essa mudança de asfalto mostra bem a divisão social e o cuidado que a prefeitura tem com isso.

Um ótimo exemplo é sair de outremont, passar por Côte-des-Neiges (CDN) e depois chegar em Notre-Dame-de Grâce (NDG). CDN e NDG fazem parte do mesmo arrondissement, o que significa que possuem a mesma administração regional, supostamente, o mesmo cuidado público. PORÉM, quando você está na ciclovia em CDN (pelo menos a parte que eu andei, veja bem), é tudo esburacado, tem que andar com o bumbum pra cima pra não machucar. Aí, de repente, você atravessa uma rua e tudo começa a ficar bom, o asfalto fica lisiiiinho... Aí você está em NDG.

A diferença entre os dois bairros não está, obviamente, só nas ciclovias. CDN é um bairro super multicultural, de uma população mais pobre. É francófono. É o bairro onde fica a Université de Montréal, por isso tem também muitos estudantes. Já NDG é um bairro bemmm familiar, voltado pra Westmount, com uma maioria de anglófonos gritante. Em NDG tem muita escola particular, várias exclusivamente anglófonas. Por quê juntaram esses dois bairros num único arrondissement não me pergunte, mas o fato é que eles são unidos administrativamente e, no tentanto, recebem atenção bemmmm diferente do poder público.

Um outro exemplo interessante é o arrondissement de Hochelaga-Maisonneuve. Saindo do Plateau, entramos em Ville-Marie e pegamos a Route Verte em direção à Hochelaga-Maisonneuve. Tudo lindo e maravilhoso até que, de repente, você começa a ver a grama suja, com lixo jogado. A paisagem muda radicalmente, você começa a ver fábricas... Aí você sabe que chegou em Hochelaga. Claro que trata-se da borda do bairro, nem vou entrar nessa discussão, mas o que me impressionou foi a diferença de limpeza, suponho que isso mostre a diferença de frequencia em que o poder público envia o serviço de limpeza. É curioso porque a ciclovia é ótima, rodeada de graminhas bem aparadas e árvores que dão uma sombra providencial.

Pra finalizar, tem ainda a Île des Soeurs. Trata-se de um bairro de classe alta, isoladinho por ser uma ilha que não é caminho pra cando nenhum. Lá o asfalto é péssimo, mas além de ter bastante ciclovia, os carros andam extremamente cautelosos, o que permite ao ciclista, ou ao pedestre, a andar tranquilamente sobre as ruas silenciosas. O que é interessante é que esse bairro faz parte do arrondissement de Verdun, que não é tão rico, mas o asfalto e de melhor qualidade. Seria uma prioridade nas ruas mais movimentadas?

Enfim, tudo isso pra dizer que estou ainda tentando entender os códigos daqui. Não dá pra transferir nossos códigos e achar que é a mesma coisa, mas dá pra ficar exercitando a mente até encontrar pontos de ligação.

Bisous,
Alice


1 comentários:

Diário Canadá Brasil disse...

Ah, legal essa visão sua sob uma bicicleta,
Acho bom saber destes detalhes antes de chegar por aí.
Depois dá uma passada em Sillery (meio longe né)e me diz o q vc achou.

Valeu pelas informações.
Diariocnadabrasil.blogspot.com.br

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