12 de outubro de 2011

01 ano

Esse é um post de comemoração e de despedida.

Hoje fazemos um ano aqui. Há um ano chegamos cheios de desejos que fomos aos poucos os colocando em prática. Fomos caminhando lentamente numas coisas, exageradamente rápido em outras, e assim fomos indo. Parece que agora, um ano depois, chegamos num equilíbrio entre o que foi lento e o que foi rápido, tá tudo no mesmo ponto agora.

Nesse ano tivemos a oportunidade de conhecer gente das mais diversas nacionalidades, desejos e personalidades. Pudemos passear dentro do possível. Estudamos muito e descobrimos mais coisas que não sabemos. Passamos a entender um pouco mais o montréalais, que é diferente do quebecois, que é diferente do canadense.

Decepções? Hmmmm... Talvez confirmações. Confirmamos o que vinhamos desconfiando. Apesar de ser um povo que decidiu romper sua base com a igreja católica, tem só 40 anos essa ruptura, e uma base cultural tão estruturada não se desfaz com tanta facilidade.

Alegrias? Muitas, principalmente por termos conseguido vencer esse primeiro impasse que é o estudo. Não se trata só da língua, mas da metodologia e do ponto de vista. 

Saudades do Brasil? Não, mas da família sim, claro. Saudades intensas? Não vamos exagerar, né?! :p

O Québec é nosso país definitivo? Não faço idéia! *rindo*

Bom, mas nem só de bilan vive esse post! Ele é também um post de despedida. Não escrevo aqui há tanto tempo que nem sei se alguém ainda terá vontade de ler algo. 

Trata-se de uma despedida porque a vida mudou tanto que o blog perdeu seu sentido. Quem sabe um outro, com novos personagens: esquilinhos saltando e roubando abóboras nas varandas decoradas pro halloween?  Quem sabe! :p

Beijos, obrigada pela compania nessa jornada, foi ótimo debater aqui, foi maravilhoso como me irritei e ri e cantei lendo e escrevendo nesse blog! Merci à tous!

Bisous,
Alice, Gato, Ornitorrinco e Selma



3 de agosto de 2011

Ciclovias e divisão social

Andar nas ciclovias da cidade tem nos mostrado melhor as divisões sociais que ela tem.

De uma forma geral, Montréal tem muitas ciclovias e, no Québec inteiro tem a Route Verte, que tem estrutura pros ciclistas cruzarem a província de vélo.

As ciclovias em Montréal são divididas em escalas:
  •  Tem a fodona, que é separada dos carros, tem sinalização específica, o asfalto costuma ser bom... 
  • Tem um outro tipo que não tem separação física da rua, mas sim uma pintura que marca a ciclovia. Essa geralmente é mão única e divide o espaço com os pontos de ônibus. O asfalto varia bastante.
  • Tem as ruas que são partagés entre os carros e as vélos. Geralmente tem uma placa de sinalização que avisa isso, além de uma pintura no asfalto, com o desenho de uma bicicleta. Aí é ter atenção, mas funciona muito bem.
  • Por último, tem as ruas que não tem espeço previsto pras vélos, mas elas andam lá mesmo assim...
Mas, o que tem me impressionado é a diferença da qualidade no asfalto, de acordo com o bairro em que se passe. Essa mudança de asfalto mostra bem a divisão social e o cuidado que a prefeitura tem com isso.

Um ótimo exemplo é sair de outremont, passar por Côte-des-Neiges (CDN) e depois chegar em Notre-Dame-de Grâce (NDG). CDN e NDG fazem parte do mesmo arrondissement, o que significa que possuem a mesma administração regional, supostamente, o mesmo cuidado público. PORÉM, quando você está na ciclovia em CDN (pelo menos a parte que eu andei, veja bem), é tudo esburacado, tem que andar com o bumbum pra cima pra não machucar. Aí, de repente, você atravessa uma rua e tudo começa a ficar bom, o asfalto fica lisiiiinho... Aí você está em NDG.

A diferença entre os dois bairros não está, obviamente, só nas ciclovias. CDN é um bairro super multicultural, de uma população mais pobre. É francófono. É o bairro onde fica a Université de Montréal, por isso tem também muitos estudantes. Já NDG é um bairro bemmm familiar, voltado pra Westmount, com uma maioria de anglófonos gritante. Em NDG tem muita escola particular, várias exclusivamente anglófonas. Por quê juntaram esses dois bairros num único arrondissement não me pergunte, mas o fato é que eles são unidos administrativamente e, no tentanto, recebem atenção bemmmm diferente do poder público.

Um outro exemplo interessante é o arrondissement de Hochelaga-Maisonneuve. Saindo do Plateau, entramos em Ville-Marie e pegamos a Route Verte em direção à Hochelaga-Maisonneuve. Tudo lindo e maravilhoso até que, de repente, você começa a ver a grama suja, com lixo jogado. A paisagem muda radicalmente, você começa a ver fábricas... Aí você sabe que chegou em Hochelaga. Claro que trata-se da borda do bairro, nem vou entrar nessa discussão, mas o que me impressionou foi a diferença de limpeza, suponho que isso mostre a diferença de frequencia em que o poder público envia o serviço de limpeza. É curioso porque a ciclovia é ótima, rodeada de graminhas bem aparadas e árvores que dão uma sombra providencial.

Pra finalizar, tem ainda a Île des Soeurs. Trata-se de um bairro de classe alta, isoladinho por ser uma ilha que não é caminho pra cando nenhum. Lá o asfalto é péssimo, mas além de ter bastante ciclovia, os carros andam extremamente cautelosos, o que permite ao ciclista, ou ao pedestre, a andar tranquilamente sobre as ruas silenciosas. O que é interessante é que esse bairro faz parte do arrondissement de Verdun, que não é tão rico, mas o asfalto e de melhor qualidade. Seria uma prioridade nas ruas mais movimentadas?

Enfim, tudo isso pra dizer que estou ainda tentando entender os códigos daqui. Não dá pra transferir nossos códigos e achar que é a mesma coisa, mas dá pra ficar exercitando a mente até encontrar pontos de ligação.

Bisous,
Alice


1 de agosto de 2011

Eu amo Montréal, de vélo!

É engraçado que não posso escrever um post sobre coisas negativas que logo vem pessoas tensas reclamar. Acho que tá todo mundo tão motivado com o lance da imigração, de achar um lugar melhor pra viver, etc, que falar mal de qualquer coisa vira logo uma tensão... ehehehe

Então esse post é o oposto do anterior, é sobre o que eu gosto nessa época do ano! *rindo*

Há anos eu desisti de andar de bicicleta porque tinha medo. Já fui assaltada enquanto andava de bicicleta! Um amigo do meu pai já foi atropelado e morto... Enfim, andar de bicicleta no Brasil é um  risco que resolvi não correr. MAS, EU NÃO MORO MAIS NO BRASILLLL!!! *rindo*

Basicamente, nossas férias estão baseadas na idéia de andar de vélo. Esse mês não compraremos passe de transporte público e, de preferencia, ficaremos sem ele até o meio de novembro, que é quando fecham as ciclovias.

Temos o cartão anual da Bixi, mas ela simplemente não estava nos atendendo. É uma ótima bicicleta e recomendo. Mas tem que ver a sua rotina. A Bixi é uma bicicleta de ótima qualidade, que custa  cerca de 2400 dólares. Cada pessoa paga pra andar uma vez, um dia ou o ano todo. A chave anual custa 70 dólares. Com essa chave você pega a Bixi em algum dos milhares de pontos da cidade, anda até 45 minutos e depois devolve. 45 minutos em Montréal dá pra cruzar boa parte da cidade (+ ou - do Plateau à NDG).

O que rola é que as pessoas pegam a Bixi e vão trabalhar ou estudar. Tudo perfeito. Acontece que, no meu caso, eu estudo fora do horário padrão e, quando saio da aula às 22hs não tem mais nenhuma bicicleta dando sopa. Ando, ando e ando... Uns 5 pontos depois eu acho alguma, mas aí já estou quase em casa e bem irritada.

Além disso, pra passeios mais longos ela não serve e, como a idéia é passear muito...

Recentemente compramos nossas bicicletas. Começamos uma busca interessante atrás da bicicleta ideal pra nós no momento. Ela não poderia ser cara, mas teria que ter algum conforto pra podermos ficar andando muito tempo, especialmente boas marchas e, pra mim, selim feminino. Aqui o preço pode variar entre 60 e 4000 dólares, dependento do lugar de venda e da qualidade da vélo (cuidado com vélos roubadas!).

Bom, encontramos um lugar que nos deixou extremamente satisfeitos, a SOS Vélo. Trata-se de uma ONG que restaura bicicletas usadas, pega peças boas de bicicletas detonadas e monta uma boa ou, pega só os corpos de alumínio e preenche com peças novas. A idéia da ONG é fornecer bicicletas boas a preços acessíveis, retirar das ruas as bicicletas abandonadas e dar um novo uso a elas e, principalmente, treinar pessoas sem profissão pro metier de manutenção e montagem de bicicletas. 

Compramos com eles a nossa veló. Nossa bicicleta tem um número de série registrado, pra em caso de roubo podermos denunciar. Além disso, como compramos uma vélo feita por eles, temos direto a uma manutençao anual por 30 dólares. Assim nós garantimos a manutenção da vélo e eles garantem clientes pras pessoas formadas ali. Enfim, fica a dica! :)

E assim começamos nossas férias-vélo. Primeiro pegamos a Bixi pra ir até a SOS Vélo, que daqui de casa fica a uns 8km. Já com as bichinhas novas e fofas, voltamos por um outro caminho, testando.

Depois disso fizemos alguns poucos passeios porque estamos deixando o corpo se recuperar, pra ir entrando em forma. 

Primeiro fomos ao Marché Jean Talon (uns 6km), depois fomos pra NDG (uns 9km) e, ontem fomos pra Ile des Soeurs (uns 17km). Cada vez aumentamos um pouco o desafio, a musculatura da perna vai se fortalecendo e o fôlego vai ficando maior. :)

O passeio pra Ile des Soeurs é incrivelmente lindo, vale MUITO à pena!!!!

Põe no maps: Plateau - Île Sainte Héléne - Île Notre-Dame - Île des Soeurs.

Pra chegar na Île Sainte Héléne tem que passar pela Pont Jacques-Cartier e isso foi bem complexo pra mim. Primeiro que é um ladeirão pra subir e depois porque eu morro de medo de altura, então fiquei lá em cima na maior tensão. Mas valeu MUITO à pena pelo passeio na ilha. 

Na Île Notre-Dame tem o Circuite Gilles Villeneuve, que é o circuito da formula 1 que fica aberto pros ciclistas e patinadores de plantão. É uma delícia andar nele porque a pista é bemmm lisinha. 

De lá pra Île des Soeurs, a gente passa sob a Pont Victoria e fica num caminho LINDO, que não passa carros e nem é asfaltado, que divide o Fleuve Saint Laurent com o Canal de la Rive Sud. Nesse caminho passamos também sob a Pont Champlain (cuidado pra ela não cair quando você estiver passando! *rindo), e depois subimos na Estacade (ponte feita pra quebrar/organizar o gelo antes dele passar pela Pont Champlain e que funciona como ponte de pedestres e ciclistas). É lindo ver Montréal da Estacade!

Depois da Estacade chegamos na Île des Soeurs. Na ilha é delicioso andar de bicicleta, silencioso, calmo. Tem um parque no final da ilha que não pode entrar de vélo, mas é bem legal de ir. Basicamente é uma área de proteção ambinetal, com floresta, laguinho... lindo. Depois de descansar, voltamos pelo Canal de Lachine.

Esse percurso até a Ile des Soeurs, mesmo sendo só 17km, fizemos em 2h20. Fomos parando, tirando fotos, bebendo água, olhando a paisagem... Ou seja, dá perfeitamente pra ir, curtir e depois voltar. Na volta, fomos pelo Canal de Lachine, o que reduziu o circuito pra 9km e 1 hora de passeio.

A gente sonhava com esse passeio desde o Brasil. Ficávamos no maps olhando as imagens lindas que ele tem, pensando se um dia conseguiríamos ir lá... É muito gostoso ir realizando esses pequenos desejos e sonhos, que não tem a ver com as coisas grandes da vida, mas com os pequenos prazeres que dão sabor em tudo. :)

Bisous,
Alice

30 de julho de 2011

Eu odeio Montréal, no verão

Eu odeio Montréal no verão. Odeio gente feliz porque tá quente. Odeio que está quente e o sol queima. Odeio o fato desse povo não ter nenhuma intimidade com o calor, então tudo fica um pouco pior: 
  • Eles não sabem fazer um bom café gelado. Geralmente são ruins, aliás, bebidas geladas geralmente são piores que as quentes;
  • As pessoas fedem MUITO. No inverno tem o povo que fede, mas no verão é o TERROR! É quase impossível andar na rua e não sentir aquele cheirinho...
  • O que nos leva ao ponto seguinte: eles não entendem a diferença de higiene do inverno e do verão, logo, trocam de roupa na mesma quantidade que trocavam no inverno, as lavam na mesma frequencia, tomam banho na mesma quantidade. O resultado só pode ser o fedor humano reinando nas ruas...
  • As moças, tão bonitinhas, arrumadinhas, com vestidos floridos... E com o pé de fora com unhas sinistramente não-feitas, meio pretinhas até. Andando como se ainda estivessem com mega botas rompendo 30cm de neve, parecendo uns soldadinhos. Não tem a menor condiçao de lidar com vestidos sem calça por baixo, ficando frequentemente com o bumbum de fora porque a bolsa puxou a saia e elas não viram, ou ainda mostrando até a alma porque sentam de perna aberta...
  • Os moços, tão malhados e produzidos, andando por aí com um fedor insuportável, com calças que precisam desesperadamente de uma máquina de lavar, e sentando em qualquer calçada imunda...
  • Alias, todos mundo tá sentando em qualquer canto, comemorando a vida ao ar-livre, torrando a paciencia de nós, velhos e chatos, que queremos um pouco do silêncio invernal.
  • E ainda tem os músicos de verão! Meu deus, quem deixou esse povo arrumar instrumentos? Sério, a neve vai saindo e os violões começam a "se afinar" nos apartamentos, quando o verão "finalmente" brota, todos vão pras ruas, munidos de seus violões, guitarras e instrumentos de percussão... todos se juntam na rua "pra fazer um som". Alguém explica pra eles que uma música precisa de alguma melodia???
  • Ah! E ainda tem as moças felizes que ficam gargalhando pelas ruas. São gritos altos e estridentes. No começo eu me assustava, achava que a moça tava sendo estuprada, sei lá. Agora descobri que é falta de noção mesmo, é não saber rir...
  • Ah, e os festivais? Sim, tem uns legais, mas pra quem cresceu com Chico Anísio na televisão, ter que ficar passando pelo Juste pour rire é quase uma tortura. Basicamente é a mesma coisa da Escolinha do professor sei lá quem... Sério, nunca entendi essas piadas. Aliás, nunca entendo piadas...
Por essas e outras razões, estou aguardando ansiosamente o outono chegar. As férias terminarão, o calor vai embora, as cores vivas sumirão e virá o lindo avermelhado outonal, as pessoas ficarão menos eufóricas e suas gargalhadas serão mais contidas... *sonhando*