30 de julho de 2011

Eu odeio Montréal, no verão

Eu odeio Montréal no verão. Odeio gente feliz porque tá quente. Odeio que está quente e o sol queima. Odeio o fato desse povo não ter nenhuma intimidade com o calor, então tudo fica um pouco pior: 
  • Eles não sabem fazer um bom café gelado. Geralmente são ruins, aliás, bebidas geladas geralmente são piores que as quentes;
  • As pessoas fedem MUITO. No inverno tem o povo que fede, mas no verão é o TERROR! É quase impossível andar na rua e não sentir aquele cheirinho...
  • O que nos leva ao ponto seguinte: eles não entendem a diferença de higiene do inverno e do verão, logo, trocam de roupa na mesma quantidade que trocavam no inverno, as lavam na mesma frequencia, tomam banho na mesma quantidade. O resultado só pode ser o fedor humano reinando nas ruas...
  • As moças, tão bonitinhas, arrumadinhas, com vestidos floridos... E com o pé de fora com unhas sinistramente não-feitas, meio pretinhas até. Andando como se ainda estivessem com mega botas rompendo 30cm de neve, parecendo uns soldadinhos. Não tem a menor condiçao de lidar com vestidos sem calça por baixo, ficando frequentemente com o bumbum de fora porque a bolsa puxou a saia e elas não viram, ou ainda mostrando até a alma porque sentam de perna aberta...
  • Os moços, tão malhados e produzidos, andando por aí com um fedor insuportável, com calças que precisam desesperadamente de uma máquina de lavar, e sentando em qualquer calçada imunda...
  • Alias, todos mundo tá sentando em qualquer canto, comemorando a vida ao ar-livre, torrando a paciencia de nós, velhos e chatos, que queremos um pouco do silêncio invernal.
  • E ainda tem os músicos de verão! Meu deus, quem deixou esse povo arrumar instrumentos? Sério, a neve vai saindo e os violões começam a "se afinar" nos apartamentos, quando o verão "finalmente" brota, todos vão pras ruas, munidos de seus violões, guitarras e instrumentos de percussão... todos se juntam na rua "pra fazer um som". Alguém explica pra eles que uma música precisa de alguma melodia???
  • Ah! E ainda tem as moças felizes que ficam gargalhando pelas ruas. São gritos altos e estridentes. No começo eu me assustava, achava que a moça tava sendo estuprada, sei lá. Agora descobri que é falta de noção mesmo, é não saber rir...
  • Ah, e os festivais? Sim, tem uns legais, mas pra quem cresceu com Chico Anísio na televisão, ter que ficar passando pelo Juste pour rire é quase uma tortura. Basicamente é a mesma coisa da Escolinha do professor sei lá quem... Sério, nunca entendi essas piadas. Aliás, nunca entendo piadas...
Por essas e outras razões, estou aguardando ansiosamente o outono chegar. As férias terminarão, o calor vai embora, as cores vivas sumirão e virá o lindo avermelhado outonal, as pessoas ficarão menos eufóricas e suas gargalhadas serão mais contidas... *sonhando*

26 de julho de 2011

As férias começaram!!!!!

TO DE FÉRIASSS!!!!!!!!!

Ainda não tenho um desfecho pro causo da professora bisonha. Ela me deu a nota da redação, mas me tirou meio ponto por ter sido sobre alguém que eu não conhecia. Detalhe: escrevi sobre a minha avó! Como ela não conhece pessas tão interessantes como a vovó, ninguém mais deve conhecer, né? Logo, a vovó não é minha avó! Enfim, vamos ver o resultado quando chegar a nota, aí decidirei que atitude tomar. Depois eu conto como foi... ehehehe

As férias começaram lindamente! O canicule maldito se foi e a temperatura está respirável. Antes tava difícil, mas agora tá ok. Isso, claro, com nosso amado ar-condicionado ligado, pra tirar a umidade e reduzir uns 2 graus. :)

Os planos de férias são: dormir até a hora que o corpo mandar, andar de bicicleta, tomar cervejinha gelada ou limonade maison, e arrumar o apê pro próximo ano letivo que está chegando.

Falando em ano letivo, vamos à uma pequena análise de como foi esse ano que passou:

Como todos sabem, eu tenho prêt et bourse, o que me exige cursar ao menos 4 disciplinas por trimestre. Em janeiro comecei e achei que 4 disciplinas não era assim taaannnttaaaa coisa, cheguei a me inscrever em 5 mas, me desaconselharam tanto que recuei.

De fato, 4 disciplinas é o limite da minha capacidade. Isso porque cada hora de aula equivalem a 3 horas em casa. O que resulta em 12 horas de aula + 36 em casa = 48 horas de estudo por semana. Isso SE eu fosse francófona, né! Mas como não sou, pode dobrar meu tempo de dedicação. Ainda mais nos primeiros meses!

O desafio de escrever numa outra língua pode ser enorme, principalmente se você gosta de escrever na sua língua original, como é meu caso. Eu sou cheia de vícios de linguagem, cheia de erros que cometo em português... Mas escrever em francês me desafia porque tenho que esquecer toda a base de composicão da frase e recomeçar.

A maior parte dos cursos de francês nos ensinam a conjugar o verbo, a falarmos com as pessoas... Mas construir um texto em francês é OUTRA coisa. Se você constrói a frase como faz em português, terá uma grande chance de não ser compreendida... Daí a razão pela qual escolhi fazer uma eletiva em francês escrito. ;)

O intensivão de leituras e trabalhos à entregar que as disciplinas nos exigem, faz com que a curva de aprendizado fique bastante acentuada. Lembro da primeira prova que fiz, foi desesperador ver minha própria incapacidade de comunicação (e eu ainda estava sem dicionário!!!)! Agora faço as provas bem zen, só me preocupo com o conteúdo, porque a maneira de apresentá-lo já está mais naturalizada.

Quando o trimestre de inverno terminou, eu só sonhava com a férias. Fiquei feliz pra caramba com meus 10 dias de férias que me permitiram dormir à vontade... eheheh

No trimestre da primavera (primavera/verão), muita gente sai do país, vai viajar, ver família, pegar carona na Europa... Outros ficam trabalhando e fazendo uma disciplina, no máximo duas. Eu, que preciso de bolsa pra viver, tinha que fazer 4. Achei que seria relativamente tranquilo, porque elas não começavam ao mesmo tempo, então daria pra ir administrando.

Bom, daria SE meus amados pais não resolvessem aparecer NO MEIO do trimestre: "não se preocupa conosco, querida, a gente não fala inglês ou francês, não conhecemos a cidade, mas ficaremos suuuuper bem andando por aí." LÓGICO que eu não os deixei soltos por aí, até porque tava com saudades! Bom, isso me dificultou bastante, mas rolou no final...

Agora que terminou e terei um mês inteiro de férias, to aqui repensando como foi esse período. Cara, eu to MUITO feliz. Nunca me desafiei tanto, nunca me vi crescendo dessa maneira. É fantástico conseguir se assistir evoluindo. Geralmente a vida vai num ritmo normal, e a gente vai crescendo sem sentir. Mas esse intensivão me deu a possibilidade de me superar, de ultrapassar meus limites, de desejar mais e mais.

O que posso dizer a quem pensa em vir e começar a vida estudando? Venha e faça! Reserva alguma energia antes de vir, fica de bem com a vida, vai estudando seu assunto. Depois mete as caras, vira amiga do pessoal da biblioteca porque eles são legais, mora lá. Pronto.

Esse é o tipo do conselho que o Gato depois vai me repreender (rindo). Ele diz que fico estimulando as pessoas e depois, se der errado, vira minha culpa. Mas aconselho mesmo assim: venha, faça, viva. 

Dar errado, ou não, é uma questão de ponto de vista.  Eu tava preparada pra me estrupiar nas primeiras disciplinas que fizesse, é bom se preparar pra isso. Até agora passei em todas, mas comecei tirando notas baixas e fui aumentando conforme meu francês e minha compreensão da maneira quebeca de pensar foram melhorando. Comecei recebendo um belo B- na cara, mas fiquei feliz porque fui capaz de tirar B- numa disciplina que é difícil pra caramba, e ainda foi a minha primeiríssima! Depois dela tirei B, depois B+, depois A-... Espero conseguir um A em alguma das disciplinas que ainda não recebi a nota! *rindo*  Mas quero esse A não pela nota em si, mas pra confirmar aquilo que eu sinto, que to cada vez mais melhorando. ;)

Enfim, mais um post gigante! Não sei como alguém lê até aqui!!! *rindo*

Bisous,
Alice

21 de julho de 2011

Antes das férias, desabafo cansado

Hoje estou exausta e perplexa, me deparei com uma situação que nunca vivi e não pretendia viver jamais na vida.

Lembra que ontem eu esta empolgada porque estava escrevendo um texto pra aula de francês escrito? Pois é, comecei às 12h30, parei pra escrever aqui uns 20 minutos, aí a biblioteca fechou as 17h. Fui pra casa, dormi uma hora e voltei a trabalhar no texto... Parei de escrever, contente com o resultado, às 23h30. Foram umas 8h30 de trabalho, escrevendo, reescrevendo, revendo, lambendo o texto. Teve um momento que vi que estava me superando, que estava ficando bom, com cara de francófono, fiquei orgulhosa de mim.

Muito bem, muito bom. Entreguei o texto e, ao final da aula, fui convocada, junto com um monte de aluno bisonho que não vai na aula e não faz os exercícios. Simplesmente, a professora nos acusava, a todos, de termos plagiado o texto! Eu, que passei 8h30 trabalhando, que melhorei, que me superei, porque havia escrito um texto excelente, só poderia ter plagiado!

Eu to TÃO chateada, magoada, me sentindo humilhada, sacaneada, desrespeitada! Sério, então eu me supero, faço um texto que, segundo ela, "deve ter sido escrito por uma professora de francês", e o que recebo como recompensa? Um lindo A e um "Bravo!" ? Não! Sou acusada de não ser capaz de fazê-lo e de ter pedido pra outrem escrever. SERIO???!!!!

Eu, que tenho medo até de colar em prova que o professor sai da sala e nego taca bolinha de papel com o resultado de um canto pro outro; eu, que estudo feito uma filha da puta pra tentar me superar; eu, que adoro escrever; eu, que ESCOLHI fazer essa disciplina, porque ela NÃO está sequer no meu currículo; EU sou acusada de PLAGIAT????!!!!!!!!

Depois de toda uma confusão, bate-boca entre alunos e a professora, latinas chorando e se lamentando, gente indo embora batendo a porta... Fui pro banheiro e chorei, liguei pro Gato e chorei. Quando estava saindo (e ele indo correndo me buscar pra me proteger desse mundo doido), me deparei com a professora sozinha. Respirei, enxuguei as lágrimas e fui falar com ela.

Eu disse: "A senhora sabe que sou dedicada, que tenho boas notas, que não sou como alguns alunos que estavam aqui hoje. Não entendo ser acusada de plágio, nunca passei por isso". Ela respondeu que não acha que eu plagiei, mas que alguém corrigiu meu texto, porque está excessivamente bem escrito, que não é do nível da turma. Então expliquei que fiz meu teste de nívelamento em janeiro, de lá pra cá fiz 7 matérias, com trabalhos de 40 páginas... que desenvolvi um método de correção e melhoria dos meus textos, blá, blá, blá. Ela disse: Ah bom, não sabia disso e não tinha como saber. E só aí ela se desarmou.

PORRA, por que não chamou aluno por aluno, pra saber cada caso? Por que não me tratou diferente se, segundo ela, sou uma boa aluna? NÃO, isso não é uma postura aceitável!

Enfim, amanhã tenho minha prova final. Ela disse que olhará nossos textos na prova final e então avaliará o que fará. Pode?! Tive 8h30 pra fazer aquela redação, não se pode esperar a mesma qualidade numa redação feita em 2 horas!

Enfim, mais um daqueles desabafos que não acrescentam nada à ninguém, mas que me fazem gastar o que me desgasta.

Aprendizado do dia? Nunca se supere! :/

Au revoir, bisous, à plus tard...

 

20 de julho de 2011

Alice não morreu, virou purpurina

E num longo suspiro, saído d'uma jornada profunda, eis que renasce Alice!

O transe foi longo e prazeroso: o inverno, os estudos, os amigos. Mais eis que chega o verão e com ele o calor, pessoas felizes, gente na rua... o horror, o horror! E Alice desperta de seu sono profundo, desperta num grito, num pesadelo onde só o ar-condicionado pode fornecer a solução. Estaria ela novamente em terras cariocas? AAHHHHHHHHHH

Acordando enquanto planeja suas férias, Alice repensa esse período de vida silenciosa em Montréal. Até aqui tudo funcionou como planejado: muito estudo, alguns amigos de várias nacionalidades, nada de churrasquito brasileiro, mais estudo, bons passeios. Se não fosse pelo calor, ela até poderia dizer que a vida estava perfeita. 

No quesito estudo, onde basicamente se concentra sua vida, ela avalia que as coisas se saíram melhor que o esperado. O francês é um desafio cada vez mais fácil de transpor (mesmo ela sabendo que ainda falta MUITO pra ser fluente como deseja). Os cursos são pesados, exigentes, com bons professores e alguns ruins, os colegas de turma são interessantes. A universidade é excelente e a biblioteca a atende perfeitamente.

Mas Alice se preocupa com os estudos. Pra se manter na linha, com boas notas e bolsa, ela tem que manter uma média de 4 disciplinas por trimestre (incluindo o trimestre de verão, que é condensado), o que significa não ter tempo pra quase nada. E assim passou o Festival Francofolie, o Festival de Jazz, o Juste pour Rire... E passarão outros festivais e coisas mega legais. Por que ela faz isso? Porque ela gosta! *rindo*

Alice pensa no Gato, se preocupa com ele, sonha com ele, o ama. Mas ele vai muito bem, obrigada. Ele está encaminhando a própria vida, arrumando suas coisas, aprendendo e aprendendo. Por vezes os dois se estranharam, mas era tensão com o calor chegando: ar-condicionado no máximo e problemas resolvidos. Curioso casal, não?

Os planos das merecidas férias não saem da mente, nem na hora de fazer as redações que as aulas de francês escrito exigem. A redação que ela deve escrever no momento é do tipo narrativa, daí o leitor pode compreender o tipo de post que está lendo... 

As férias! Um mês inteiro pra dormir até mais tarde, andar de bicicleta, ver paisagens lindas, arrumar o apê novo (sim, Alice se mudou), ler os livros atrasados, arrumar documentos, buscar estágio... Acho que Alice não terá tempo pra tudo que planeja, mas veremos nos capítulos seguintes dessa história.

Agora é hora d'Alice voltar ao seu sono profundo e terminar os trabalhos que ainda restam pra poder entrar de férias.

Au revoir.