Me pediram pra escrever minha impressão sobre a francisação. Então resolvi fazer uma introdução sobre esse assunto, falar sobre algumas coisas que estão no site da imigração Québec no assunto língua francesa e completar com minha opinião, claro.
Fazendo uma rápida revisão sobre a história do Québec e o papel da lingua francesa, temos:
- De 1608 até 1763 ( = 155 anos) o Québec falou francês.
- Em 1763, no acordo entre a França e a Inglaterra, a igreja católica não queria perder seu poder no Québec, então o acordo previa que os francófonos continuariam estudando em escolas francófonas e frequentando igrejas católicas, enquanto os anglófonos estudariam em escola anglófonas e frequentariam igrejas anglicanas.
- De 1763 até 1974 ( = 211 anos) o Québec foi ocupado pelos inglêses e depois diversos outros anglófonos vieram para o Canada, começando pelos americanos leais a Inglaterra (anos 1780-90), depois os irlandeses e os escoceses. Para aumentar o número de anglófonos e diminuir o poder dos francófonos, outros povos vieram para o Canada e aqui podiam inscrever seus filhos em escolas anglófonas, como os italianos, os portugueses, os indianos, os chineses... sem deixar de frequentar a igreja católica, se quisessem.
Mesmo com o número de anglófonos aumentando no Canada, os francófonos do Québec conseguiram manter sua lingua e suas tradições, apesar de serem recriminados.
Em 1793 os textos oficiais passaram a ser escritos nas duas línguas. Em 1837 aconteceu a rebelião dos patriotas, uma espécie de conjuração mineira com a diferença que muitas batalhas aconteceram e muita gente morreu. Em 1889 Henri Bourrasa falava francês na Chambre des communes e alguns deputados anglófonos gritaram: "Speak white" ("parlez blanc" ou "fale branco"). Esse insulto foi usado contra os escravos para que eles não falassem sua lingua original e a partir desse momento foi usado contra os francófonos. Até a revolução tranquila era muito comum ouvir isso em lugares públicos e mesmo depois dela, eventos desse tipo ainda aconteceram, por exemplo em 1999 quando alguém pôs uma bandeira na fronteira entre Québec e Ontário com os dizeres: "From this point speak white!" ("À partir d'ici, parlez blanc" ou "À partir daqui, fale branco").
- Em 1974 o Québec conquistou uma lei que diz que a lingua francesa é a lingua oficial da província, isso é, mais de 200 anos sem poder fala francês em público, mesmo com mais da maioria da população falando francês.
Então quando ouço um brasileiro falando que: "Vou morar em Montréal por que não sei falar francês" penso na história do Québec e penso que é mais um que não fala francês pra contribuir com o projeto de colonização do Canada adotado pelos ingleses.
Voltando ao projeto de imigração, dessa vez do Québec...
Com a revolução tranquila, os estabelecimentos de ensino sairam das mãos da Igreja e passaram a ser administrados pelo Estado. Falar a língua francesa não é só falar uma língua, estimular o aprendizado do francês no Québec é uma política de Estado, não uma ação assistencialista (sei que algumas pessoas que lêem esse blog não conseguem entender a diferença, mas não custa nada tentar).
Existem algumas políticas de estímulo ao aprendizado do francês para não-francófonos. Começando pelo estímulo ao aprendizado da língua no seu pais de origem, curso de francês em linha e o aprendizado do francês no Québec.
"Le gouvernement du Québec accorde une grande importance à l’apprentissage du français."
Existem diversas modalidades de cursos gratuitos de francês para não-francófonos no Québec e em todos ele a intenção náo é apenas ensinar a lingua, mas também a cultura do Québec, facilitando a integração.
Cursos de francês em empresas - Curso de 4 horas por semana, em meio período, oferecido em empresas que contratas imigrantes e em contrapartida recebem dedução no imposto. O Estado paga para a empresa, é do interesse dele.
Centros de autoaprendisagem do francês (CAF) - Em Montréal e em Québec.
Cursos especializados - Cursos variados em tempo parcial como, por exemplo: francês escrito, comunicação oral, para os profissionais da saúde, no domínio da engenharia e das ciências aplicadas.
Por fim, os cursos regulares em tempo parcial ou em tempo completo.
Os cursos regulares em tempo parcial são oferecidos em 4, 6, 9 ou 12 horas por semana em horários variados e duração variados, pois é destinado à pessoas que trabalham, por exemplo. A pessoa inscrita nesse curso pode pedir uma ajuda de custo para creche se ela possue pelo menos um filho com menos de 12 anos ou uma pessoa com deficiência sob sua responsabilidade. Os exilados e os residentes temporários não podem receber esse auxílio. Ela pode receber até 7$ por criança, por dia de formação, que pagaRIA uma creche subsidiada pelo Estado.
Os cursos regulares em tempo completo são de dois tipos: francês para imigrantes adultos (FIA) e francês para imigrantes pouco alfabetizados (FIPA).
O FIA é dividido em 3 blocos (iniciante, intermediário e intermediário (mais avançado)). Cada bloco tem 30 horas/semana e dura 11 semanas, sendo 220 horas de aula e 110 de monitoria (atividades extras, acompanhamento de exercício...).
O FIPA é dividido em 4 blocos de 25 horas/semana de 11 semanas, sendo 220 horas de aula e 55 de monitoria.
Para o FIA, existem três possibilidades de ajuda de custo (aide financière):
- Ajuda de custo de participação - para todos os estudantes, menos para quem recebe seguro desemprego ou outro tipo de subsídio social [não sei bem]. O valor pode variar entre 30$ e 115$ por semana, dependendo da categoria de imigração.
- Ajuda de custo para creche - os requisitos se parecem com os do tempo parcial, mas o valor é no máximo 25$ por dia por criança.
- Ajuda de custo para transporte - destinado aos alunos que moram à mais de 24 km do lugar do curso. O governo paga aproximadamente (???) 0,1050$ por kilômetro que excede os 48km diários.
Como vocês podem ver, algumas pessoas sonham em vir pra cá e viver da "bolsa de francisação". Acho um engano, pois esse dinheiro paga as despesas para que o aluno possa estudar, mas não passa disso.
2 comentários:
Adorei todas as informações.
Não conhecia tantos detalhes a respeito da francisação.
Merci.
diariocanadabrasil.blogspot.com
Olá Diário Canadá Brasil,
Obrigado pelo comentário. Não pensei em escrever sobre a francisação, mas como me pediram pra dar minha opinião (alguém que gosta do meu humor ácido), resolvi acrescentar algumas curiosidades.
De rien.
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