30 de março de 2011

Alugar-desalugar-sublocar-passar contrato...

Esse é um post mais do tipo "dicas" pra quem tá querendo saber como funciona o mundo do aluguel daqui.

Quando chegamos, alugamos um apê super caro, mas com uma excelente localização e espaço. Nossa escolha foi essa porque queríamos nos sentir bem nos primeiros meses, passar o inverno sem problemas, sentir a cidade, etc. Como tava dentro do orçamento que havíamos trabalhado, tudo ok.

Mas como o alugamos em novembro (época infeliz pra alugar qualquer imóvel que preste) nosso contrato vai até o final de outubro. Nosso objetivo então passou a ser alugar um outro apê na época boa, onde os bons imóveis estão disponíveis, leia-se junho/julho. E, claro, por um preço menos salgado pra termos uma vida menos apertadíssima.

Fomos no site da Regie du logement e vimos as possibilidades: 
  • Encerrar o contrato e pagar multa? Nunca, jamais e em tempo algum! Você só pode cancelar um Bail se o apartamento estiver sem situação precaríssima.
  • Sublocar? É uma opção que considero melhor pra quando você vai viajar e depois volta. O que rola é que você continua sendo o inquilino e se responsabiliza por tudo o que acontecer no apartamento. 
  • Passar o contrato (Cessation de bail)? OUI! A cessation de bail basicamente funciona da seguinte maneira: você comunica ao proprietário que fará isso e ele te diz quais as coisas que ele quer do próximo inquilino. Você anuncia o apartamento, recebe os candidatos. Os interessados preenchem um papel com seus dados e, se for o que o proprietário busca, você apresenta pra ele. Daí vocês (você, o candidato à inquilino e o proprietário) se encontram, você passa o seu Bail pra ele e pronto. O contrato do novo inquilino passa a valer a partir da data estipulada e vence na mesma data que o seu vencia. Depois ele renova (o que pode implicar em aumento) o contrato.
Foi exatamente isso que fizemos. Estávamos morrendo de medo de não achar ninguém, mas choveu gente vindo olhar! Difícil foi arrumar quem tivesse todos os comprovantes de salário, fiador... que a proprietária buscava. Mas uma semana depois de anunciar, hoje passaremos nosso contrato e teremos que sair daqui em junho.
Estamos indo pra um apê bem menor, um 3 1/2, ainda no Plateau, mas não mais em Mile End. Isso vai nos fazer diminuir uma fortuna do nosso orçamento mensal, mas continuaremos morando num lugar bacana. É aquilo que eu já tinha falado a sei lá quantos meses atrás, o que mais gasta seu dinheiro é o aluguel, logo, a melhor forma de faze-lo render é diminuindo o bicho até caber no seu orçamento do momento. ;)

Bisous,
Alice

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2011-04-26

Tem quase um mês que publiquei esse post e até hoje tem gente me ligando pra saber do apartamento! Impressionante como falta oferta de imóvel bacana. Os que aparecem por um preço honesto são alugados imadiatamente.

Pra quem tá buscando no kijiji ou craiglist da vida, nem se dê ao trabalho de procurar alguma coisa que já esteja anunciada há mais de uma semana. ;)

Bilan

Olá! Bonjour! Hi!

To fazendo 3 meses na universidade, mais 15 dias e minhas disciplinas terminam!

Pra mim o tempo passou de forma louquíssima. Quando vejo o número (3 meses) acho tãoooo pouco. Mas como foi tudo mega intenso, me parece mais de um ano!

No primeiro mês de aula eu tava aquecendo o francês, sem conhecer os códigos locais, tentando entender tudo e dar conta dos textos da faculdade. 

Depois veio o segundo mês. Ele foi MUITO difícil. Alguns conflitos internos, outros de interculturalismo, outros de ordem intelectual... foi o mês que as relações inter-pessoais começaram a ficar mais intensas, ter umas farpas, ter uns corações... Do ponto de vista dos estudos, foi MUITO difícil também. Tive que escrever trabalhos com mais de 10 páginas e foi um desafio! Tive que fazer provas... Uma prova em especial me arrasou porque eu esqueci de levar o dicionário e as palavras simplesmente sumiam da minha cabeça. No final fui ao professor e expliquei o que eu queria dizer e ele me falou a palavra! Mas po, minha concentraçao já tinha ido pro espaço, foi horrivel. Até chegar o resultado eu tava tão nervosa, acho que nunca fiquei assim antes. Pensei até em anular a disciplina pra não correr o risco de ter uma mancha no meu currículo. Mas tudo bem, a nota chegou e tirei 6... nesse caso 6 foi 10 pra mim! *rindo* Depois dessa prova eu fiz outras com dicionário e tudo correu mega bem.

O terceiro mês foi bemmmm legal.  Agora escrevo mais soltinha. Outro dia preparei uma base de pesquisa pro meu trabalho em grupo e quando vi já tinha escrito seis páginas! Fiquei toda felizinha comigo mesma... ehehehe. Agora já tenho um grupo de quase-amigos, com quem saio de vez enquando, falamos papos soltos, vamos dançar, vamos beber... Eles me ensinam gírias quebecas e eu ensino português e assim a gente vai indo.

Esse grupo está sendo bem legal. Uma das meninas vai sair do país em outubro, então decidiu que tem que me apresentar a Montréal alternativa até lá. 

Um dia desses fomos num barzinho super cool na Avenue Mont-Royal. (Num me lembro do nome agora, saco!) Bom, ele é escurinho, cheio de cantos. Num determinado momento duas moças apareceram, uma foi pro piano e a outra pegou o violino. Elas ficaram lá tocando músicas maneiríssimas... O que eu não curti muito foi que a decoração pode ser assustadora pra pessoas que, como eu, não gostam muito de cabeças de animais penduradas. Como tem disso por aqui! :/

Um outro lugar que ela nos levou foi a um bar chamado Cheval Blanc. Pra quem gosta, como eu, de música alternativa, tatoo, cabelos coloridos, é uma ótima opção.

Um bar bacana também é o Dieu du Ciel. É uma cervejaria ótima, as cervejas são maravilhosas!

Fomos também numa boite gótica, Bar Passeport, que é um clássico alternativo de montréal desde 1982. Confesso que fiquei meio decepcionada porque esperava uma coisa mais deprimida-introspectiva (como eram os ambientes góticoss dos anos 80). O que encontrei foi um monte de gente feliz dançando. Mas o visual é bem bacana, as músicas, apesar de eletrônicas, são pesadinhas e mais graves. O preço me impressionou: 5$ pra entrar e guardar o casaco, 14$ por uma jarra de cerveja que dá pra 5 copos grandes. No Brasil seria infinitamente mais caro!

Aliás, falando em preço, uma pint (+ou- 500ml) costuma ficar uns 5$ no bar. Se você comprar a mesma marca no super-mercado, pagará 8$ pela caixa de longnecks. Ou seja, não é nada econômico ficar saindo, por isso vamos que meio a conta-gotas. Mas em geral, ninguem bebe mais do que duas/três pints, então também não é esse drama todo. ;)

Aliás, isso é interessante. Festa na casa de alguém, no Brasil, costuma durar horas, vão milhares de pessoas, bebe-se muito. E ainda tem aquele sem-noção que resolve "passar o chapéu" quando a bebida acaba, de tal forma que a festa não termine nunca, pelo menos pra ele... Aqui o que chamam de festa (pelo menos aonde fomos) é o que chamaríamos de "reuniãozinha" no Brasil. Meia dúza de 4 ou 5 pessoas, sentadas numa mesa, bebendo  e beliscando algo, conversando. Meia noite todo mundo vira abóbora e pronto, c'est fini.

Sobre essa questão de horários, se você tá indo pra uma boite, é bom chegar lá pra meia noite, que é quando o Quartier Latin tá no auge. Mas se for uma festa ou uma saída no bar ou restaurante, bom, melhor chegar as 20hs. 

Com que roupa ir? Ah, aqui é bem complexo isso. A primavera chegou (acho) e agora as cores começaram a brotar. Mas antes todo mundo usava preto, as moças saíam com lantejoulas prata e as moderninhas tinham elementos vermelhos. 

Aliás, nesse espírito primaveril, outro dia tava com sensação de -20 graus na rua e a moça saiu com mini-saia, sem meia e com um casaquinho mega-leve-verão. Alguns podem pensar: "é que ela é ursinha!" Mais non, ela tava meio roxa e passando mal mesmo! *rindo*

Enfim, esse bilan tá meio focado na vida noturna porque é a novidade da nossa vida atual.

Outra novidade é que estamos nos mudando em junho, mas aí é outro post, porque explica cession de bail. 

Bisous, bonne journée,
Alice

8 de março de 2011

Prêt et Bourse - o processo inteiro

Olá, tinha prometido um post sobre o processo da Prêt et Bourse, então cá está!

Antes de qualquer coisa você se inscreve no curso à sua escolha. Passa pelo processo de admissão. Se inscreve nas disciplinas e quando tudo estiver confirmado você vai no setor de ajuda financeira da sua universidade. Lá te explicarão várias questões que permeiam esse processo, principalmente o que você precisa pra ser admitido na Prêt et Bourse. Os pontos funtamentais são:

1- Renda
  • Ter tido uma renda baixa no ano anterior. Não lembro o valor mas, pros padrões daqui é bem baixo, e pros padrões brasileiros é  classe média baixa. Ou seja, isso não foi uma questão no meu caso, afinal, meu salario num era essas maravilhas. 
  •  IMPORTANTE: Eles avaliam o seu salário E o do seu conjuge pra saber se juntos passam do valor mínimo.
  •  No nosso caso, o valor que declaramos foi exatamente o mesmo indicado na declacarão de renda que fizemos assim que entramos no país.

2- Estar estudando em tempo pleno, leia-se, cursando 12 créditos (4 disciplinas, normalmente).
  • No meu caso, eu queria pegar 5 disciplinas, mas me desencorajaram. Agradeço a todos que fizeram isso, porque 4 já tá mais que pesado de manter. Ou seja, só pegue 4 se realmente for se dedicar integralmente (pra cada hora de aula um aluno normal tem que se dedicar 3 horas estudando em casa. No caso de um aluno que não é francófono e que ainda está aprendendo como se raciocina por aqui...)

3- Não ser mais dependente dos pais. 
  • No meu caso perguntaram se eu era casada. Como sou falaram ok.
Bom, com esses quesitos básicos resolvidos, vamos ao processo, em 12 passos:
  1. Em novembro me inscrevi na universidade e no mesmo mês recebi o aceite;
  2. Uma vez com o documento da faculdade dizendo que eu estava inscrita, tive que fazer minha prova de francês pra saber se de fato eu tinha nível linguístico pra frequentar as aulas e fazer os trabalhos;
  3. Em dezembro, depois de fazer a prova de francês e receber o aceite, fui ao setor de ajuda financeira da universidade pra dar entrada no meu processo. Antes de poder começar, eu teria que me inscrever nas disciplinas;
  4. Me inscrevi em quatro disciplinas e voltei.
  5. Agora eu teria que pedir um número de estudante do Québec, que demora quanto tempo? Exato! Um ciclo!
  6. Número de estudante do Québec providenciado pela universidade, eles me ligaram e passaram. Agora era a hora de entrar com o pedido no AFE. Fui, junto com o Gato, na salinha dos caras que te ajudam a preencher o formulário e preenchemos cada uma das milhares de páginas que dissecam sua vida e do seu conjuge. Tudo pronto: enviar!
  7. Quando você envia seu pedido, recebe uma notificação de quais documentos você tem que entregar no setor de ajuda financeira da sua universidade pra que eles enviem os papéis pro AFE. Ok, documentos entregues imediatamente (fomos pra lá com tudo que poderíamos precisar, assim não tinha erro);
  8. Depois de um ciclo... Primeiro e-mail do AFE dizendo que eles verificaram meus dados e eu teria direito ao Prêt et Bourse e que era pra aguardar as cenas dos próximos capítulos...
  9. Depois mais um e-mail dizendo que reajustaram os valores de acordo com 2011 e que pediram pra universidade os documentos que confirmavam minha inscrição. Agora eu deveria aguardar novamente...
  10. Aguardei, aguardei... aguardei..... Fui no setor de ajuda financeira da universidade pra saber se estava tudo bem. "Ué, porque você não veio antes? Aqui está o envelope com os papéis que você tem que entregar no banco pra abrirem uma conta pra receber o valor estipulado!" (...) Por que não fui antes? Porque eu não sabia que era pra ir! Dã! Bom, nessa eu perdi um ciclo!
  11. Envelope em mãos. Lá tem uma lista de alguns bancos credenciados, todos quebecas, lógico! Como minha conta é num banco não-quebeca, mas canadense, tive que ir num dos bancos da lista e abrir nova conta; Conta aberta e.. 
  12. ah, faltou uma assinatura (...) e depois outra assinatura (...) um ciclo depois e hoje descobri que o dinheiro fnalmente foi depositado!
 Sobre valores:
  • Eles te emprestam (Prêt) o valor do pagamento da universidade. No meu caso ficou mais ou menos 1000$ para esse trimestre: 206 cada disciplina + outras taxas. Ou seja, será uns 3000$ de empréstimo por ano que eu permanecer estudando. (ou um pouco mais se tiver o aumento que está sendo planejado e contestado pelos estudantes)
  • Eles dão uma bolsa de estudo pelos meses que você ficará estudando naquele ano letivo. Isso significa que mesmo que seu curso vá demorar mais de um ano, você terá que "reiniciar" o pedido todos os anos letivos que se iniciam (setembro). A diferença é que será uma coisa mais automatica: você atualiza os formulários e a universidade envia sua inscrição e só, espero.
  • O valor mensal de bolsa de estudo é, no máximo 760$, variando de caso à caso, dependendo da sua renda no ano anterior.
  • Além desse valor, eles fornecem uma bolsa de cerca de 200$ para compra de livros. Você VAI precisar deles!
  • Na universidade existem vários sistemas de bolsas de estudos, mas que não são tão simples pra conseguir, eu ainda não tive nenhuma.  Essas bolsas não invalidam a bolsa do governo do Québec porque essa é entendida realmente como o que ela é: uma ajuda às necessidades básicas do aluno.
  • O pagamento do empréstimo começará 6 meses depois que a pessoa parar de estudar em tempo integral. Não sei os detalhes, mas me disseram que você tem 10 anos pra parcelar a dívida. Os juros começam a ser cobrados assim que você pára de estudar, ou seja, se começar a pagar 6 meses depois, já terá 6 meses de juros acumulados sobre a dívida total.
Pra quem pensa em vir pra cá e começar a estudar como eu, tem que perceber que esse processo inteiro demora bastante e que não é mágico. A Prêt et Bourse é uma forma do governo do Québec de apoiar as pessoas que querem se dedicar aos estudos. É a maneira do Estado investir em pessoas que depois terão formação pra assumir as diversas vagas especializadas que estão vazias por falta de pessoas com formação mínima pra preenchê-las. Isso não é uma doação aos necessitados, mas sim uma política de Estado em prol da educação.

O Québec oferece educação básica gratuita, mas as universidades são privadas. O Prêt et Bourse é uma maneira do Estado garantir que todos terão acesso à educação, mas que não terá que fazer os altos investimentos que são necessários para manter uma universidade com alta qualidade de ensino e de instalações.

Uma vez um anônimo histérico entrou aqui pra dizer que sou aproveitadora do dinheiro do Estado, porque eu seria rica e estaria sendo espertinha "chupando" dinheiro que não era pra mim, que eu teria mentido na minha declaração de renda e sei lá mais o que. Um outro anônimo veio dizer que eu falei mal de quem pega cesta básica e agora estaria fazendo a mesma coisa...

Antes que essas pessoas gastem seu tempo vindo aqui me falar essas mesmas bobagens, vou logo repetindo o que eu sempre disse:
  1. Não sou contra quem pega cesta básica. Sou contra quem não precisa das cestas usarem desse sistema pra "economizarem uns tostões" e ganharem "uma boquinha".
  2. Prêt et Bourse não tem absolutamente nada a ver com cesta básica. Trata-se de uma política de governo de estímulo à educação superior (graduação, mestrado...)
  3. Eu não sei porque resolveram que sou rica, mas to afim que seus sonhos se realizem e eu possa parar de ralar tanto pra manter as contas em dia. Afinal, se tudo fica organizadinho, não tenho que ir atrás de "bocadas", o que tenho é que gastar conforme meu salário/bolsa/aluguel ou seja lá o que for que me dê renda.
  4. Nem preciso comentar o quão infantil pode ser alguém achar que eu menti no meu formulário. Depois do governo do Canadá e do Québec remexerem tanto tempo na nossa vida, alguém acha mesmo que eles não sabem o quanto ganhamos, quais nossos bens e dívidas? Sério?
Pra quem está preocupado em como viver com esse valor de bolsa: máximo 760$:
  • Conversei com um colega de turma que vive exclusivamente com esse valor. Ele disse que divide um apê com outros três colegas. O aluguel deles é 900$ (com chauffage inclus) em Notre Dame de Grâce e que é um apê bemm bacana. Como dividem, fica 300$ pra cada. Como ele tem 200$ de bolsa pros livros e afins, não tem custo mensal com isso. Logo, os 460$ restantes ele usa pras outras coisas, como conta do celular, comer e lazer.
(Particularmente eu tinha muito preconceito com a idéia de dividir um apê com outras pessoas, principalmente desconhecidas. Mas depois que passamos a semana na casa do lago com 10 quebecas homens e que não conhecíamos ainda, meu conceito mudou completamente. Como eles estão acostumados à divir a casa com outros estudantes e como "suas mamães" ensinaram direitinho as regrinhas básicas das "boas maneiras", eles são simplesmente foférrimos e limpinhos. Eu facilmente dividiria um apê com todos eles!)
  • As bolsas de estudos disponíveis são geralmente pra quem já cursou, no mínimo um trimestre ou, de preferência, pra quem já cursou um ano e tem ótimas notas. Elas não são mensais, mas um "pacote" único que geralmente fica em torno de 700-1000$. A pessoa pode se candidatar, e receber, quantas quiser, basta preencher todas as coisas que as empresas doadoras pedem. No meu caso não tem sido nada fácil achar uma que me enquadre. 
  • Eu não recomendo que alguém chegue aqui com o dinheiro contado na esperança de começar a receber logo o Prêt et Bourse. Meu processo demorou 4 meses, tive que pagar a universidade raspando minha poupança confiando que um dia seria reposto. Ainda não sei exatamente o quão automatica é a renovação, logo é bom sempre manter uma reserva pro caso de demoras como essa.
Bisous, bonne chance,
Alice

6 de março de 2011

Francisação - Balanço do primeiro ciclo

No meu post passado eu fiquei devendo alguns comentários (inclusive fora do blog) então resolvi falar da francisação e comentar os assuntos passados, assim eu mato dois coelhos com uma 'caixa d'água' só.

Quero lembrar a todos que não sou da área de pedagogia e depois estou aqui a apenas alguns meses, então todas as minhas percepções serão reformuladas constantemente a medida que minha adaptação ao Québec se consolida.
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Ao fim de um ciclo na francisação (3 semanas), os alunos já sabem os nomes uns dos outros e as relações começam e se estabelecer. Segundo a experiência da Alice, o segundo ciclo deve ser o de consolidação das relações em subgrupos, numa turma com uma vintena de alunos.

Os professores já possuem um perfil de todos e podem trabalhar com suas dificuldades. Professores? Sim professores. Os assuntos são divididos em partes: gramática, comunicação oral, fonética, francês auxiliado por computador... Um professor é responsável pela turma e os outros fazem relatórios para mantê-lo informado.

Ouvi alguns comentários soltos dos professores e conclui que o comentário da Lídia procede quando ela fala da sensação que francisação é um "ôba-ôba vamos fazer amiguinhos", mas os professores sempre comentam que nossa turma é diferente pois não chegamos atrasados, não faltamos e mostramos interesse, mesmo que sempre tem alguém que chega atrasado ou não vai.

Juntando as peças, o que eu acho é o seguinte: o MICC montou uma estrutura para ensinar francês e civismo para os imigrantes, oferecendo um curso de graça; as pessoas faltavam porque não tinham com quem deixar as crianças ou não tinham dinheiro pra passagem, então o governo passou a dar uma ajuda de custo, mas em compensação diminuiu a estrutura; mesmo assim alguns alunos continuavam faltando; então nos últimos anos, teoricamente aumentou o controle em relação aos atrasos/ausências dos alunos, mas provavelmente diminuiu ainda mais a estrutura oferecida.

No final do post passado sobre francisação eu escrevi que "todo mundo tem que ter um fichário" e que "pra mim, quanto mais sistematização imposta, menos criatividade." Provavelmente a palavra 'sistematização' gerou diversas interpretações. Minha intenção não era falar do sistema pedagógico, mas falar que os professores “obrigam” os alunos a seguirem um método de organização dos papéis para tentarem garantir que as pessoas não se percam e que elas estudem.

Aparentemente, a Alice discordou de mim pois ela acha bom que exista organização, método, planejamento... Independente do sistema pedagógico.

O Ornitorrinco também discordou de mim, para ele o meu comentário é contra a 'educação formal e sistematizada' e a favor do sistema 'comunista construtivista'. Ele usa o PISA para embasar a sua crítica. Posso afirmar junto com ele que os alunos matriculados em Xangai, com 15 anos de idade são melhores em leitura, matemática e ciências que os outros alunos com 15 anos de idade matriculados em outros países que participaram do PISA, mesmo se compararmos com o resto da China e Macau (???). Acho um ponto de vista restrito.

Acho que ai entra o ponto do Rafael. Ele amplia o debate incluindo a "educação sem escola" como um sistema educacional, mas também dá o exemplo de um professor da escola pública no Brasil que utiliza o método de trabalhar em cima do desempenho médio de uma turma.

O interessante é que quando ele escreveu isso, eu não me achei fazendo parte desse grupo, mas agora que começou o segundo ciclo de 3 semanas da francisação, vejo claramente que o sistema utilizado pelo programa é exatamente trabalhar com médias.

Então o programa de francisação contempla o ponto de vista da Alice, pois ele é um programa extremamente organizado, onde sabemos no começo do curso todos os assuntos que serão tratados na semana; o ponto de vista do Ornit, pois eles usam uma pedagogia funcionalista e não construtivista, sem essa de “que cada aluninho é um aluninho individual na sua essencia” e o ponto de vista do Rafael, onde os alunos são tratados pela média e nada de “valorizar o indivíduo”.

O meu problema é quando o professor me obriga a usar um fichário e a organizar os papeis da maneira que ele acha a melhor para todos. Apesar disso me enervar, é ótimo já que na média, as pessoas não sabem fazer isso, independente do sistema pedagógico (lógico que prefiro o 'comunista construtivista').

Na terceira semana de aula, o curso tomou o caminho da média. O professor de fonética está preocupado com os alunos que não conseguem emitir o som (é) e (ê), como os alunos do oriente médio e os hispanofônico. Outro problema é quando usar o verbo “saber” e quando usar o verbo “conhecer” para os anglófonos e os orientais.

O meu problema é que eu não estou na média, sei falar todos os 16 fonemas vocálicos do francês, minha compreensão oral está ótima, sei quando usar o “être” e o “avoir” no passado composto, não preciso do desenho da casinha pra lembrar, mas às vezes esqueço o particípio passado do verbo “vivre”. O problema é que a avaliação é feita apenas no conhecimento escrito da gramática (ou seja, um monte de frases curtas pra preencher as lacunas). Então minha nota cai quando eu não lembro do “vécu” ou escrevo “j'ai pû”.

Então o curso tá tomando um caminho diferente do meu, pretendo continuar até o fim pois estou aprendendo muitas coisas, mas não resolve os meus problemas originais.