31 de março de 2010

Arquitetos no Québec - Equivalência de estudos

Todo mundo fala da regulamentação profissional, mas como tem pouco postado sobre a profissão de arquitetura, aqui vai o que já pesquisamos.

O Québec, diferente do Brasil, tem uma Ordem de Arquitetos, que tem regras específicas sobre a profissão e que exige que, ao final do curso, o recém formado faça um teste de aptidão, que definirá se ele tem o conhecimento mínimo para o exercício profissional. É um processo bem parecido com a Ordem dos Advogados do Brasil.

Então, o procedimento para fazer sua equivalência na Ordem de Arquitetos é:
    • Traduzir os documentos (tanto de identidade como escolares). Não esquecer que têm que ser traduzidos por um tradutor juramentado do Québec, não adianta ser um tradutor ótimo brasileiro
    • Dar entrada na évaluation comparative des études, que diz ao quê equivale o que você estudou. No caso do Brasil com o Québec, temos um sistema educacional próximo (tempo de estudo, complexidade...) e tudo o que estudamos aqui vale lá.  Pra saber mais 
    • Com tudo isso em mãos, procurar a OAQ e dar entrada no processo de equivalência de conhecimento. Nesse momento é MUITO provável ter que voltar à universidade pra fazer algumas disciplinas. Nada mais justo, já que nosso foco em arquitetura tropical e de concreto não tem nada a ver com o foco deles em arquitetura pro inverno e de gesso cartonado; 
    • Ao final dessa etapa, fazer um teste de conhecimentos de legislação e técnica construtiva.
    Mas antes de entrar em desespero, pois isso pode demorar anos, existem duas boas notícias.

    A primeira é que o governo resolveu agilizar esse processo, pois eles precisam de profissionais atuando. Por isso, agora (pra quem entrar com o processo em 2011) o tempo máximo para que a burocracia seja cumprida é de 1 ano. Claro que também depende de quanto tempo a pessoa terá que cursar na universidade, mas...

    A segunda é que é possível pedir, paralelamente, a equivalência à profissão de técnico em arquitetura, na Ordem dos Técnicos. Isso é excelente, pois propicia que o arquiteto brasileiro possa começar a trabalhar assim que chegar no Québec. Verifiquei as disciplinas do curso de técnico e são equivalentes ao nosso basicão do início do curso de arquitetura do Brasil.

    Existe tudo isso pra profissão de urbanista também. Mas seria um pouco mais complicado já que nosso curso no Brasil é 70% arquitetura e só 30% urbanismo. Ou seja, são MUITO mais disciplinas pra cursar na unversidade. Mas os fãs do urbanismo devem dar uma olhada pois, certamente o curso deve ser mais interessante que o nosso daqui. 


    Uma informação nada animadora pros urbanistas é que, assim como no Brasil, tem MUITO mais empregos pra aquitetos que pra urbanistas no Québec, mas nada é impossível.

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    2011-04-21


    Acho que falo disso em vários posts posteriores a esse, mas vale a impressão do momento.


    Eu acho que quem quer trabalhar como arquiteto aqui pode vir sem medo. O técnico em arquitetura tem capacidade pra fazer bem mais coisas que um técnico em edificações no Brasil. 
     
    Mas a informação mais valiosa que eu tive foi de uma colega arquiteta. Ela disse que ter a Ordem não é essencial. Ela é formada há mais de 10 anos, tem um escritório, e NÃO tem (e não pretende ter algum dia) ordem profissional. Não tenho como dar detalhes da dinâmica disso porque não a vejo nunca, mas foi isso que ela me disse até agora. Ela falou: "Envie seu currículo pros grandes escritórios, eles estão desesperados por arquitetos. Não aceite menos de 18$ a hora. Trabalhar tempo parcial não é uma opção por causa dos prazos pra entrega dos projetos."
     
    Outra coisa que eu já sei é que a Ordem dos Urbanistas é MUITO mais bem vista que a de Arquitetos. Tudo indica que eles são mais simpáticos e abertos. O que eu sei é que a Ordem é infinitamente mais barata e que eles aceitam alguns mestrados ou experiencia profissional como forma de realizar a equivalência.
     
    Mas veja bem, eu não procurei nenhum deles, nem emprego, por isso não dá pra ter certeza de nada disso. ;)

    30 de março de 2010

    Pets e a mudança

    Tenho acompanhado alguns blogs de pessoas que tem bichinhos, como nós. E sempre a questão é sobre como transportá-los. Obviamente também estamos nesse drama.

    Quando se trata de um cachorro, acho que tudo é um pouco mais fácil. Eles ficam assustados, mas se socializam com mais facilidade. Já os gatos, parece que vão morrer.

    Quando levo o nosso gato pra veterinária, ele fica como se estivesse indo pra forca. Quando chega lá fica todo besta se mostrando, mas o percurso parece o final do mundo. Aí estamos assustados imaginando como ele se comportará durante a viagem.

    Até agora o plano é que ele vá como carga viva, pra ir direto pra Montréal, ao invés de fazer milhares de paradas, rever a gente, nos perder de novo... Sei lá, estamos processando essa informação.

    A outra coisa que nos perturba é como faremos assim que chegarmos. À princípio tínhamos decidido alugar um apartamento de temporada, pra procurarmos um definitivo com calma. Mas achar um de temporada que aceite gatos tem sido um desafio! 

    Como temos medo de algumar um apto por um ano sem termos ao menos entrado uma vez e sentido o clima, passamos pra opção de ir pra um hotel que aceite pet. Existem vários em todo o Québec. Mas o problema é que eles têm uma regrinha que complica tudo. É que o pet não pode ficar sozinho no quarto, tem que ficar com o dono. Se o dono sair, ele tem que ir também.

    Novamente, se fosse um cachorro, não tinha erro. Ele ficaria na coleirinha passeando conosco. Mas o nosso gato? Ele se assuta só de colocar um colarzinho básico! *rindo*

    Aí passamos pra um plano nada animador. Ele ficaria no no Brasil, num hotelzinho, durante uns dias e depois seria enviado como carga viva pela empresa Doc-dog, de São Paulo. Eles são especializados nisso e não são tão careiros assim, eu acho. Vou pesquisar esses preços melhor e depois passo a informação.

    Ele já passou 10 dias no hotelzinho da veterinária aqui do Rio. Como a castração era um passo importante pra ele virar cidadão canadense e ele já tava aparecendo todo machucado da farra, resolvemos que seria um bom momento assim que pegamos o CSQ. Ficamos preocupados no início, mas era importante então topamos. Mas ficamos com o coração na mão. No final dos 10 dias ele tava lindo, feliz, mais limpo que nunca e castrado.

    Então fica a questão: como fazer pra transportar e estar em chez nous avec lui, e procurar apartamentos?

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    2011-04-21

    Tivemos a sorte de ter minha prima morando aqui exatamente nesse nosso primeiro ano E dela morar num prédio que aceita animais! Então chegamos e fomos pra casa dela até acharmos nosso apê.

    O que faríamos, se isso não tivesse acontecido, era sublocar um apê por uns 2 meses. Assim teríamos tempo de procurar um bom apê, mas ficaríamos bem instalados com nosso gato nesse meio tempo.


    Quem somos?

    A Pati  me perguntou qual o nome do meu gato. Então percebi que posso não ter feito uma apresentação da família. Será?

    Bom, obviamente nosso nome não é Alice e o Gato de Cheshire. Mas, como muitos, prefirimos nos manter no anomimato até tudo estar resolvido. E os personagens da Alice e do Gato sempre nos interessaram. Ela é meio alucinada, fica viajando na maionese. Ele é super perspicaz, cheio de observações agudas sobre tudo.
    Nós dois escrevemos neste blog, por isso, ao final de cada post fica dito quem foi que postou. Além disso, usamos fontes e formatação diferente, pra facilitar o leitor desavisado.

    Além de nós dois, temos um gatinho. Esse, da espécie felina de fato.

    Quando chegarmos em Montréal, uma das primeiras resoluções, após achar um apartamento que aceite bichinhos, é encontrar um cãozinho pra ser irmão do nosso gatinho. Acho que será legal ter um filhotinho em casa! :o)


    O tempo agora:
    Montréal 1ºC / Rio de Janeiro 28ºC 

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    2011-04-21

    Desistimos dessa idéia do cachorrinho. Pra isso teríamos que ter mais tempo pra passear com ele e não é o caso no momento.

    Agora estamos nos mudando pra um apartamento que o nosso gatinho poderá sair mais à vontade e fazer amiguinhos na rua. Ele ficou muito preso nesses seis meses porque tava frio e ele se assutou com isso, e depois porque não tem uma saída direta pra rua aqui nesse apartamento.

    26 de março de 2010

    Os Sem-noção e a saúde no Québec

    Algumas pessoas ao lerem esse blog ficam chateadas, pois falamos "muito mal" de nossos conterrâneos. Falamos mesmo, mas "não é nada pessoal". É que creditamos que a vida tem que ser vista criticamente, exatamente pra nunca virarmos do grupo dos sem-noção. Um ótimo exemplo é a questão do sistema de saúde. 

    Minha família toda tem o que seria "o melhor" em termos de sistema de saúde no Brasil. E mesmo ele deixa a desejar de vez em muito. Em setembro meu pai foi internado e, como não era a primeira vez (e nem será a última), minha mãe prontamente disse pra que hospital queria ir. Mas, não havia vagas. Não tinha vaga em praticamente lugar nenhum, só num hospital "sinistrinho" no centro da cidade. Como era um caso realmente grave, lá fomos nós.

    O que acontece é que nosso sistema de saúde público faliu e todos que podem (e que não podem) têm um plano de saúde privado. Os planos variam de R$50,00 à R$1000,00. Ou seja, todo mundo vai pros hospitais particulares, que estão super-lotados e sem nenhum interesse de melhorar muita coisa, pois já tem cliente sobrando.

    Vejo uma galera reclamando que tiveram que esperar de 2 a 3 horas pra serem atendidos na emergência hospitalar em Montréal. Aqui no Brasil, com nossos planos de saúde "maravilhosos", quando você quer ser atendido numa emergência e não tem nada grave, fica lá as mesma 2 ou 3 horas. Eu digo isso com toda a categoria de quem frequenta hospital desde 1996.

    Outra: "Ah, fui marcar uma consulta aqui no Québec com o ginecologista e só marcaram pra daqui a 20 dias, um absurdo!". Cara, ontem marquei meu ginecologista e, adivinha, são 25 dias pra ele ter uma data pra me receber.
    Enfim, acho que quando  a pessoa mora sempre num lugar, acha tudo normal. Aí quando se muda, fica observando, daí a estranheza e indignação. Minha proposta é: por favor, reflita antes de falar/pensar essas coisas. O mundo pode ser diferente do que você acredita. 


    O tempo agora:
    Montréal -10ºC / Rio de Janeiro 27ºC 
    (-10ºC no dia 26 de março, ai que inveja de quem está lá!) 

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    2011-04-21

    Ainda não pisei nas instalações médicas daqui. Aliás, isso tem que entrar pra minha lista de coisas à fazer nas férias: pedir pra entrar na lista do médico de família e ver como as coisas de fato funcionam.

    O que eu já vi foi minha prima que levou a filha no hospital e ficou umas 4 horas pra ser atendida. Além dela, uma amiga quebeca que ficou 5 horas pra ser atendida fora de Montréal.

    O que descobri, e me preocupa bastante, é que o número de clínicas particulares aumenta cotidianamente. Uma colega minha da universidade é advogada do sindicado dos médicos residentes. Ela disse que essas clínicas não são legalizadas, mas também não são totalmente ilegais. O governo, como não dá conta da demanda, fecha os olhos e deixa rolar.

    Na boa, to foríssima de clínica particular que não tem regra de funcionamento!

    Outro dia tava no jornal que apesar da falta de médicos ser crônica, só uma porção minúscula dos imigrantes médicos consegue legalizar seu diploma aqui. Assim fica difícil, né?

    25 de março de 2010

    Tudo e Nada

    Hoje não tenho nada a dizer, mas acho que nada sempre leva a alguma coisa. 

    É como fazer análise. Quando eu resolvi fazer análise, a "Maria" disse que era preu frequentar 2 vezes por semana. Aí pensei: 2 vezes? Devo realmente ser meio maluca. Foi frequentando que descobri que a primeira vez você vai pra ficar contando da sua semana, do namorido, da amiga, do trabalho... Aí, no segundo dia, quando você não tem mais nada pra dizer, é que começa a falar. Bons tempos...

    Estamos recebendo um amigo que mora noutro Estado. Sempre que recebemos amigos, fico meio ansiosa. Primeiro porque estou feliz em rever alguém que gosto, depois querendo que esse alguém vá embora! *rindo*

    A coisa que mais me angustia é quando a pessoa se despenca pro Rio de Janeiro e fica dormindo até meio dia. Pô, tão pouco tempo, tanto por fazer... 

    Mas afinal, o que eu tenho a ver com isso? Porque preciso que a pessoa faça alguma coisa da vida dela? Eu também gosto de dormir, se estivesse de férias não dormiria até mais tarde? Acho que preciso de mais uns anos de análise pra responder isso, ou não. Pra que eu preciso saber o por quê de tudo?

    Acho que fico triste com a pessoa que tem oportunidades e não aproveita: o casal carioca que morou 1 ano em Montréal e conheceu menos coisas que eu em três semanas; o casal francês que passou 6 meses no Rio e só conheceu o entorno de onde moraram, de onde trabalharam, e onde os amigos os carregaram; o pernambucano que vem pra passar uma semana num congresso e, além de não frequentá-lo direito, dorme até meio dia e o pior é que ele não voltará no Rio nos próximos 10 anos... 

    Como diria o Gato: Paciência Gafonhota! *rindo*


    O tempo agora:
    Montréal 3ºC / Rio de Janeiro 27ºC

    17 de março de 2010

    Quer ser meu amigo?

    Somos brasileiros então somos amigos? Não necessariamente.

    Tenho poucos amigos. Mesmo no facebook tenho poucos amigos. Não estou querendo dizer que isso é bom, só que eu sou assim. Uma pessoa passa a ser minha amiga quando nos conhecemos há algum tempo e durante esse tempo ela mostra do que gosta, como o faz, em que acredita. Se formos parecidos, podemos ser amigos; se nem tanto, podemos ser amigos "ma non troppo". Mas se alguém dá declarações que eu não concordo, porque seriamos amigos?

    O fato de morarmos no mesmo bairro, não nos faz amigos. O fato de termos nascido na mesma cidade, não nos faz instantaneamente amigos. Se gostarmos de coisas parecidas e acreditarmos em coisas parecidas, ai sim, poderemos ser amigos.

    Talvez por ser assim estranho é que tenho dificuldades para entender certas coisas. Pessoas que não tem nada em comum, apenas o fato de terem nascido no mesmo pais, tornam-se instantanemente amigos porque vão morar em outro país. Mas acredito que pessoas em situação difícil devem se ajudar e até virar amigos.

    Sei que existem pessoas com os mais variados motivos se mudando para o Canadá. Mas não consigo entender determinados comportamentos. Por exemplo: uma pessoa no Brasil tem emprego, casa própria, carro, poupança. Antes de ir para o Canadá, viaja por várias cidades do Brasil para de despedir (como se nunca mais pudesse voltar) e quando chega lá, vai pegar comida gratuita que deveria ser destinada às pessoas carentes (e alguns ainda reclamam que as latas estão amassadas). Acredito que essa comida é para ajudar a todos que precisam, mas pegar só porque é de graça, depois ir ao supermercado pra complementar a feira e ainda dizer que é pra economizar dinheiro? Alguém pode me explicar?

    Não quero que os quebequenses achem que todo brasileiro é assim. Li para uma amiga quebequense um desses blogs e ela ficou revoltada com o sujeito que foi de carro buscar a comida e deixou alguém que precisa passando fome. Gostaria de ver essas pessoas na fila de um Restaurante Popular no Brasil.

    Não quero ser amigo de quem pensa assim, nem no Brasil, nem no Québec, em lugar nenhum, nunca.

    Quer ser meu amigo?

    15 de março de 2010

    Sonhos bizarros

    Não sei se foi porque li a mensagem da Juliana que contava que sonhou que saía do funeral/enterro da mãe e chegou a carta de pedido do exame médico do processo federal, mas hoje tive um sonho bem pesadinho com meus amigos que se foram.

    Na faculdade descobri porque os seguros de carro são mais caros pras pessoas da faixa dos 20 anos, principalmente se for homem. É que a taxa de mortalidade e merda que esse grupo faz, é bem superior aos demais.

    Primeiro, em 1998, foi um acidente de carro em Recife. Nele uma amiga (que estava no banco de trás do carro) morreu de forma trágica, mega traumático.

    Depois, em 2001, foi a vez de um amigo querido, amado, salve-salve. Ele sempre foi brigão, nas festas eu ficava o distraindo pra evitar que fosse "defender" alguma menina importunada. Bom, depois que ele já era "um homenzinho", casado, mais calmo, ele se mudou pra BH pra morar com a paixão de sua vida. Que casal delícia. Um belo dia, foram numa boate, um cara deu em cima da mulher dele, ele ficou irado, deu um esporro no cara e resolveram ir embora. Na saída, o sujeito saiu, chamou o meu amigo e deu um tiro na cabeça dele.

    Por fim, em 2002, foi um carro lotado de amigos. Eles saíram pra noitada (leia-se muita bebida), resolveram pegar estrada e, voilà, bateram de lado num caminhão. O resultado? O carona esmagou o maxilar e os dois de traz morreram.

    O mais chocante pra mim, por mais bizarro que pareça, é que poderiam ter sido outras pessoas, mas parece que essas foram escolhidas à dedo. Todos os quatro se destacavam por sua hiper-sensibilidade, eram mega-amorosos, especiais não só pra mim, mas pra um grupo tão grande de pessoas que no enterro até chocou...

    Bom, o tema dessa mensagem são os sonhos bizarros, mas achei que não faria sentido sem essa introdução.

    Acontece que de vez enquando sonho com esses amigos e, hoje, tive um sonho muito louco e doloroso.

    Sonhei que todos estávamos juntos, numa aula ministrada pelo Chico Buarque, que tinha umas teorias filosóficas interessantíssimas. Como esses quatro sempre foram questionadores da ordem mundial, com espírito aguçado e provocadores por natureza, eles questionavam, movimentavam tudo.

    Encabeçando esse grupo, tinha o professor (que começou sendo o Chico, mas agora virou o Napoleão Bonaparte). Mas havia um outro grupo da turma que odiava esse professor e resolveu dar um basta.

    Marcaram num barzinho e deixaram uma mala com dinamites no pé do proferror e depois saíram. Em algum momento o professor se mexeu e a mala foi parar no meio dos meus amigos. Todos morreram. (acho que aqui eu já peguei do filme Operação Valquíria...heheheh).

    O fato é que eles morreram. Aí me deu aquele sentimento de perda pela segunda vez e comecei a chorar. Acordei chorando e continuo chorando. 

    Amigos, sinto muita falta de vocês.


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    Montréal 3ºC / Rio de Janeiro 26ºC

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    2011-04-21

    Droga, fui reler o post e comecei a chorar de novo. Tem umas feridas que nunca fecham. :/

    14 de março de 2010

    Ter bebê no Québec 3 - parto humanizado

    Quando resolvemos engravidar, passamos a estudar tudo sobre o assunto. Nessas pesquisas, descobrimos as maravilhas do parto humanizado.

    Na verdade, na escola, lá pra oitava série (como se chama isso nos dias atuais?), vi um video do nascimento de uma colega de classe que tinha nascido na piscina. Desde então fiquei fascinada. Um viva pras escolas alternativas! hahaha

    Bom, voltando à vaca fria, decidimos que queríamos que nosso filhote nascesse numa banheira bacana, na nossa casa, com amigos especiais convidados, iluminação ideal e músicas cuidadosamente selecionadas. Como moramos a exatos 3 minutos da melhor maternidade do Rio, se tivéssemos qualquer tipo de complicação, correríamos pra lá.
    Mas aí veio a reação das pessoas, achando um escândalo. O interessante é que "cada um faz o que quer da própria vida", mas se o outro fizer diferente, todo mundo cai de pau...

    Como resolvemos esperar primeiro nos mudarmos pra Montréal, lá fomos nós de novo à pesquisa. E aí entrou o grande diferencial, pra mim definidor.
    Acontece que eles acreditam que o parto tem que ser o mais natural possível. Existem vários centros de auxílio à mulher, que dão aula de parto, tem assistência física e psicologia e tem piscininhas para que as mães tenham seus bebês lá, do jeitinho que queríamos.

    Aí, quando fomos ao Canadá ano passado, encontramos uma brasileira grávida que mora em Ottawa. Ela disse que vai ter o neném no Brasil, porque quer a estrutura do hospital, com anestesia e cesariana. Disse também que lá isso é bem mais difícil, que eles gostam "desses partos hyppongas na banheira". Nossa, ela nem sabe o quanto eu gostei desse depoimento! hahahaha

    Então é isso, futuras mamães e papais, se pensam em ter filhotes em terras quebequenses, está na hora de irem mudando seus conceitos. Parto humanizado na cabeça! ;o)


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    Ter bebê no Québec 2

    Pra quem trabalha e engravida a coisa é bastante interessante. Você pode tirar até 1 ano de licença maternidade ou dividí-la com o papai por até 6 meses pra cada (coisa completamente impossível no Brasil!!).

    A empresa que você trabalha paga uma parte e o governo completa. No  final você fica com cerca de 80% do seu salário para ficar em casa com seu "baby mais lindo do universo inteiro". hehehe

    Outra coisa interessante é que quanto mais filhos, menos imposto. Isso faz o maior sentido já que, quanto mais filhos, mais cara é a vida. Não se trata de lucro, mas de equilíbrio social.

    MAS, nem tudo são flores. As mães de lá não tem a "boquinha" das daqui. Ninguém dá o assento, não passa na frente da fila, não tem ajuda pra carregar o carrinho pelas escadas (muitas escadas mesmo) do metrô. O lema é: teve filho? Você escolheu, você resolve, você se vira.


    O tempo agora:
    Montréal 5ºC / Rio de Janeiro 25ºC

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    2011-04-21


    Uma coisa que achei legal é que, pelo menos no meu coin, a maioria dos pais não usa carrinho pra levar os bebês. Eles tem uma super mochila ou algo desse gênero, então andam soltinhos por aí. Além disso, assim que a criança começa a andar, acaba a "boquinha" de ficar no colo e vai andando, seja lá o clima que for. Então rapidinho a pessoinha entra no ritmo da cidade onde todos andam rapidinho.

    A excessão disso geralmente está nos pais judeus ortodoxos (moro na região com maior concentração de judeus ortodoxos do Canadá!) e nos pais latinos. Esses geralmente tem super-carrinhos e seus filhos ficam "andando" neles até uns 4 anos de idade. Tem umas crianças que são tão grandes que o pé delas fica encostando no chão!

    Ter bebê no Québec 1

    Nós não temos filhos. Mas sim, pretendemos.

    Somos casados há 8 anos e prá nós, tudo deve ser devidamente planejado. Por isso, escolhemos esperar até o momento certo pra ter um bebê.

    Como já estamos com pra lá de 30, tá chegando um certo limite físico (velhice é foda! *rindo*). E como estamos de mudança pra Montréal, está chegando o tal momento ideal. Nosso plano é engravidar no primeiro ou segundo ano no Québec, dependendo dos estudos e do corpo, claro!

    Pra quem tá no mesmo barco, uma boa notícia é que as mamães de filhos de até 6 anos e que estudam, têm direito à bolsa de tempo integral, mas só precisam estudar tempo parcial. Ou seja, você pode pegar leve no estudo para ter tempo pro seu bebê, mas não precisa entrar em pânico com as finanças.

    Outra coisa boa? As universidades têm garderies (creches) para os filhos de seus alunos, professores e funcionários. Assim elas garantem que as mamães-leoas ficarão calminhas e concentradas nos estudos...hehehe


    O tempo agora:
    Montréal 5ºC / Rio de Janeiro 25ºC

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    2011-04-21

    Sobre as garderies, tenho só ouvido falar como é complexo conseguir uma vaga. Tem gente que fala em 2 anos! Ou seja, pode não ser viável que seu filho fique na garderie da universidade. Mas isso tudo é chute e "disse-me-disse" porque na real não tenho muito contato com esse mundo.

    Minha prima teve problemas pra achar uma vaga numa garderie decente quando chegou. Mas o caso dela é bem peculiar porque ela está aqui só por uma temporada de um ano, então não teve como esperar por uma vaga na universidade onde ela está estudando. Ou seja, terminou escolhendo uma escola particular pra filhota dela.

    Nesse quesito, me chocou um pouco o preço, acho que são uns 600$ por mês! Tipo, é o preço da universidade pra quem faz tempo completo!

    Mas pra quem vem pra cá, engravida aqui e tals, é só se inscrever na lista de espera quando já estiver grávida. ;)

    Estudando e vivendo ($$)

    Na UdeM (assim como em todas as universidades do Québec) temos a possibilidade de pedir o prêt et bourse, que dá o suporte ($$) enquanto estudamos e depois devolvemos parte desse valor ao governo. Nada mais justo! Assim o Estado pode continuar (de forma sustentável) a manter outros estudantes indefinidamente.

    Além do prêt et bourse, existem bolsas de excelência e outras, oferecidas pela universidade, pelos núcleos de pesquisa ou pelo próprio curso. Existem também vários casos de professores que convidam os alunos (e pagam um salário) para participar de suas pesquisas.

    Os professores têm verba específica para isso, além de outras fontes para tudo o que precisarem, como auxílio para ida a congressos, etc.

    Por fim, ainda existe a possibilidade de trabalhar (tempo parcial) na própria universidade. Pode ser na biblioteca, na cafeteria, no atendimento ao público, e por aí vai. Esse trabalho não impede o recebimento de bolsas e pode te ajudar a conhecer mais pessoas. Não é o ideal, mas é uma opção a ser levada em consideração.


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    Montréal 5ºC / Rio de Janeiro 25ºC

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    2011-04-21

    Eu estou com Prêt et Bourse e foi a melhor coisa que poderia ter acontecido. Estou com o auxílio financeiro que preciso no momento e ficarei feliz em repor aos cofres do Estado.

    No primeiro trimestre é complicado pedir algum tipo de bolsa, mas agora já dá pra ver outras possibilidades. Normalmente eles oferecem mais bolsas pra quem já tem um ano. Isso to falando pra quem estuda no primeiro ciclo. O segundou ou o terceiro ciclos tem outra dinâmica que eu ainda não conheço bem.

    Nós e os estudos

    No nosso caso (meu e do Gato), nós gostamos de estudar. Gostamos tanto que demoramos séculos pra terminar a graduação e, em seguida, entramos na especialização (ele no mestrado e eu no MBA). *rindo*

    Somos formados em arquitetura e urbanismo. Ele é mestre em preservação do patrimônio e eu sou especialista em desenvolvimento sustentável. Pode até parecer que, por nós dois termos feito a mesma graduação, gostamos da mesma coisa, mas não é bem assim, porque o curso de arquitetura na verdade é curso de: arquitetura, urbanismo, preservação, design, interiores, desenho, engenharia..... Ou seja, você termina sendo um generalista, por isso é tão importante fazer uma especialização depois, pra que se possa escolher de fato o seu caminho.

    No Québec queremos começar a vida estudando, construindo novas relações profissionais. Por isso, o Gato segue para o doutorado e eu decidi "recomeçar".

    Acontece que sou uma arquiteta que não gosta de projeto, o que complica muito minha vida. Gosto de pensar o urbano, isso sim.  Quando entrei no MBA de desenvolvimento sustentável descobri que era possível investir no pensamento urbano de maneira mais complexa. Daí passei a me interessar pelas conferências das Nações Unidas para o meio ambiente. E foi assim que percebi que o ideal pra mim é investir numa nova graduação, a de Études Internationales, da UdeM.

    Esse baccalaureat tem um dos focos em desenvolvimento humano (e urbano). Com essa ótica internacional, ambiental e urbana, acredito que finalmente encontrarei meu caminho.

    Já busquei muito no Brasil um curso que me completasse como esse, mas não existe! Além do mais, como eu faria para parar de trabalhar e só estudar?


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    2011-04-21

    Bom, não tive coragem de ir pra uma nova graduação. Fiquei me imaginando mais três anos, com um monte de gente bemm  mais nova que eu... dá até arrepio! *rindo*

    Eu decidi fazer um certificat, que é uma especialização de primeiro ciclo (nível de graduação), que dura só um ano. Além disso, ele é oferecido pelo setor de Études Permanentes, que é direcionado pra adultos. Ou seja, tenho aulas normalmente à noite e nos finais de semana, com adultos já com uma história profissional e que procuram esse curso pra completar sua formação. A maioria tem graduação, mestrado, 10 anos de experiencia profissional e por aí vai.

    O Gato também não foi diretamente pro doutorado, fai fazer uma especialização de um ano primeiro.

    Acho esse método bacana porque teremos segurança quando entrarmos no mestrado (eu) e doutorado (ele). Segurança do tipo de conteúdo/bibliografia daqui, segurança com o francês, segurança com a forma de funcionar da universidade, conheceremos já pessoas da nossa área e por isso não chegaremos tão verdes nos cursos, e por aí vai.

    Depois de um trimestre eu só tenho a concordar com essa decisão inicial. Meu francês deu um salto de qualidade incrível, mas foi dureza escrever tantos trabalhos. Se eu tivesse ido direto pro mestrado não sei se teria dado tão certo.

    Os outros que me desculpem, mas estudar é fundamental

    Sei que depois de fazer 13 anos de ensino fundamental, mais 4/5/6 anos de graduação e mais especialização... As pessoas que não pretendem seguir um caminho acadêmico gelam em imaginar o retorno aos estudos.

    Mas no Brasil quem não tem 5 milhões de diplomas dificilmente vai conseguir um trabalho decente. Isso significa que não terá dinheiro para pagar o mínimo: escola dos filhos e plano de saúde para a família. E assim, todo mundo que pode tem pelo menos um MBA.

    Mas como diria a Mi, no blog "no Québec é diferente"  é possível não trilhar todo esse caminho. Isso porque o equivalente deles ao ensino fundamental brasileiro, e até mesmo a graduação (1 cycle), tem opções mais técnicas/especializadas. O salário é ok e você não tem que pagar escola e plano de saúde (que inclusive é proibido por lá). Ou seja, garantir uma infra boa não é tão complicado e nem um privilégio, como no Brasil.

    Agora, se ilude quem acha que não terá que estudar nada quando chegar por lá. Minha tutora do FEL (francisation en ligne) fortemente aconselha que a pessoa ao menos faça um curso de 1 ano na universidade (um certificat, por exemplo). Segundo ela, o fato de você ter estudado lá mostra ao empregador que você está comprometido em ficar no Québec, que quer realmente se integrar.

    Não precisa ser um certificat, pode ser um curso técnico no Cegep, mas algum estudo é fundamental.


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    2011-04-18

    Atualmente eu faço um certificat na UdeM e vejo como isso faz diferença na minha vida aqui. Primeiro porque obviamente estou aprendendo um francês que curso de línguas nenhum dá, que está mais ligado à saber pensar  et expressar meu pensamento em francês quebecois. Depois porque estou conhecendo pessoas da minha área de interesse e começando uma rede de contatos profissionais. Também porque o suporte da universidade é impressionante, recebo sempre e-mails com vagas de emprego pra minha área e tenho assim a possibilidade de entender o que ainda falta pra eu estar completamente integrado como uma profissional do ramo. e por íultimo porque de fato, como a professora do FEL bem disse, quando as pessoas sabem que estou estudando aqui eu sou levada mais a sério.


    12 de março de 2010

    Blogs que eu leio

    Em outro post eu reclamei sobre essa rede que os brasileiros montam quando chegam no Québec, mas também queria falar dos blogs legais e experiências interessantes que já encontrei pela net.

    Desde que começou essa odisséia de Québec (depois detalharei melhor) fui em busca de informações na net, claro. E foi um blog que abriu toda uma gama de conhecimentos sobre o assunto e sobre a profissão de arquiteto no Québec. O blog do Luis e da Tati serviu de guia pra MUITAS pessoas, pois eles se preocuparam na coleta e distribuição de informações que eu nunca vi na net.

    Depois desse blog, fiquei vagando em busca de algo interessante e consistente. Foi nesse momento que achei a Mi. Ela começou e terminou o blog já no Québec, especificamente em Laval. Foi com ela que encontrei MUITAS infos sobre o cotidiano, além de ter sido um prazer enorme de ler pois ela realmente escreve como fala, então dá pra sentir a emoção. Pra quem busca informações sobre a universidade é ótimo também, porque ela tava fazendo mestrado e deixou todo mundo participar desse cotidiano.
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    2010-04-25

    A Mi é a Mylene, que está entrevistada no novo site do MICC. A entrevista é exatamente o que ela fala no blog, uma delícia de acompanhar e, pra mim, um exemplo da boa forma de ir pra um novo país. Ou seja, com muito estudo, com pouca fissura pra ficar no núcleo brasileiro e com muita boa vontade com tudo e todos.
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    Depois disso fiquei mais um looongooo tempo vagando pela net. Toda vez que encontrava um blog de alguém que parecia interessante, essa pessoa chegava no Québec e começava a fazer as coisas mais bizarras (pegar comida beneficente, só sair com brasileiros, trabalhar com qualquer coisa sem construir uma carreira, não se interessar em construir uma vida quebecois...). E assim eu ficava frustrada novamente.

    Atualmente estou lendo o blog da Juliana e estou adorando. Tomara que ela chegue em Montréal e permaneça sendo ela mesma! *rindo*

    Bom, por hoje é só pessoal.

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    2011-04-18

    Atualmente eu leio e recomendo o blog dos QuebecQuando. Eles são queridos, fofos, gostam de jazz, são mega críticos, novinhos com jeito de velhos, bebem bons vinhos, comem bons queijos e estão finalmente começando o processo deles. :)

    5 de março de 2010

    Empregados domésticos

    No Brasil, a maioria das pessoas que conhecemos tem algum tipo de empregado doméstico (temporário ou permanente), principalmente as pessoas que tem criança. São faxineiras, babás, cozinheiras... A quantidade e o tipo de trabalho dependem da região do Brasil e do salário do contratante.

    No Rio de Janeiro, por exemplo, o tipo mais comum é a «diarista» que é uma pessoa que não tem vínculo empregatício e, como o nome diz, recebe uma remuneração no fim do dia, mas não trabalha todo dia na mesma casa, como a «babá» que é uma faxineira, cozinheira e arrumadeira exclusiva das crianças e por isso precisa vir mais vezes.

    No Recife, por exemplo, ainda é muito comum a «empregada doméstica», também chamada de «secretária do lar» ou «a moça que ajuda lá em casa». Nada mas é que uma mistura de faxineira, cozinheira, babá e nas horas vagas ainda pode fazer as compras, levar e buscar as crianças na escola e em algumas casas pode até lavar o carro.

    Alem disso, temos uma série de subempregados que fazem pequenos serviços por um preço muito baixo, como «o rapaz que conserta coisas lá em casa», «o cara que lava o carro» ou «a moça que faz a minha unha».

    Para as pessoas que «contratam» esse tipo de serviço, a vida fica muito mais fácil, permitindo que elas possam trabalhar mais e ganhar mais dinheiro para pagar tudo isso.

    Quando as pessoas chegam ao Québec, uma das primeiras coisas que elas reclamam é a falta desses «empregados». Lá descobrem que vão ter que limpar a sua própria sujeira, fazer sua própria comida, cuidar das crianças e até «fazer a sobrancelha» vi gente reclamando que tem que fazer só.

    Violência diária

    Quando estávamos nos preparando para a entrevista do CSQ, nos perguntamos: «Por que mudar para o Québec?». A resposta que sempre líamos e lemos nos blogs é em sua grande maioria «Por causa da violência».

    Para nós esse também é um fator importante nessa decisão, mas a violência que nos cerca não está relacionada com o crime organizado ou o sequestro relâmpago. Diariamente vivemos um tipo de violência que não afeta a maioria das pessoas que nos cerca.

    Num dia normal da nossa vida nos deparamos com pessoas que jogam lixo nas ruas, furam fila e nem percebem que estão fazendo alguma coisa errada, motoristas que não dão passagem para ambulâncias, que param em cima da faixa de pedestre, param no meio da rua pra pegar um passageiro e interrompem o trânsito e ainda dizem «é rapidinho...». De uma maneira geral, percebemos ações individuais que atrapalham o funcionamento da cidade. Pessoas que compartilham a cidade, mas não se sentem responsáveis pelo perfeito funcionamento das coisas e responsabilizam alguém quando as coisas não funcionam. «Os políticos são ladrões», «A prefeitura rouba os impostos».

    Algumas experiências foram muito importantes para nós quando estivemos no Québec. Uma vez estávamos num supermercado olhando as prateleiras e, de repente olhamos para trás e uma pessoa esperava pacientemente que nós terminássemos e liberássemos a passagem. Saímos da frente e pedimos muitas desculpas. Naquele momento senti vergonha e lembrei que nós brasileiros interrompemos a passagem o tempo todo. Outra vez entramos numa loja de café e ficamos num canto para não atrapalhar ninguém enquanto escolhíamos e a cada cliente que entrava tínhamos que avisar que não estávamos na fila, pois rapidamente aprendemos que quem entra primeiro na loja tem preferência no atendimento, independente da fila. Nesse momento pensamos que esse era o lugar que gostaríamos de morar.

    No APPRENDRE LE QUÉBEC, página 19 diz: «Dans la vie publique, en attente d’un service, les Québécois respectent habituellement le principe selon lequel le premier arrivé est le premier servi. Que ce soit dans un magasin, à la banque, à l’arrêt d’autobus, au cinéma, chacun attend son tour. La personne qui ne respecte pas cet usage s’expose à se faire rappeler à l’ordre par ses concitoyens».

    Claro que eu imagino que algumas coisas no «guide pour réussir mon intégration» podem ser apenas ideais, mas nesse caso é verdade.

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    2011-04-25


    Estamos em Montréal à seis meses e realmente funciona o princípio que o primeiro que chega é o primeiro e ser atendido, mesmo quando não existe uma fila. As vezes no ponto do ônibus eu chego e já tem algumas pessoas fora da fila, então eu só entro depois que elas entrarem. Muitas vezes as pessoas ficam na dúvida de quem chegou primeiro e deixam a outra entrar na frente.


    Claro que essa é a minha experiência, talvez em outros lugares funcione diferente e mesmo onde frequento acontecem desrespeitos à essa regra. Outro dia eu estava sozinho no ponto e o ônibus se aproximava lentamente (os ônibus respeitam a velocidade). De repente duas pessoas (1) atravessaram a rua fora da faixa, (2) passaram na frente do ônibus em movimento (3) correndo, esperaram o ônibus parar no ponto e (4) entraram na minha frente (quatro faltas em poucos segundos). Eu prontamente me afastei e deixei a dupla entrar, eles entraram conversando, e se dirigiram para seus lugares e não acharam nada demais. Depois que eu entrei e cumprimentei o motorista ele comentou comigo da falta de educação deles.


    Outra vez o ponto estava cheio e o ônibus chegou lotado (pro padrão daqui, claro), algumas pessoas entraram e o motorista pediu que os outros no ponto esperassem o próximo ônibus e fechou a porta. Então três pessoas que estavam na fila entraram pela porta de desembarque. O motorista levantou, olhou pra trás e gritou: "Vocês que entraram pela porta de trás, por favor saiam, pois isso é falta de respeito com os outros que estão esperando lá fora". Eles desceram, simples assim.


    Uma vez no metrô, uns garotos seguraram a porta pra que outro conseguisse entrar correndo. Prontamente uma mulher começou a brigar com eles e eles disseram que eles poderiam fazer o que quisessem, então ela disse que aquilo era um absurdo, que o comportamento deles estava atrasando a saída do metrô e portanto prejudicando todo mundo, logo não poderiam fazer o que quisessem. Meu instinto disse que os três garotos iam bater na mulher, mas eles ficaram quietos e ignoraram ela. Mas ela reclamou. «La personne qui ne respecte pas cet usage s’expose à se faire rappeler à l’ordre par ses concitoyens».

    Novo estilo de vida

    Uma coisa que nos é muito estimulante nessa mudança é fazê-la como um impulsionador de transformação de nosso estilo de vida.

    Desde aqui do Brasil, já estamos aplicando esse princípio. Agora estamos nos desapegando a determinados bens materiais que estimamos há anos, mas nunca usamos. Isso vale pra quase todos os campos de nossas vidas! Agora perguntamos pra tudo: mas eu realmente quero isso, a ponto de querer pagar excesso de bagagem pra levar pra Montréal?

    Eu jamais imaginara o efeito que isso causa em tudo na vida!

    Outro aspecto interessante de transformação é que queremos mudar nosso estilo de uma forma mais abrangente:

    1-atividades físicas: 
    • sempre queremos nadar, mas assim que começa a chover ou esfria uns pequenos graus, vira a desculpa perfeita pra pararmos. Mas em chez nous essa desculpa não vale, já que as piscinas são cobertas e climatizadas;
    • a outra desculpa perfeita é falta de dinheiro. Temos l'argent para comer fora, mas pra natação.... Não teremos mais essa desculpa, já que em quase todos os bairros existem piscinas públicas lindas e limpas e gratuitas!
    2- Vestimenta:
    • As roupas no Brasil são escandalosamente caras e, a maioria, de péssima qualidade, mas Montréal tem muita opção;
    • Como já passei do peso faz tempo, achar roupa que caiba em mim é sempre dramático. Parece que as pessoas acham que gordo tem que se vestir de velho ou de palhaço. Daí fico logo deprimida e não compro nada. Mas em chez nous (nossa casa ou nosso país, em francês) praticamente todas as roupas tem dos números mais esqueléticos aos mais rolantes, ou seja, é a inclusão de extra P e extra G que nunca são levados em consideração;
    • Por fim, quem quer se vestir num calor desses? Na boa, passo o tempo todo desesperada com o calor, o Gato então nem se fala! Já em Montréal, o frio permite o uso de diversas camadas, mas com estilo, por favor!
    3- Alimentação
    • Eu sei que brasileiro adora se gabar da fantástica culinária que tem, mas sinceramente, não sou tão fã assim. Claro que gosto de um bom feijão com arroz e ovo, mas todo dia não, por favor. Nós amamos experimentar novos sabores e Montréal é perfeita pra isso. Aqui no Rio um casal tem que reservar uns R$80,00 ($40CAN) pra poder comer uma comida peruana. Em chez nous o mesmo casal come comida Tai por $15CAN. Além disso, no supermercado tem comida de todos os cantos do mundo pra ser feito de maneira instantânea, por uns fantásticos $5CAN;
    • Como se resolve excesso de peso? Malhando e comendo corretamente, certo? Somos hiper-preguiçosos com esse cotidiano de cozinhar, ou seja, terminamos indo pelo caminho mais fácil de pedir comidas gordurosas ou preparar super-sanduíches. Mas em Montréal tem congelados do Vigilnates de Peso por $2CAN à disposição nos supermercados. Muito mais fácil, não?

    Bom é isso, espero que todos esses planos funcionem! *rindo*

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    2011-04-18


    Sim, sim e sim! Desde que chegamos só confirmamos tudo que está escrito acima. Não moramos perto de uma piscina pública, mas coladinhos no Y que custa 40$ por mês, ou seja, super pagável. 


    Sim também pra alimentação. A gente compra uma salada mega foda com tudo que tem direito, inclusive o molho, por 2,90$ e ela dá pros dois almoçarem BEMMM. Mas confesso que sou gulosa e quando estou cansada eu quero mesmo é uma super-pizza... enfim, tenho que retrabalhar esse tema!


    E sim pra roupas pra todos os tamanhos. Aqui eu nem sou o tamanho máximo, to longe disso, e me surpreende como sempre acho o que estou buscando. Inclusive pra minha altura com a opção petite, já que sou baixinha e as calças firariam sempre enormes em mim.

    Onde Morar? Île des Souers?


    No post passado falei dos lugares que nos interessavam pra morar, então decidi escrever um pouco melhor sobre cada lugar. Afinal, pesquisamos tanto que vale à pena repassar.

    A Île des Souers pertence ao arrondissement de Verdun. Essa região administrativa é sub-dividida em três bairros muito distintos um do outro. O com maior poder aquisitivo e com maior número de condominiuns (prédios altos feitos de concreto) fica na Île.

    Trata-se de uma linda ilha, com um parque enooorrrmmmeeee (até para os padrões montrealeses). Eles priorizam a natureza, por isso, têm ciclovias fantásticas em todos os lugares, inclusive uma que sai da Île em direção à Longueil, numa ponte fofa, cuja razão de existência é a de quebrar o gelo antes que ele bata na ponte principal (bizarro, não? Mas é verdade).

    A maioria de seus habitantes é de terceira idade, mas tem muitos jovens também que optam por morar lá. Um grande atrativo é que muitos prédios, mas muitos mesmo, aceitam animais. Isso não é pouca coisa, pois geralmente, os apartamentos não aceitam animais de estimação. 

    Apesar de ser um bairro de alto poder aquisitivo, o preço do aluguel dos imóveis não é tão diferente do resto da cidade, pelo contrário, tem algumas opções bem interessantes. 

    À princípio, é perfeito morar lá, mas terminamos desistindo pela distância. Acontece que a ilha não tem metrô, mas duas linhas de ônibus que levam a ele. Uma linha deixa na estação Verdun e a outra na Square Victoria. A da Victoria Square é perfeita, pois em 17 minutos você está no coração de Montréal, com acesso ao metrô que te levará pra qualquer outra parte da cidade que desejar.

    Então, porque não moraremos lá? Porque pretendemos estudar na UdeM, e aí é mais pesado. Teríamos que pegar o ônibus até a Square Victoria (ligne 2 - orange), de lá pegar o metrô, depois descer pra torcar de linha na Snowdown (para ligne 5 - bleu). Isso levaria um total de quase 50 minutos, com três trocas de transporte.

    Quando estivemos em Montréal, ficamos numa casa em Anjou, que é no final da linha verde. Pegávamos o ônibus e depois o metrô pra depois descer na Square Victoria. Isso levava cerca de 50 minutos e era super-cansativo, mas íamos sentadinhos no ônibus e no metrô.

    Já na Île des Souers isso não aconteceria. Pegaríamos o ônibus com a galera e depois desceríamos no centro do universo. Pegaríamos o metrô lotado pra depois trocar... E sobe escada, e desce escada, e sobe de novo... Enfim, começaríamos o dia de aula já cansados.

    Mas a culpa disso não é da ilha, e sim da UdeM, que fica no outro canto da cidade...hehehehe

    Alguns links de sites que pegamos a maioria das informações que temos:

    Sondage Verdun, com todos os dados estatísticos
    Structures Métropolitaines, imobiliária que gerencia MUITOS p´redios e casas da ilha
    Site com informações sobre comércio, garderie, etc
    Garderie da ilha
    Blog com fotos do passeio de bicicleta supramencionado

    4 de março de 2010

    Onde Morar?

    O Gato de Cheshire e eu somos levemente neuróticos com o quesito da escolha do local de moradia. Não é pra menos, somos urbanistas de formação, ou seja: viciados em pesquisa sócio-econômica, em morfologia urbana, nos preconceitos das cidades sobre elas próprias, na maneira com que todos encaram todos e terminam cuidando do seu espaço.

    Isso significa que passamos grande parte do nosso tempo de pesquisa sobre Montréal, acumulando informações que terminam por modificar ou confirmar nossa escolha de onde morar.

    O lugar que chegamos mais perto de ter certeza foi a Île des Souers. Isso porque o perfil sócio-econômico é fantástico, totalmente diferente do seu "arrondissement" (região administrativa) Verdun. A Île des Souers é simplesmente linda, calma e ainda aceita animais. Além disso, ela possui três prédios cujo projeto são de Mies Van Der Rhoe, a um preço super-acessível. Terminamos por desistir por causa da distância para a UdeM, onde pretendemos estudar.  Mas pra quem não terá essa mesma rotina, vale à pena. São 17 minutos de ônibus até a estação Square Victoria, ou seja, em 17 minutos você está no Centro da cidade. 

    Já ponderamos muito sobre Rosemont! Ah, lá é muito fofo. Quando visitamos a cidade ano passado, fomos umas três vezes a esse bairro e ficamos apaixonados. Mas veja bem, não é qualquer área, é o Vieux Rosemont! Lá sim, é delicioso. Mas, mais uma vez paramos no quesito UdeM. Cara, estudar na Uqam é muito mais prático do ponto de vista geográfico! *rindo*

    Para saber mais, aqui tem tudo o que se busca do ponto de vista sócio-econômico.

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    2011-04018


    Terminams escolhendo o Plateau como bairro de começo de vida aqui, porque e bemm central e prático pra ir pra udeM e qualquer outro ponto da cidade. mas outro dia passamos o dia passeando na Ile des Soeurs e realmente é um lugar apaixonante. Ficamos abalados pensando em morar lá mesmo sendo anti-prático pra nossa vida desse momento... mas fomos racionais e desistimos, infelizmente... ehehehe

    2 de março de 2010

    Brasileiros e Brasileiras

    Vivo lendo blogs de brasileiros que vão ou estão no Québec e sabe o que eles têm em comum? Os brasileiros e brasileiras.

    Acontece que todas essas pessoas montaram uma mega rede de relações e quando chegam lá são super bem recebidos, terminam morando perto e fazendo tudo juntos.

    E o que não têm em comum? Canadenses! Pois é, fica todo mundo juntinho, comendo feijão com arroz, leite condensado e guaraná antártica. Só se esquecem que abrir caminho pra que os canadenses possam entrar, trocar, experienciar.

    Aí fico me perguntando: afinal, o que esse povo todo foi fazer lá? Será falta de amigos no Brasil? Será falta de objetivos? Ou é falta de perspectivas profissionais?

    Sinceramente não compreendo. Pra mim, ir pro Canadá é pra viver como canadense, brasileira de origem, mas canadense de escolha.

    Ou será que to maluca?

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    2011-04-18


    Continuo tentando entender exatamente qual o processo de auto-exclusão. Estamos aqui há 6 meses, temos amigos brasileiros exatamente pelas mesmas razões que todos os têm (contatos anteriores na vida, família, contatos posteriores com pessoas que nos identificamos) mas também temos construído nossas relações canadenses. E por canadense eu quero dizer: nascidas no Canadá, na Colombia, na Venezuela, na China, em Burandi... Ou seja, o melhor tipo cosmopolita montrealais.

    Múltipas-escolhas

    Desde que começamos a pensar em nos mudar pra Montréal, iniciamos uma loooogaaaa pesquisa pra saber o que fazer, quando e como. E nessa pesquisa entra, claro, a leitura dos blogs.

    Primeiro veio o tema: onde morar? O que precisamos? Quanto precisamos?
    Depois veio: e agora, somos arquitetos e nossa profissão é regulamentada!
    E em seguida: mas eu quero ser arquiteta? Eu gosto? E se não quiser, o que posso fazer?
    Por fim veio a linda sensação de liberdade total!

    Sim, pra nós essa mudança dá uma linda sensação de vôo, onde a gravidade não conta mais, as decisões podem ser revisitadas sem medo, as transformações são totalmente possíveis.

    À partir daí quase enlouquecemos: busca de sites das universidades pra pensar num belo mestrado/doutorado... busca pela profissão dos sonhos, busca pelo que não perdemos, busssscaaaaaaa............

    E assim eu virei chefe de cozinha, depois virei fera do Gis e por fim (por enquanto pelo menos) serei uma fantástica diplomata!

    E a arquitetura?? Sei lá, veremos como encaixar tudo isso!

    Primeira Página


    Nós decidimos ir morar no Québec, especificamente em Montréal, depois de algumas conversas com amigos, que moraram por lá durante um ano. Nosso projeto era conjunto, iríamos pra lá os quatro e viveríamos no "mundo maravilhoso de Bob".

    Na real, quando a gente tá casado há um tempo, não é bem assim que rola, muito menos depois que se passa dos 30 e está chegando na casa dos qua-ren-taaaa.

    Bom, velhices à parte, o dito casal teve neném e está com a vida de outra forma: apartamento próprio, filhote lindo, família unida, emprego bom...

    E nós? Teóricamente deveríamos estar como eles. Nós temos apartamento próprio (bem perto do deles), o Gato de Cheshire já terminou o mestrado, eu já a especialização, já terminamos o curso de francês... Mas três anos depois, não temos filhos (queremos esperar até chegarmos), não temos mais um empregão (largamos essa vida pra podermos começar a próxima), já temos o CSQ... Fizemos uma escolha diferente.

    Falando em escolha, uma coisa que me impressiona nos blogs que leio é que a maioria das pessoas que diz que vai pro Québec, fala da violência do Brasil. Tá certo, não tá fácil, vivo no Rio e sei bem, mas daí isso justificar uma mudança dessas, sei lá. Vai morar no interior então!

    Na boa, não to saindo por causa de uma coisa específica, não acredito que alguém esteja. Mas todos ficam perguntando e a resposta termina ficando mais simplista a cada dia que passa.

    Pra mim, a melhor resposta é a frase recorente de um amigo:
    POURQUOI PAS?

    Nós, Alice e
    Gato de Cheshire, acreditamos que a vida é pra ser vivida, o mundo é pra ser explorado. Não acreditamos que depois que você passa dos 30 tem que estar casado, com casa própria, filhos e, de preferência, com um incrível emprego de funcionária pública.

    Minha mãe fica em pânico, me liga toda semana e diz: olha que beleza de concurso, etc e tal...

    Beleza de concurso? Sinceramente, tenho pavor de me imaginar para o RESTO DA VIDA fazendo o mesmo trabalho, com as mesmas pessoas, no mesmo lugar!

    Então é isso, vamos pra Montréal, viver intensamente e depois pensar o que será depois.


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    2011-04-18


    Depois de mais de um ano de blog a coisa aqui mudou bastante. Hoje não somos mais um casal que pesquisa sobre o Québec, mas somos um casal que mora em Montréal. Junto conosco novos escritores ativos entraram no blog, alguns como uma faceta de moi-même, como é o caso da Rainha de Copas e da Selma, outro é o Ornitorrico, personagem inexplicável até pra nós mesmos, e que faz uma baguncinha em todo o funcionamento desse Mundo imaginário.