21 de abril de 2011

Francisação - o desafio final

Esse é o último dessa série de quatro posts sobre a francisação. Como o curso tem 30 horas por semana, todos os alunos ficaram de saco cheio nessas últimas semanas e eu vou aproveitar pra fazer um post desabafo.

Alguns comentário pontuais:
  • O Micc prepara um material didático que será usado no curso, tanto de conteúdo da língua quanto de civilização, mas alguns professores preferem usar outras fontes, cópias de gramáticas e outros livros didáticos.
  • Alguns cursos são fruto do convênio do ministério com algumas organizações, como universidades. Esses cursos costumam ser preparados em conjunto e eles podem usar o material do Micc ou não. Alguns acrescentam atividades extra-classe para enriquecer a parte da integração com a sociedade.
  • Algumas pessoas acreditam que um curso é melhor que outro porque é dado em uma determinada instituição ou  por que usa determinado material didático.
O que eu acho é que uma boa francisação depende (1) do professor, (2) do material didático que ele domina e acredita, independente da origem, (3) do objetivo do professor e (4) um aluno que se dá bem com os três pontos anteriores.

O professor da minha turma tem muitos anos de experiência e prefere "construir" um material a partir de cópias de outros livros. Ele fez questão de falar (e muito) como ele tem experiência, como ele entende os imigrantes e sobre sua infância e adolescência... zzzzzzzzz...

Como o tempo foi curto, não aconteceu assim, pois além de termos só onze semanas, o professor ficava o tempo todo falando da própria vida e como ele tem muitos anos de experiência.

Teoricamente estudaríamos as quatro facetas da língua, compreensão e expressão oral e escrita.
  • Compreensão escrita: nunca lemos um texto sequer até o dia da prova final. Alguns alunos disseram que não conseguiram entender o artigo de jornal dado na prova.
  • Compreensão oral: ao final de TODAS as aulas o professor dava a letra de uma música para que acompanhássemos UMA vez, até porque usávamos um toca-fitas, isso mesmo, um toca-fitas... acho que tem alguns leitores que nunca viram um desses.
  • Expressão escrita: além da prova final, só fizemos um texto de 180 palavras.
  • Expressão oral: a turma era dividida em grupos com nacionalidades diferentes e ficavam conversando entre si com o professor assistindo um pouco à cada grupo.
Então o que ficamos fazendo esse tempo todo? Gramática, gramática, gramática... Além dessas quatro horas diárias, tínhamos mais duas horas diárias com outros professores sobre fonética ou introdução a história do Québec ou atividade oral ou perdíamos tempo assistindo vídeos no computador. Digo perdíamos pois as pessoas sentavam na frente da tela, assistiam os vídeos, escreviam qualquer coisa num papel e essas fichas nunca foram corrigias pelo professor, depois em sala ele lia as respostas ou entregava uma cópias com elas.

Mas a nota foi repartida assim:

Interação oral:                  20%
Produção escrita:               5% (meu objetivo era melhorar minha produção escrita)
Verificação de gramática:  15%
Compreensão de texto:    15%
Testes:                             10% (fizemos três testes de verificação de gramática, então seria 10% + 15%???)
Trabalhos:                        15%
Atividade de monitoria:    20% (1/3 do tempo corresponde a 1/5 da nota???)
  
Então dizer se o curso foi bom ou ruim depende de uma série de fatores combinados. Por exemplo o ateliê de história do Québec foi muito esclarecedor para os alunos que imigraram para o outro lado do mundo e não sabiam que o período francês veio antes do período inglês. Que achavam que a lei 101 foi instituída na fundação do Québec. Que ficaram assustadas quando souberam que "o Québec já pensou em se separar do Canada" (sic). Isso por que elas ainda não sabem que já foi proibido falar francês na rua ou o que é "revolução tranquila" pois ficou para o próximo bloco.

Alguns alunos descobriram o que era uma cabane à sucre e estão muito ansiosos pelo próximo bloco onde vão aprender a fazer um CV e como procurar emprego. Outros estão felizes pois disseram que eles vão ler bastante.

Vários alunos sabem conjugar os verbos no imperfeito e no passado composto, mas alguns ainda não sabem quando usá-los. Vários alunos sabem conjugar os verbos no condicional e no subjuntivo, mas "je voudrais qu'ils puissent" usar corretamente essas conjugações.

O que eu sei é que o melhor aluno da turma, isso é, o que sabe mais gramática, não vai fazer o próximo bloco pois ele queria melhorar sua expressão oral e não conseguiu. Ele falou que o curso é muito rápido pra ele e ele não consegue entender tudo que o professor fala. Um outro aluno que tem dificuldades pra emitir alguns sons, terminou o curso falando "ji vudrí" e também não vai fazer o bloco seguinte. Uma colega conseguiu um emprego fora da sua área profissional e descobriu que é capaz de entender os clientes e eles a entendem, então não vai fazer o próximo bloco (pena).

O que eu queria era melhorar minha produção escrita, mas não fizemos um ditado sequer, e escrevemos um só texto que levamos três aulas pra fazermos. Pra mim foi uma experiência interessante sim, mais sociologicamente que linguísticamente. A Alice acha que eu melhorei meu francês, mas eu também acho que eu gastei muita energia pra ter um resultado pequeno.

"À mon avis", acho que existem duas maneiras pra melhorar o francês e depende do seu objetivo. Se você quer aprender gramática, aprender a entrar no mercado de trabalho, melhorar a vocabulário, saber um pouco de história e como as coisas funcionam no Québec, acho que a francisação tem um papel fundamental. Mas se você, assim como eu, só quer melhorar a produção escrita ou a produção oral, quer entrar na universidade antes de começar a trabalhar, acho que é melhor entrar num curso na universidade, seja de língua ou da sua área.

3 comentários:

Anônimo disse...

Suas informações foram bastante válidas, Gato. Pelo que pude perceber, o curso que vai se encaixar nas minhas necessidades vai ser um "Francê escrito" ou algo do gênero, como você sugeriu. Eu já estava desconfiando disso depois de preencher os formulários do BIQ onde eles pedem nosso nível de francês. Pra eles, 200 horas já é considerado Nível 5 numa escala de 12.

Abraços,
Lídia.

Gato de Cheshire disse...

Oi Lídia,

Sim, existe a opção dos cours à temps partiel nas versões "communication orale" e "français écrit" (entre outras) com turmas de 4, 6, 9 ou 12 horas por semana.

Eleanor Rigby disse...

Muito esclarecedor Gato! E é impressionante mesmo o "conhecimento" que alguns tem sobre o Québec!

Um dúvida: como você escolhe o lugar que vai estudar? Você disse que as pessoas pensam que alguns lugares são melhores que outros.

No caso, quem disse isso, acha o que desse curso que você fez?

E você? Vai continuar no bloco 2?

Parabéns pela etapa concluída!
Bisous.

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