No meu post passado eu fiquei devendo alguns comentários (inclusive fora do blog) então resolvi falar da francisação e comentar os assuntos passados, assim eu mato dois coelhos com uma 'caixa d'água' só.
Quero lembrar a todos que não sou da área de pedagogia e depois estou aqui a apenas alguns meses, então todas as minhas percepções serão reformuladas constantemente a medida que minha adaptação ao Québec se consolida.
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Ao fim de um ciclo na francisação (3 semanas), os alunos já sabem os nomes uns dos outros e as relações começam e se estabelecer. Segundo a experiência da Alice, o segundo ciclo deve ser o de consolidação das relações em subgrupos, numa turma com uma vintena de alunos.
Os professores já possuem um perfil de todos e podem trabalhar com suas dificuldades. Professores? Sim professores. Os assuntos são divididos em partes: gramática, comunicação oral, fonética, francês auxiliado por computador... Um professor é responsável pela turma e os outros fazem relatórios para mantê-lo informado.
Ouvi alguns comentários soltos dos professores e conclui que o comentário da Lídia procede quando ela fala da sensação que francisação é um "ôba-ôba vamos fazer amiguinhos", mas os professores sempre comentam que nossa turma é diferente pois não chegamos atrasados, não faltamos e mostramos interesse, mesmo que sempre tem alguém que chega atrasado ou não vai.
Juntando as peças, o que eu acho é o seguinte: o MICC montou uma estrutura para ensinar francês e civismo para os imigrantes, oferecendo um curso de graça; as pessoas faltavam porque não tinham com quem deixar as crianças ou não tinham dinheiro pra passagem, então o governo passou a dar uma ajuda de custo, mas em compensação diminuiu a estrutura; mesmo assim alguns alunos continuavam faltando; então nos últimos anos, teoricamente aumentou o controle em relação aos atrasos/ausências dos alunos, mas provavelmente diminuiu ainda mais a estrutura oferecida.
No final do post passado sobre francisação eu escrevi que "todo mundo tem que ter um fichário" e que "pra mim, quanto mais sistematização imposta, menos criatividade." Provavelmente a palavra 'sistematização' gerou diversas interpretações. Minha intenção não era falar do sistema pedagógico, mas falar que os professores “obrigam” os alunos a seguirem um método de organização dos papéis para tentarem garantir que as pessoas não se percam e que elas estudem.
Aparentemente, a Alice discordou de mim pois ela acha bom que exista organização, método, planejamento... Independente do sistema pedagógico.
O Ornitorrinco também discordou de mim, para ele o meu comentário é contra a 'educação formal e sistematizada' e a favor do sistema 'comunista construtivista'. Ele usa o PISA para embasar a sua crítica. Posso afirmar junto com ele que os alunos matriculados em Xangai, com 15 anos de idade são melhores em leitura, matemática e ciências que os outros alunos com 15 anos de idade matriculados em outros países que participaram do PISA, mesmo se compararmos com o resto da China e Macau (???). Acho um ponto de vista restrito.
Acho que ai entra o ponto do Rafael. Ele amplia o debate incluindo a "educação sem escola" como um sistema educacional, mas também dá o exemplo de um professor da escola pública no Brasil que utiliza o método de trabalhar em cima do desempenho médio de uma turma.
O interessante é que quando ele escreveu isso, eu não me achei fazendo parte desse grupo, mas agora que começou o segundo ciclo de 3 semanas da francisação, vejo claramente que o sistema utilizado pelo programa é exatamente trabalhar com médias.
Então o programa de francisação contempla o ponto de vista da Alice, pois ele é um programa extremamente organizado, onde sabemos no começo do curso todos os assuntos que serão tratados na semana; o ponto de vista do Ornit, pois eles usam uma pedagogia funcionalista e não construtivista, sem essa de “que cada aluninho é um aluninho individual na sua essencia” e o ponto de vista do Rafael, onde os alunos são tratados pela média e nada de “valorizar o indivíduo”.
O meu problema é quando o professor me obriga a usar um fichário e a organizar os papeis da maneira que ele acha a melhor para todos. Apesar disso me enervar, é ótimo já que na média, as pessoas não sabem fazer isso, independente do sistema pedagógico (lógico que prefiro o 'comunista construtivista').
Na terceira semana de aula, o curso tomou o caminho da média. O professor de fonética está preocupado com os alunos que não conseguem emitir o som (é) e (ê), como os alunos do oriente médio e os hispanofônico. Outro problema é quando usar o verbo “saber” e quando usar o verbo “conhecer” para os anglófonos e os orientais.
O meu problema é que eu não estou na média, sei falar todos os 16 fonemas vocálicos do francês, minha compreensão oral está ótima, sei quando usar o “être” e o “avoir” no passado composto, não preciso do desenho da casinha pra lembrar, mas às vezes esqueço o particípio passado do verbo “vivre”. O problema é que a avaliação é feita apenas no conhecimento escrito da gramática (ou seja, um monte de frases curtas pra preencher as lacunas). Então minha nota cai quando eu não lembro do “vécu” ou escrevo “j'ai pû”.
Então o curso tá tomando um caminho diferente do meu, pretendo continuar até o fim pois estou aprendendo muitas coisas, mas não resolve os meus problemas originais.
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