18 de fevereiro de 2011

Francisação - Primeiras impressões

Hoje acabou a segunda semana das aulas de francês. Tinha escrito outro post antes de começarem as aulas. Estou fazendo o curso regular em tempo completo do tipo FIA (francês para imigrantes adultos) também conhecido como francisação. Vou escrever meus comentário sem falar a nacionalidade ou o gênero das pessoas, pois acredito que o que importa é o conteúdo e porque vai ser divertido escrever assim. Não quero que pensem: "os ingleses são assim... os italianos são assado...". Essa é uma atitude comum de observar um comportamento de alguém e associar de imediato a sua nacionalidade. "Os brasileiros são felizes e calorosos". Por isso, aqui no blog, temos tanto medo de pessoas que possam ter algum tipo de comportamento, digamos, inapropriado... e assim alguém possa pensar: "os brasileiros fazem coisas inapropriadas". É bem simples.

Voltando ao curso... Na parte da manhã temos aula de gramática, exercícios e conversação e depois do almoço as atividades são diferentes a cada dia, com 'ateliers' de comunicação oral, francês auxiliado por computador, fonética... Podendo acontecer com a turma toda, uma parte ou apenas duas pessoas...

No primeiro dia do curso é sempre das apresentações. No segundo dia tivemos uma recepção formal de toda a equipe, com direito a café e bolinhos. A pessoa responsável pela coordenação do curso explicou como tudo funciona, distribuiu muitos papeis... A tarde fizemos um teste de avaliação para confirmar se estávamos no nível correto ou não.

Durante a primeira semana alguns estudantes mudaram de turma e agora somos uns vinte.

Cada atividade acontece com professores ou monitores diferentes, mas apenas um indivíduo gerencia todas as atividades. Assim as coisas ficam mais dinâmicas.

Comentários aleatórios, dessa vez tentando dar opinião

Duas coisas são faladas o tempo todo no curso. A pontualidade/assiduidade e o uso da língua materna. Você está inscrito num curso que além de não pagar nada agora (vamos pagar com impostos mais tarde) você ainda recebe algum dinheiro e ainda chega atrasado ou falta? Crisse... É demais. E ficar falando na língua materna? Pra mim tem um problema sério. Mesmo que a recomendação seja falar francês o tempo todo, na hora do almoço tem um grupinho falando francês e tem outro falando uma língua incompreensível. Você se aproxima de quem? Você senta em que mesa? Conhecendo as nacionalidade da minha turma posso ver claramente um grupão de várias nacionalidades treinando francês enquanto almoça e um outro grupinho de mesma língua materna, falando sua língua materna. Quem vai aprender mais rápido? Quem vai falar melhor no futuro? ;)

Existe um tipo de professor que dá aula e não fica de bate-papo, pois o tempo é curto e se alguém faz muita pergunta, ele corta e manda ler na gramática. :)

Existe outro tipo que dá dicas para "vocês imigrantes que estão chegando agora e não sabem como as coisas funcionam"... Ai se larga a falar bobagem de assunto que não entende. Por exemplo: acho legal ensinar o vocabulário em francês das operações bancárias, mas se empolgar e dar dicas de como gerenciar o dinheiro, acho meio muito. "Agora é um excelente momento pra fazer uma hipoteca, pois as taxas de juros estão baixas..." ou "Vocês que tem apartamento próprio em seus países de origem, não devem vendê-los antes do primeiro ano aqui". ¬¬

Tive apenas uma aula no atelier de francês auxiliado por computador. Os monitores (moniteurs e não ecrã) são muito esforçados, mas ainda não entendi como o computador me ajudou... Primeiro uma aula sobre cinco regiões do Québec com muitas informações inúteis. "Na região do Bas-Saint-Laurent tem um vilarejo onde moram 45 infelizes... Não tem mercado, nem farmácia e nem igreja, pois ela pegou fogo..." :o Mas o que tem em Rimourki? :( Digitamos um pequeno texto com ajuda de uma dicionário eletrônico e depois todo mundo IMPRIMIU os trabalhos, isso mesmo... Pra que servem os computares? Pra gastar mais papel. :,(

Tivemos a primeira aula do atelier de fonética onde nos foi apresentado os 16 fonemas vocálicos do francês. Eu nunca tinha estudado isso. \o/ O português do Brasil tem 12 fonemas vocálicos e descobri na aula que poderia ser pior se eu falasse uma língua que só tem 6 fonemas vocálicos.

Toda quinta-feira recebemos o horário da semana seguinte e todo mundo tem que ter um fichário. Todo o material é entregue em folhas soltas fotocopiadas e furadas para ser guardas no fichário. A Alice está na universidade e também usa fichário, parece que todo mundo usa. Ao mesmo tempo que mostra uma organização, pra mim também me dá uma sensação de "robotização". Lembro dos alunos que sentavam na primeira fila na universidade e copiavam tudo com diversas canetas coloridas, mas eram incapazes de reproduzir com outras palavras ou fazer um trabalho sem receber instruções diretas e claras. Não sei se essa tendência existe aqui, mas pra mim, quanto mais sistematização imposta, menos criatividade. :\

Fora isso, posso garantir que esse é o melhor curso de francês que eu já fiz na vida. Estou gostando muito, mas, muito mesmo. =D 

17 de fevereiro de 2011

Top top - o pior do Québec

Em nome de meu amor pela Madame Quebequando e pelo Ornitorrinco, esse post é só pra falar mal de meu Québec querido! ;)

O que eu NÃO gosto - as picuinhas cotidianas:

  1. Não gosto de ver o Azeitona passando frio. Pra ele 20 graus é extremo frio e ele vive se escondendo embaixo dos cobertores e dormindo junto do aquecedor.
  2. Não gosto de dias ensolarados. O sol é forte demais e preciso usar óculos escuros. Isso me lembra o calor carioca e fico levemente travada. Além disso, dias ensolarados são bem mais gelados e me dá um certo nó mental. Por mim só teríamos dias nevando.
  3. Não gosto do dia seguinte da tempestade de neve, que geralmente é mais quente e a neve toda vira uma mega lama, com poças enormes.
  4. Não gosto dos habitantes daqui no dia seguinte da tempestade de neve, pois todos saem pisando na lama e pisando forte, aí levanta água que pode cair na sua calça limpa.
  5. Não gosto da proprietária do meu apartamento, que é uma mulher bizarra. Ainda bem que o contato é mínimo, mas não gosto.
  6. Não gosto que os bancos não tem sistema de transferência entre contas, nos obrigando a fazer cheques que depois tem que ser depositados ou enviados pelos correios.
  7. Não gosto que as pessoas vivem num sistema que funciona tão bem que elas se atrapalham sempre que algo é fora do padrão. E como eu costumo ser fora do padrão, isso me dá um certo trabalho.
  8. Não gosto do ar seco que machuca meu nariz e faz o azeitona roncar. Não gosto do barulho do umidificador. Não gosto de ter que usar remedinhos pra lubrificar o nariz.
  9. Não gosto te pegar ônibus nos dias mais frios. Eles botam o aquecedor no máximo e fica o maior bafão. Além disso, as janelas ficam completamente embaçadas e não dá pra curtir a paisagem.
  10. Não gosto dos anglófonos que não falam francês. Eles são barulhentos, desagradáveis e sem nenhum interesse pelo entorno. Até porque, se tivessem algum interesse, seriam bilíngues.
 O que eu NÃO gosto - num plano mais geral:
  1. Não gosto que o parlamento ainda tenha cruz na parede e que os parlamentares rezem antes de começar cada sessão. Ou é católico e deixa de merda, ou é laico e pára de bizarrice. Eles estão numa mega briga com isso e a polêmica é grande. Entendo que tem muito pouco tempo de revolução tranquila, mas o crucifixo e a reza foram instituídos em 1986, se não me falha a memória, então não tem desculpa. 
  2. Não gosto que o quebeca é o maior doador de dinheiro para os países pobres do mundo. Não gosto disso porque é um reflexo desse pensamento cristão de culpa e de "fazer o bem sem olhar a quem", é muito mais um movimento de "salvar a propria alma" que de fato um interesse de acabar com as desigualdades do mundo.
  3. Nessa mesma linha, não gosto do natal daqui, acho que esse ano vou tentar ir pra outro canto. O espírito cristão aflora e as pessoas saem na rua pra cantar juntas e fazer doações juntas, tudo muito "Flanders" pro meu gosto. Isso sem falar do mega apelo maluco ao consumo desenfreado que faz com que todos joguem fora toda as sua decoração natalina do ano anterior e compre tudo de novo, faz com que milhares de árvores deja sacaneadas pra tirarem um "cotoco" pra fazer uma árvore de natal "tradicional". No final ficam milhares de árvores jogadas fora no meio da rua, com o Estado tendo que gerenciar um lixo absolutamente insano. Não, não gosto disso.
  4. Não gosto do número de vezes que já vi o metrô fechado porque houve um "acidente na pista". Esse "acidente na pista" é também conhecido como "alguém que se matou". Me deixa triste que isso sempre acontece e que é banal pra eles. Porque assim, não sei se realmente alguém se matou, mas é essa a interpretação das pessoas. Ao mesmo tempo, não vejo nada sobre isso nos jornais, e olha que falta assunto interessante pra falarem. Ao invés de discutirem se o príncipe deve ou não vir pra cá quando casar, poderiam falar do novo caso de suicídio da semana...
  5. Não gosto de muitos textos que tenho lido. Apesar de serem interessantes, eles refletem bem a visão imperialista que o Canada tem. O tempo todo eles se auto-referem como representantes dos "ocidentais", enquanto os países mais pobres são chamados de "países do Sul". Acho isso a coisa mais bizarra e que tem me incomodado MUITO. 
E pra finalizar, um causo:
  1. Ontem tivemos um tiroteio na cidade!!! Na esquina entre a Decarie e a Jean Talon (vejam lá no maps... ehehehe) ! Os policiais receberam uma denúncia telefônica 1h da madrugada e foram verificar. Chegando lá deram de cara com um carro que saiu "metendo bala"! Eles responderam com mais bala e, por fim, o atirador foi atingido. Ele foi internado e no final da tarde já estava bem e fora de risco. Quatro policiais foram internados. Um com ferimentos na perna (não sei de que tipo) e os outros três porque estavam em choque! O dia inteiro essa região ficou fechada pra fazer o "CSI" e somente no final do dia as pistas foram reabertas.
  2. Tá, o causo é bonitinho, mas afinal, o que isso tem a ver com algo que eu não gosto? É que eu acho esse evento absolutamente banal e idiota. Não consigo imaginar três policiais internados em choque porque participaram de um tiroteio. E não ser capaz de dar a devida seriedade a um evento desse tipo me deixa EXTREMAMENTE triste, porque mostra o quão maluca de guerra eu sou. :/
Bom, dei meu melhor pra falar do pior! *rindo*
Se alguém quiser compartilhar seu pior, por favor me ajude, porque eu tive que fazer um enorme esforço nessa lista aqui! :p

Bisous,
Alice


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2011-04-25

Sobre o crucifixo, a informação que dei está incorreta. Tratava-se do prefeito de uma cidade em Gaspesie (já nào me lembro mais!). Mas o fato é que caíram de pau em cima dele, tiraram o crucifixo e impediram a reza antes das atividades. Ele ainda se rebelou e OBRIGOU as pessoas presentes a rezarem antes de começar uma atividade diária. Várias pessoas entraram com um processo contra ele por coação e intimidação e ele foi definitivamente impedido de continuar com sua prática religiosa.

Ainda sobre o tema, recentemente um taxista ganhou na justiça o direito de colocar suas  coisas religiosas no seu taxi. Ele era impedido por se tratar de transporte público e, como tudo que é público, não poderia ter a imposição de uma única religião. Mas agora ele e todos os taxistas podem.